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Walther Moreira Salles: 1961-1970

1961

- Nomeado pelo presidente Jânio Quadros para o posto de enviado extraordinário do Brasil em Washington para a renegociação da dívida externa.

Walther sugeriu que ele ficaria encarregado das negociações com o governo e bancos norte-americanos, e Roberto Campos cuidaria dos governos e bancos europeus. Ambas as missões tiveram êxito, sendo por muito tempo considerada uma das melhores negociações da dívida externa brasileira.

- Indicado ministro da Fazenda no governo parlamentarista de João Goulart.

Nos dois gabinetes de que participou (de Tancredo Neves e de Brochado da Rocha), ele representava, para o mercado financeiro e para os governos norte-americano e europeus, uma garantia de boa condução da política monetária e fiscal. Embora destoasse do perfil do governo, e apesar da desconfiança de alguns setores por seus vínculos com o capital norte-americano, manteve-se no cargo de setembro de 1961 a junho de 1962, período em que tentou impor uma política anti-inflacionária e procedeu a uma nova renegociação da dívida externa.

1962

- João Moreira Salles, filho caçula de Walther e Elisa, nasce no Rio de Janeiro, no dia 27 de março.

1964

- A família Moreira Salles muda-se para Paris.

Ele havia sido indicado embaixador junto à Comunidade Europeia, e a família encontrava-se em Paris quando ocorreu o golpe militar. Abriu mão do posto, mas, receoso de represálias dos militares por ter sido ministro de João Goulart, decidiu manter a família em seu apartamento na Avenue Foch. Não houve punição, graças à mediação de membros da família de Elisa, que tinha relações próximas com o marechal Castelo Branco. Mais tarde, no governo do marechal Costa e Silva, voltou a ser ameaçado. Ao ser consultado sobre as consequências de uma eventual cassação de seus direitos políticos, o então ministro Delfim Neto ponderou que elas seriam imensas, com o repúdio dos principais banqueiros internacionais e das autoridades financeiras norte-americanas. O governo recuou.

Por muitos anos a família se dividiu entre residências no Rio de Janeiro e em Paris.

1965

- O Grupo Moreira Salles adquire a participação brasileira na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).

A CBMM viria a ser a maior produtora mundial de nióbio, metal de alto valor e essencial na fabricação de aços especiais. De início, a Molycorp (a sócia americana) detinha 49,5 % do capital e o Grupo Moreira Salles, 50,5%. A trajetória que culminou no controle total da empresa levou muitos anos e exigiu uma estratégia política, econômica e tecnológica, em que ficou demonstrada toda a maestria de Walther Moreira Salles como empresário. Empenhou-se pessoalmente na contratação de pesquisas em universidades norte-americanas, em negociações com o governo mineiro pela concessão dos direitos da jazida em Araxá, na realização de inteligentes ações de publicidade e de divulgação, propagando a legitimidade do negócio. Enfrentou a resistência de setores nacionalistas e estatizantes, mas o resultado foi uma empresa brasileira exemplar com domínio do mercado internacional de um bem de importância estratégica.

1966

- É criado o Banco de Investimento do Brasil (BIB).

O BIB foi consequência da reforma do mercado de capitais promovida no governo Castelo Branco, que criou novas instituições e impôs novas regras. Como banco de investimento, seu objetivo era realizar operações de participação societária, de suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Constituído num momento de grande necessidade de mecanismos de financiamento de médio prazo e com constituição societária e gerencial especialmente adequada, o BIB teve uma grande expansão desde que foi criado.

Em sua origem, o BIB teve a participação da Deltec, empresa americana pioneira no mercado acionário brasileiro, e da Ibec, empresa do grupo Rockefeller. Em 1968, ambas venderam suas posições e o BIB passou a ser integralmente controlado pelo Grupo Moreira Salles.

A constituição do BIB mostra uma das estratégias de Walther Moreira Salles: preferia se associar a empresas de destaque no ramo, ao invés de começar sozinho um negócio novo. A consolidação do banco mostra outra estratégia: a movimentação de dirigentes para posições em diferentes empresas do grupo. O BIB foi um celeiro de quadros. Certa feita, perguntado sobre o segredo de seu sucesso nos negócios, ele respondeu: “Só um: saber escolher pessoas.”

1967

- Criação da União de Bancos Brasileiros (UBB), fusão do Banco Moreira Salles com o Banco Agrícola Mercantil (Agrimer).

Havia muito que se via no Brasil uma tendência à concentração bancária, num movimento próprio do mercado que iria se acelerar a partir de 1967, quando passou a ser política de governo. O Banco Moreira Salles já se juntara a esse movimento ao adquirir, em 1955, o controle do Banco do Comércio S.A., mas a fusão com o Agrimer (na prática, uma incorporação) teve significado muito maior: tratava-se de um banco importante, com 135 agências concentradas no Rio Grande do Sul, e, da fusão, resultou o segundo maior banco privado do Brasil, que passou a ser denominado União de Bancos Brasileiros.

1968

- João Theotônio Moreira Salles morre, de enfarte, em São Paulo, no dia 2 de março de 1968.

- Walther Moreira Salles é eleito presidente da União de Bancos Brasileiros.

- É eleito presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), reeleito em 1971.

Assumiu o MAM-Rio em meio a uma grave crise financeira da entidade e mobilizou membros da diretoria do banco para apoiá-lo na recuperação. Presidiu o museu até 1974, deixando as finanças saneadas.

- O BIB incorpora a Codival, a Ibec, a Deltec e a Credibrás.

O grupo Rockefeller tinha importante participação no controle acionário de algumas das empresas incorporadas. Com a transação, o Grupo Moreira Salles adquiriu o controle absoluto do banco de investimento. A operação chamou a atenção por um grupo brasileiro ter comprado a posição de Rockefeller.

1969

- É constituída a Unipar (União de Indústria Petroquímica S. A.).

A Unipar, uma holding que articulava diversas plantas situadas em diferentes posições na cadeia de refino e processamento de petróleo, se inseria no esforço de criar no Brasil uma indústria petroquímica. Reunindo também o grupo carioca Soares Sampaio e a Petrobras, a Unipar contava com financiamento do Banco Mundial. Era um negócio tão vultoso (só a Petroquímica União demandava US$ 110 milhões) que foi necessário inovar na forma de integralizar o capital: foi quando José Luiz Bulhões Pedreira, conselheiro jurídico do grupo, propôs as inovadoras “debêntures conversíveis”, títulos de dívida que poderiam ser transformados em ações. Em 1974 o grupo já havia se desfeito de suas posições nesse setor

- O Grupo Moreira Salles adquire participação importante na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.

Uma das maiores empresas privadas de siderurugia no Brasil, a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira tinha como um de seus principais acionistas o príncipe Charles de Luxemburgo. Alcançar uma posição importante no controle acionário exigiu negociações complexas: Walther Moreira Salles chegou a ser cônsul-geral de Luxemburgo no Brasil.

- É nomeado presidente do Comitê Nacional Pró-Seleção Brasileira.

Comandou a campanha de arrecadação de fundos para a participação da seleção brasileira de futebol na Copa de 1970, no México, arregimentando empresários, mobilizando o público e envolvendo a UBB. Contrariando seu comportamento avesso a exposições públicas, saiu das páginas de economia e passou para as de esportes.

1970

- A União de Bancos Brasileiros e o Banco Português do Atlântico firmam protocolo de reciprocidade e participação acionária.

A associação é um importante movimento do Grupo para se aproximar de capitais europeus.

- A União de Bancos Brasileiros incorpora o Banco Predial do Estado do Rio de Janeiro.

A incorporação fazia parte do movimento de concentração bancária e acrescentou 108 novas agências, concentradas no Rio de Janeiro, à UBB,  aumentando o alcance popular da instituição.

- É eleito primeiro presidente do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

O Ibmec foi criado com o propósito de formar mão de obra qualificada para um mercado de capitais que passava por uma profunda transformação e sofisticação. Permaneceria na presidência do instituto até 1972.

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