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Harun Farocki: quem é responsável?


Mais sobre a exposição no IMS Rio

Ao longo de sua carreira, o artista e cineasta alemão Harun Farocki (1944-2014) construiu um trabalho politizado, focado em analisar a produção e circulação de imagens na contemporaneidade. Seu trabalho, que ganha ainda mais relevância em tempos de hiperconexão, ficará exposto no IMS Rio entre 16 de março e 30 de junho de 2019. A mostra Harun Farocki: quem é responsável? reunirá 15 obras, entre videoinstalações e filmes, em que o artista reflete sobre o uso de imagens variadas – da fotografia à computação gráfica – em sistemas de observação e controle social. A seleção das obras é de Antje Ehmann, curadora do espólio Harun Farocki, em Berlim, e Heloisa Espada, curadora da equipe do IMS.

A exposição apresenta um apanhado da produção de Farocki desde o início de sua carreira, em 1964, até o seu falecimento, em 2014. Para Heloisa Espada, “os filmes-ensaios de Farocki têm se mostrado surpreendentemente atuais, sobretudo em sua crítica às fronteiras pouco nítidas entre ficção e realidade que caracterizam as mídias digitais. Isso torna muito pertinente apresentá-los no Brasil hoje.”

Com mais de 100 filmes e vídeos em seu currículo, o artista foi bastante influenciado pelas discussões políticas que marcaram o fim dos anos 1960. Testemunha da Guerra do Vietnã e dos protestos estudantis do período, foi um ferrenho crítico da indústria cultural, defendendo, junto a Jean Luc-Godard e outros de sua geração, um cinema ativista de conteúdo político. A partir da década de 1990, começou a expor seus trabalhos em museus e galerias, tornando-se um nome de referência no campo da videoarte.

Um dos destaques da mostra é a videoinstalação Contramúsica (2004), apresentada pela primeira vez no Brasil, que aborda aparatos de monitoramento nas cidades contemporâneas. Na visão do artista, “a cidade hoje é tão racionalizada e regulada quanto um processo de produção. As imagens que hoje determinam o dia a dia da cidade são imagens de controle”. Na obra, registros de câmeras de segurança são confrontados com cenas dos filmes Um homem com uma câmera, de Dziga Vertov, e Berlim, sinfonia da metrópole, de Walter Ruttmann.

Paralelo I, 2012. Videoinstalação, 16' © Harun Farocki GbR

Outro destaque é a videoinstalação formada pela série de filmes Paralelo I, II, III e IV, última obra de Farocki, iniciada em 2012 e concluída em 2014. Nela, o artista reflete sobre o hiper-realismo alcançado pela computação gráfica em jogos eletrônicos e sobre o protagonismo da violência nos games. Ele analisa a evolução técnica das animações desde os primeiros jogos, criados nos anos 1980, para em seguida questionar a artificialidade das imagens digitais e seu lugar na história do cinema: “Talvez as imagens de computador assumirão funções previamente desempenhadas pelos filmes. Talvez isso libere os filmes para outras funções”, pondera a voz da narradora.

As relações entre a indústria cultural e a indústria de guerra são tema de Jogos sérios I-IV (2009-2010), videoinstalação que retrata o uso de videogames e animações computadorizadas no treinamento de soldados americanos para lutar nas guerras do Afeganistão e do Iraque. As seções de treinamento foram registradas por Farocki na Marine Corps Base 29 Palms, na Califórnia, EUA, em 2009. A obra aborda também a combinação entre computação gráfica e realidade virtual em programas utilizados pelas Forças Armadas americanas em sessões de terapia de veteranos de guerra com estresse pós-traumático. No trabalho, o artista analisa a violência que há por trás dessas imagens, além do processo de construção da memória da guerra.

Interface, 1995. Videoinstalação, 23' © Harun Farocki GbR

A seleção ainda inclui Interface (1995), a primeira instalação feita por Farocki para uma exposição de artes visuais, e o vídeo (In)Formação (2005), também inédito no Brasil, no qual o artista analisa a representação da figura do imigrante ao longo da história da Alemanha. Nela, por meio de diagramas e pictogramas retirados de jornais, livros e publicações oficiais, Farocki destrincha a criação de estereótipos relacionados a estrangeiros e a construção da figura do outro, tema sensível no contexto contemporâneo.

Em setembro, Harun Farocki: quem é responsável? será apresentada no IMS Paulista, com obras distintas. Ao todo, as mostras do Rio de Janeiro e de São Paulo constituem a maior exibição de videoinstalações de Harun Farocki já apresentada no Brasil.


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