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Highcliffe Album


Apresentação

Aplicado, Landseer colocaria em prática seu talento lapidado na Real Academia de Belas-Artes ainda a bordo do HMS Wellesley, a caminho do Rio de Janeiro. Ali, traçou retratos do chefe, sir Charles Stuart, de outros membros da comitiva e de tripulantes, como o secretário lorde Marcus Hill, o tenente-coronel Freemantle, o major Gurwood, o cirurgião Ridgway e o botânico William John Burchell. Nas escalas em Lisboa (onde passou dois meses e produziu mais de 90 desenhos e aquarelas), na ilha da Madeira e em Tenerife, demonstrou interesse principalmente por conjuntos arquitetônicos, mas também registrou paisagens, o povo local e chegou a fazer quatro esboços do rei d. João VI.

Foi no Brasil, no entanto, que Landseer concentrou seus esforços. A partir da chegada do Wellesley no Rio de Janeiro, em 17 de julho de 1825, registrada em desenho, o artista produziria mais de cem desenhos e aquarelas na cidade, onde passou quatro meses. Outros artistas britânicos haviam visitado o Rio antes dele, mas eram amadores. Landseer foi o segundo profissional – depois de Augustus Earle – a documentar a cidade. E o fez com sensibilidade e técnica. Bom observador e narrador, compôs, com imagens, pequenas crônicas dos trópicos, seus modos e costumes.

Não lhe passaram despercebidos os monumentos, as praças, os conjuntos arquitetônicos, mas encantou-se mesmo foi com a exuberância da natureza. Estão lá, no Highcliffe Album, em preto e branco e em cor, o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Pedra da Gávea, Copacabana, a lagoa Rodrigo de Freitas, a flora da Mata Atlântica. Landseer também cumpriu com afinco a tarefa protocolar de retratar o imperador dom Pedro e a imperatriz dona Leopoldina, mas, mais do que a pompa dos palácios, o que realmente lhe causou um forte impacto foi o contato com a escravidão. E, ao modo de Jean-Baptiste Debret, dedicou aos escravos uma grande quantidade de seus desenhos e aquarelas.

A missão não se limitou a uma visita ao Rio de Janeiro. De novembro de 1825 a abril de 1826, agora a bordo do Diamond, Landseer viajou com Charles Stuart a Pernambuco, Bahia, Santa Catarina (então Desterro), Santos, São Paulo e Espírito Santo, onde retratou indígenas pela primeira vez. O retorno à Inglaterra teria escala nos Açores, além de Lisboa, sendo a chegada a St. Ann’s Head, em Milford Haven, no final de setembro, devidamente registrada pelo artista, como um carimbo de missão cumprida.

Apesar de jovem e pouco experiente em trabalho de campo, Charles Landseer produziu, durante a missão Stuart, desenhos e aquarelas de alta qualidade e de grande valor iconográfico. Ele pode ser incluído entre os artistas mais importantes a registrar o Brasil no início do século XIX, nas duas décadas que se seguiram à transferência da corte portuguesa para o país. Os trabalhos reunidos no Highcliffe Album podem ser comparados à obra de artistas como Nicolas Antoine Taunay, Thomas Ender, o alemão Johann Moritz Rugendas e outros artistas britânicos menos conhecidos, em especial Augustus Earle e o botânico William John Burchell, companheiro de Landseer na missão Stuart.

Embora tenha sido suplantado em fama pelos irmãos, o aclamado pintor Edwin e o gravurista Thomas, Charles Landseer desfrutou de uma carreira bem-sucedida por mais de 50 anos, aposentando-se como diretor da escola da Academia Real e expondo em instituições britânicas prestigiosas. Ainda hoje, seu trabalho pode ser visto na Academia Real, no museu Victoria & Albert, na National Portrait Gallery, no Museu Britânico e na Tate Britain, em Londres, na Walker Art Gallery, em Liverpool, e em outros museus regionais da Inglaterra.

Até a sua morte, em 22 de agosto de 1879, aos 79 anos de idade, expôs mais de 120 obras, entre elas os cinco quadros com temas brasileiros e portugueses resultantes da viagem ao Brasil. Essas seriam as únicas pinturas a óleo baseadas nos desenhos feitos durante a missão Stuart, já que, de volta à Inglaterra, o chefe da missão insistiu em manter sob sua guarda os cadernos do jovem artista.

Charles Stuart mandou construir um castelo em Highcliffe, na costa sul da Inglaterra, para onde se mudou em 1835, levando consigo os desenhos de Landseer. Quase um século depois, em 24 de dezembro de 1924, um de seus descendentes permitiu o acesso do historiador brasileiro Alberto do Rêgo Rangel aos documentos de Stuart. Rangel encontrou ali, praticamente intocado, desconhecido pelos herdeiros de Stuart, o caderno Voyage to the Brazils 1825-26 (Viagem aos Brasis 1825-26), encadernado em couro, medindo cerca de 50 x 60 cm, com 125 páginas, contendo por volta de 340 desenhos a lápis, bico de pena e carvão, além de aquarelas.

Junto ao caderno, havia, além dos 306 registros de autoria de Landseer, um retrato seu feito por William Burchell, quatro aquarelas do Rio de Janeiro, cinco de Santos e nove de São Paulo, Cubatão e São Bernardo, atribuídas a Burchell, duas paisagens do Rio atribuídas ao artista britânico amador Henry Chamberlain, e 13 aquarelas de escravos no Rio atribuídas a Debret.

O caderno, que então passou a ser chamado de Highcliffe Album, foi comprado em setembro de 1926 pelo empresário e colecionador carioca Guilherme Guinle, que, em 1960, presenteou com ele seu sobrinho, o banqueiro Cândido Guinle de Paula Machado. Em 1997, a família Paula Machado decidiu vender o Highcliffe Album, exceto dois desenhos: Merchant of St. Paul and Minas resting in rancho(Mercador de São Paulo e Minas descansando em rancho) e Cabeça de negro. Depois de exposto em São Paulo e no Rio de Janeiro, o álbum foi a leilão na Christie’s, em 1999, quando foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles.

Em janeiro de 2010, o IMS expôs, pela primeira vez, em seu centro cultural no Rio de Janeiro, aproximadamente metade das aquarelas e dos desenhos de Landseer feitos em Portugal e no Brasil. Um livro com reproduções de quase todas as imagens do Highcliffe Album acompanhou a mostra, que atraiu aproximadamente 13 mil visitantes. No ano seguinte, a exposição se estendeu aos centros culturais do IMS em São Paulo e Poços de Caldas e, em setembro de 2012, a mesma exposição, acrescida de um maior número de representações de Portugal, foi exibida em Cascais, na Fundação D. Luís I, como parte das comemorações do ano do Brasil em Portugal.

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