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A fotografia em movimento

2 DE SETEMBRO DE 2019 |

Antes de mais nada, em novembro de 2014, Lauro Escorel tinha na cabeça o que na época definiu para o amigo José Carlos Avellar como “uma ideia meio maluca para um documentário”. Queria levar para o cinema a história da fotografia no Brasil, cruzando o universo pessoal e a trajetória profissional de uma turma que vai de Marc Ferrez (1843-1923) a José Medeiros (1921-1990). Criar, enfim, pontos de identificação entre esses artistas que, com uma câmera na mão, ajudaram a construir a imagem do País para o mundo e para os próprios brasileiros, entre a segunda metade do século XIX e meados do século XX. Não é pouca coisa.
 

Abertura de Itinerários do olhar, série documental de Lauro Escorel

 
Quase cinco anos depois de procurar conselhos sobre a viabilidade de seu projeto ambicioso com o Avellar – crítico de cinema, na época coordenador de área no Instituto Moreira Salles –, Lauro Escorel mostra aos assinantes do Canal Brasil neste setembro de 2019 (veja datas e horários no pé do post) os cinco episódios de sua série documental Itinerários do olhar. É o desfecho de um longo processo de criação que rendeu pelo caminho o curta metragem Improvável encontro (já exibido nos cinemas do IMS) e o longa Fotografação, apresentado fora de concurso no festival É tudo verdade de 2019 e que, pode-se dizer, condensa e ao mesmo tempo dá origem à saborosa narrativa pessoal da série de TV que estreia nesta segunda-feira (2/09).
Quem nasceu primeiro foi o curta Improvável encontro, gestado naquele papo com o Avellar, assim descrito em texto de Lauro Escorel para o Blog do IMS, dias após a morte do parceiro, em março de 2016:
 

“Percebendo a dimensão do que eu pretendia (...), ele me sugeriu (...): ‘Por que não fazes um ensaio, um pequeno filme onde você possa testar a ideia?’ (...) A certa altura, despretensiosamente, Avellar mencionou o nome do fotógrafo José Medeiros, apontando alguns aspectos da sua trajetória que vinham de encontro ao que eu buscava, e naquele momento o filme começou a se concretizar.”

 

Retrato dos dois fotógrafos da cintura para cima. Eles seguram câmeras e estão de costas um para o outro. Farkas está à esquerda, Medeiros à direita.
Thomaz Farkas e José Medeiros / Coleção João Farkas

 
José Medeiros & Thomaz Farkas, protagonistas de Improvável encontro, saíram do acervo do IMS para as telas de cinema se apresentando na primeira pessoa, fio condutor narrativo que, aprovado no “ensaio”, se reproduz em toda a série de TV, com impagável trilha sonora do músico Zé Nogueira. O próprio curta inaugural do projeto (dedicado “à memória de José Carlos Avellar”) virou um dos episódios de Itinerários do olhar, que em seus episódios estabelece relações distintas entre outros quatro pares de fotógrafos: Insley Pacheco & Marc Ferrez (com participação especial de D. Pedro II), Valério Vieira & Vicenzo Pastore, Alice Brill & Hildegard Rosenthal, Marcel Gautherot & Pierre Verger. Desta seleção, apenas Verger e Valério não integram o acervo de Fotografia do IMS.

Entre o curta Improvável encontro e a série documental Itinerários do olhar, Lauro Escorel realizou Fotografação, ainda sem data de estreia nos cinemas. No longa, a narrativa pessoal é transferida para o próprio diretor, que assume com os fotógrafos históricos o protagonismo da cena. Formado a partir da convivência com José Medeiros e Luiz Carlos Barreto em set de Glauber Rocha, o documentarista de 69 anos que chegou ao cinema ainda secundarista como still de Terra em Transe reflete sobre a mudança de significado no ato de fotografar nos dias de hoje: “Fotografar agora parece estar ligado a se mostrar, postar na rede e talvez lembrar. Não é mais sobre a imagem, sobre a ideia de captar um momento único, um quadro, uma composição. Agora todos querem estar em cena compartilhando qualquer momento de suas vidas.”
 

Três pessoas aparecem na imagem, todas estão sentadas. No lado esquerdo, o cameraman e Lauro Escorel olham para Maureen Bisilliat, que está do lado direito. No fundo, uma mesa de madeira com computador, telefone e outros objetos.
Lauro Escorel entrevista a fotógrafa Maureen Bisilliat. Foto: Divulgação

 
Parece um discurso nostálgico, só que não. Após 1h15 de viagem panorâmica pela história da criação de imagens no Brasil – no longa, além dos artistas escolhidos para a série de TV, Lauro visita, entre outros, Augusto Stahl, Maureen Bisilliat, Augusto Malta e o modernista Mário de Andrade, criador da expressão Fotografação –, o documentário traz uma mensagem otimista de seu realizador sobre a multiplicação de olhares na era digital: “Na espontaneidade dessas imagens, encontro novas formas de enquadrar e de captar luzes e cores. Vejo um novo país se revelando em toda a sua diversidade.”

Responsável pela criação e direção de todo o projeto (curta, longa e série), Lauro não é cineasta estreante (leia entrevista abaixo), mas foi na condição de diretor de fotografia que se consagrou no métier, assinando como tal uma série de clássicos da filmografia brasileira: São Bernardo (Leon Hirszman), Bye bye Brasil (Cacá Diegues), Toda nudez será castigada (Arnaldo Jabor).... A fotografia de Ironweed (Hector Babenco), rodado nos EUA, rendeu-lhe alguns anos de trabalho no cinema norte-americano e vaga entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Filho de diplomata, nascido em Washington D.C., Lauro teve na carreira, além do empurrão do irmão cinemanovista Eduardo Escorel (“O Glauber está filmando ali na esquina, porque você não vai lá e faz umas fotos”), mestres consagrados na fotografia de cinema. Aprendeu o ofício com profissionais da grandeza de Dib Lutfi, Affonso Beato, Mário Carneiro e Fernando Duarte. Com o passar do tempo, foi se dando conta da ligação que se criara entre seu trabalho no cinema e as imagens registradas pelos fotógrafos que atuaram no Brasil no começo de tudo. “Passei a buscar conexões entre fotógrafos”, explica o narrador de Fotografação, “e esta busca é o ponto de partida deste filme”, dedicado “para os que olham pelo nosso país”. Em todos os sentidos.
 

O retratado olha para a câmera, o fundo está desfocado. Usa barba e um casaco cinza escuro com zíper e gola levantada.
O fotógrafo e documentarista Lauro Escorel. Foto: Divulgação

Entrevista com Lauro Escorel

 

– Esse Lauro Escorel documentarista de seu próprio ofício de origem passa a existir em que circunstâncias?

R – Na realidade, sempre trabalhei com documentários, inicialmente com fotografia e em seguida como diretor. Nos anos 1960/70 participei da equipe de fotografia da Caravana Farkas e dirigi alguns documentários, como Teatro de la Calle (1974) e Libertários (1977). Libertários foi realizado junto ao arquivo Edgard Leuenroth [jornalista e tipógrafo brasileiro responsável direto pela constituição de um dos maiores acervos existentes sobre a memória dos movimentos operário e anarquista na vidada para o século XX, hoje sob os cuidados da Unicamp]. Acho que ali descobri a importância e a beleza de pesquisar imagens da nossa história.

– ‘Improvável Encontro’, ‘Fotografação’ e ‘Itinerários do Olhar’ – um foi levando ao outro ou são partes da mesma coisa?

R – Foi do desejo de mostrar a um público mais amplo as belas imagens guardadas nos principais acervos do país que nasceu a ideia de fazer um documentário sobre a história da nossa fotografia. A reconhecida importância do acervo fotográfico do IMS me levou a procurar o José Carlos Avellar [na época, coordenador da área de Cinema do instituto], a quem expus meu projeto. Ele foi extremamente receptivo e se dispôs a me ajudar. Sugeriu que eu testasse a ideia em um curta-metragem e foi assim que nasceu Improvável Encontro. Quando o filme ficou pronto, alguns amigos sugeriram a série e outros comentaram que sentiam falta da minha presença no filme.  Foi a partir dessas conversas, que minha produtora Zita Carvalhosa e eu estruturamos dois projetos que são de certa forma complementares,  a série que o Canal Brasil programou para este setembro (Itinerários do Olhar) e o longa-metragem Fotografação, exibido fora de concurso no festival É tudo verdade, mas ainda sem data de estreia nos cinemas.
 

As estruturas dos prédios aparecem envoltas no que parece ser fumaça. Trabalhadores estão num plano à frente, envolvidos com suas atividades.
Esplanada dos Ministérios em construção, 1959. Brasília, DF. Foto de Marcel Gautherot / Acervo IMS

 
– Não são filmes de fotógrafo para fotógrafos. Pelo contrário, há sempre na narrativa uma generosidade didática evidente sobre os “biografados”. Você se preocupou com isso especialmente na série de TV?

R – Nesta época em que vivemos submergidos em imagens de todo tipo, acho importante valorizar os fotógrafos que nos ajudaram a construir a imagem do país que trazemos conosco, a partir de um olhar humanista, valorizando a diversidade do nosso DNA de nação. Isso é memória, história de interesse do público em geral. A série foi pensada dessa maneira, motivada pela vontade de estabelecer uma conexão entre o público e aqueles artistas, sua época e nosso país. Como uma forma de pensarmos o tempo presente a partir desse mergulho nas imagens do passado.

– Para a série de TV, você elegeu e dividiu em duplas 10 protagonistas da invenção e formação da fotografia no Brasil. Chegou a trabalhar com um número maior de possibilidades? Foi difícil resumir a dezena os artistas dessa história?

R – O formato baseado no diálogo entre dois fotógrafos foi escolhido para o programa a partir do curta Improvável encontro­, reunindo Thomaz Farkas e José Medeiros.  Em alguns períodos apareceram mais de duas possibilidades de personagens e tive de optar para manter a coerência da proposta. Só no primeiro capítulo mudei um pouco isso ao fazer com que o diálogo entre Marc Ferrez e Insley Pacheco passasse pela relação com o Imperador D. Pedro II. Havia algumas outras duplas possíveis, mas as escolhas foram acontecendo também em função da busca por uma articulação temática e temporal entre os episódios. Pensei muito, por exemplo, em dedicar um episódio ao Foto Cine Clube Bandeirante, mas optei por deixar isso para outra ocasião.

– Essa história, então, ainda continua.

R – Certamente existem muitos novos capítulos merecedores da atenção dos documentaristas. Os últimos 50 anos da história da fotografia no Brasil são riquíssimos e estão ainda por ser contados. Fiz recortes pessoais de algo muito amplo. Não havia como contemplar a todos os maravilhosos fotógrafos que já tivemos. Em tempo, cheguei à seleção dos nomes em função dos acervos fotográficos que me foram disponibilizados e dos estudos já realizados pelos pesquisadores da nossa fotografia. Para eleger os dez protagonistas da série, foram fundamentais as conversas que tive com Rubens Fernandes Jr, Milton Guran, Pedro Vasquez, Maria Ignez Turazzi, Helouise Costa, Heloísa Espada e Boris Kossoy. A partir dai as escolhas dos personagens aconteceram naturalmente.
 

O fotógrafo está sorridente, de braços cruzados, sentado num banco. Ele usa óculos, tem barba e está vestindo um terno de tecido listrado.
Autorretrato de Marc Ferrez, 1905. Rio de Janeiro, RJ. Coleção Gilberto Ferrez / Acervo IMS

 
– O que foi mais decisivo nessas escolhas?

R – A primeira coisa que pesou nas escolhas foi a qualidade do fotógrafo e minha identificação com seus trabalhos. Trajetória de vida e história profissional ajudaram a completar a seleção. A combinação das imagens e das personalidades dos fotógrafos foi a base para construir o diálogo desejado com o público. Cada um deles daria margem a um filme. A conversa entre dois creio que ajuda a entendermos melhor o tempo e o país retratado pelas imagens que fizeram.

– Foi o acaso – um imperador aficionado por cliques ou o porto seguro para curiosos e refugiados europeus – que colocou o Brasil no mapa histórico da fotografia mundial?

R – Certamente um imperador ilustrado, amante das artes e da ciência, contribuiu para a expansão da fotografia entre nós. Lembremos que a invenção da fotografia acontece poucos anos depois da chagada da família real. Até ali, o país estava fechado e havia grande interesse por ele na Europa. Será pela fotografia que a imagem do país se fará conhecida aqui e no exterior. Os fotógrafos estrangeiros encontraram um campo fértil para seu trabalho e para isso não lhes faltou o incentivo de D. Pedro II.

– Quanto tempo você se dedicou a pesquisas nos diversos acervos visitados? Quanto à preservação da história da fotografia, o Brasil está bem na foto?

R – Foram mais de três anos, não consecutivos, de pesquisas feitas por mim e pelas pessoas que trabalharam comigo. Antônio Venâncio e Stela Grisotti foram meus companheiros neste trabalho. Muitas fotografias já eram conhecidas do público e estavam em bom estado. Outras, foram tratadas especialmente para o projeto pelas equipes das diferentes instituições. Aconteceu de uma entrevista provocar a busca por determinada fotografia, e muitas vezes quando a encontrávamos ela estava em mal estado e precisava ser tratada. Outras vezes, fotografias mencionadas haviam simplesmente  desaparecido. As instituições públicas lutam com a eterna falta de recursos e assim parte da nossa memória vai se perdendo. Talvez os filmes deem uma sobrevida a parte deste material.

– Defina a colaboração do IMS neste processo.

R – O IMS foi fundamental para os projetos acontecerem. Foi nossa plataforma de lançamento, graças ao apoio viabilizado pelo Jose Carlos Avellar e incorporado pela direção do instituto e por seu núcleo de Fotografia coordenado por Sérgio Burgi. No IMS, pude pesquisar os diferentes fotógrafos e criar a estrutura dos projetos. A partir dali  busquei imagens complementares  para minha narrativa nas demais instituições parceiras.

– Quais são seus planos profissionais mais imediatos?

R – Preciso lançar o Fotografação, e retomei meu trabalho de diretor de fotografia com o filme O Lodo, de Helvécio Ratton, baseado num conto do Murilo Rubião. Também estou fotografando um documentário sobre o muralista de rua Kobra, dirigido por Lina Chamie.

– Há luz no fim da sala escura?

R – Lá longe, bem longe, quero acreditar que haja luz.

Foto síntese

Resumo dos cinco episódios da série documental Itinerários do Olhar exibida pelo Canal Brasil.

Episódio 1
Retrato e Paisagem – Insley Pacheco e Marc Ferrez

D. Pedro II é apresentado como patrono, colecionador e principal incentivador da fotografia no Brasil. O primeiro episódio da série trata da fotografia brasileira no século XIX. As fotografias  da natureza, das cidades e suas gentes, em muitos casos realizadas por encomenda do Imperador, fomentaram as primeiras referências da identidade nacional. Durante o segundo império, grandes fotógrafos comissionados por D. Pedro II registraram as primeiras imagens do Brasil, retratos de uma jovem nação. Esses artistas, em sua maioria europeus, venceram obstáculos e as limitações técnicas da época para deixar uma obra grandiosa. Entre eles destacam-se o franco-brasileiro Marc Ferrez e o português Insley Pacheco. Rever as imagens destes fotógrafos é redescobrir um Brasil que já não existe, uma paisagem física e humana que o tempo apagou.

Episódio 2
Fotografia de Invenção – Valério Vieira e Vincenzo Pastore        

No inicio do século XX, Valério Vieira e Vincenzo Pastore se destacam entre os que mudaram a fotografia praticada na cidade de São Paulo. No centro, as ruas XV de novembro, São Bento e Direita concentravam tantos estúdios que formavam o chamado triângulo da fotografia. É nesta região que Valério Vieira e Vincenzo Pastore estabeleceram seus estúdios. Ambos se valeram de estratégias inovadoras para cativar a clientela. O experimentalismo se fez presente nos retratos, nas vistas panorâmicas e nas fotomontagens que realizaram.

Episódio 3
Grandes Mestras – Alice Brill e Hildegard Rosenthal

Duas mulheres modernas, Alice Brill e Hildegard Rosenthal, vindas da Alemanha na véspera da Segunda Guerra Mundial, introduzem um olhar avançado e feminino na fotografia brasileira. São pioneiras por aqui do ingresso de fotógrafas no mercado de trabalho. Percebe-se nas fotografias que fazem experimentação de novos formatos na busca da representação de uma nova cidade (São Paulo). Alice e Hildegard promovem a humanização da metrópole no plano fotográfico. Nasce com elas um olhar documental sobre a pauliceia em transformação, registrando vistas urbanas, a arquitetura do Centro e de bairros próximos, além de personagens anônimos de diferentes classes sociais. Fotos que compõem uma visão panorâmica da São Paulo que se verticaliza rapidamente. A dupla expõe o que parece esquecido aos paulistanos de então: o cotidiano, o simples.

Episódio 4
O Clique Francês - Marcel Gautherot e Pierre Verger

Entre os fotógrafos estrangeiros, que contribuíram para modernizar a fotografia brasileira a partir da década de 1940, destacam-se os franceses Marcel Gautherot e Pierre Verger. Atraídos para o Brasil pela leitura do romance Jubiabá, de Jorge Amado, viajam pelo país fotografando manifestações de cultura popular e a vida como ela era. Seus trabalhos são publicados pela revista O Cruzeiro numa espécie de apresentação do Brasil aos brasileiros. Na imagem do país que projetam, o povo é protagonista de um novo tempo. No decorrer das décadas de 1950 e 1960, seus caminhos se separam. Gautherot se especializa em arquitetura, tornando-se o fotógrafo predileto de Oscar Niemeyer. Pierre Verger passa de fotógrafo a escritor e etnólogo, deixando um importante legado sobre as culturas africanas no Brasil.

Episódio 5
Improvável Encontro – José Medeiros e Thomaz Farkas

Apoiado nas imagens de José Medeiros e Thomaz Farkas, o último episódio da série narra as trajetórias dos dois fotógrafos, o encontro entre eles, o desenrolar de uma amizade que resultou em influências recíprocas. Através de diálogo entre as imagens de um e de outro, Improvável encontro mostra a contribuição que os jovens Medeiros e Farkas deram para a consolidação da moderna fotografia brasileira, inaugurada nas décadas de 1940/50. A partir do fotojornalismo e do fotoclubismo, a dupla ajudou a redesenhar uma nova representação visual do país.
 

Itinerários do Olhar (Canal Brasil)
Todas as segundas-feiras de setembro, às 20h30

Horários alternativos
quartas-feiras, às 7h
quintas-feiras, 14h30

Duração dos episódios: 25 min.
Estreia dia 02/09


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