Leonardo Lichote

Em Mart’nália, Martinho da Vila vem no sangue – o que é inegável na voz (“um pouco dele, um pouco da minha mãe, Dona Anália, que também é cantora”).

Mas Martinho da Vila também foi se construindo em Mart’nália ao longo das últimas décadas, em todas as vezes em que ela o ouvia no rádio e nos discos, assim como na intimidade do palco (a cantora foi vocalista e percussionista na banda do pai por anos) ou de casa.

"As primeiras lembranças que tenho do meu pai é cantando. Ele tem mania de andar fazendo as músicas dele, assoviando. Lembro muito dele assim, de cueca ou short, sem camisa, andando pela casa de madrugada e assoviando as canções, os sambas enredos” – conta Mart’nália.

É esse Martinho em Mart’nália – em seu sangue, sua memória – que será evocado no show que a cantora faz no Instituto Moreira Salles no domingo, 16 de fevereiro, às 17h, pela série “Música no jardim”. Com o repertório de clássicos compostos (ou consagrados) pelo pai, Mart’nália celebra sua própria história, a obra de Martinho e um belo pedaço da própria trajetória do samba. Porque sua casa é casa de bamba.

“Clara Nunes, Dona Ivone, Clementina, Candeia… Pra mim todas essas pessoas eram tios e tias. Todos dentro de casa, comemorando alguma coisa ou simplesmente fazendo samba. Cresci assim.”

Ao lado de Macaco Branco (percussão), Humberto Mirabelli (violão) e Ivan Machado (baixo), Mart’nália mostrará no jardim do IMS os batuques, gingas e melodias que trazem na veia a marca da família.

“Costumo dizer que quem ama meu pai me ganha de lambuja. E se não gosta dele, melhor nem olhar pra mim, não precisa gostar de mim não.”

A fala reta de Mart’nália se apoia e se amacia em seu sorriso constante – encontro de convicção e cintura que é síntese do melhor samba, e é de nada menos que isso que se trata esse fim de tarde de domingo. De cantar forte, alto, que a vida vai melhorar.

Leonardo Lichote é jornalista, curador e idealizador do projeto 'Música no Jardim'

Macaco Branco (percussão)
Humberto Mirabelli (violão)
Ivan Machado (baixo)

"Tom maior" (Martinho da Vila)
"Viajando" (Martinho da Vila)
"Nas águas de Amaralina" (Martinho da Vila/ Nelson Rufino)
"Tudo menos amor" (Monarco/ Walter Rosa)
"Ex-amor" (Martinho da Vila)
"Disritmia" (Martinho da Vila)
"Mulheres" (Toninho Geraes)
"Meu laiá-raiá" (Martinho da Vila)
"Quem é do mar não enjoa" (Martinho da Vila)
"O pequeno burguês" (Martinho da Vila)
"Canta, canta minha gente" (Martinho da Vila)
"Casa de bamba" (Martinho da Vila)
"Segure tudo" (Martinho da Vila)
"Nhem, nhem, nhem" (Martinho da Vila/ Cabana)
"Roda ciranda" (Martinho da Vila)
"Madalena do Jucu" (Tradicional / Adapt. Martinho da Vila)
"Kizomba - Festa da raça" (Rodolpho/ Jonas/ Luiz Carlos da Vila)

Quando
16 de fevereiro de 2020, domingo, às 17h

Entrada gratuita. Evento sujeito à lotação do espaço.
Ordem de chegada, sem distribuição de senhas.

Em caso de chuva o evento será adiado e uma nova data será divulgada.

A série de shows gratuitos ao ar livre no IMS Rio, com curadoria e idealização do jornalista Leonardo Lichote, prevê seis apresentações ao longo de 2020, sempre às 17h. A idéia é trazer artistas de diferentes gerações para traçar um panorama afetivo da história da Música Popular Brasileira.

Será sempre uma visita de um artista à obra de outro – como diálogo, como tributo, como desafio. O jardim do Instituto Moreira Salles servindo de palco às releituras inéditas – ou já lapidadas pela intimidade do intérprete com o repertório. Surpresa e celebração. Criação e memória.

O formato dos shows pode ir do voz-e-violão até o quarteto eletrificados, sempre levando em conta as dimensões e características intimistas do espaço que combina o paisagismo de Roberto Burle Marx com a arquitetura moderna de Olavo Redig de Campos.