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Indumentárias negras em foco


Texto da curadora

Hanayrá Negreiros

Indumentárias negras em foco é uma parceria entre o Instituto Moreira Salles e o Instituto Feira Preta – que em 2019 completa 18 anos e propõe o tema “Passado, presente e futuro”, estabelecendo diálogos sobre origem, continuidade e novos caminhos da história, da arte, da cultura e do empreendedorismo negros. Esta exposição de livros é pensada a partir de dois pilares – imagem e indumentária –, refletindo sobre de que maneira essas manifestações artísticas podem ser entendidas como potentes maneiras de resgatar e contar histórias e memórias negras.

A curadoria dos livros partiu então de quatro títulos do acervo da Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista, além de mais dois novos livros adquiridos por ocasião da mostra. O objetivo é compreender a fotografia nos seus mais diversos modos de expressão e nos encontros da imagem com a moda, pensando como os modos de vestir de algumas comunidades negras – africanas e afro-brasileiras – podem ser entendidos como formas de preservação cultural, expressão artística e identitária.

As visualidades e possibilidades estéticas dos fotógrafos malineses Seydou Keïta e Malick Sidibé lançam as bases conceituais das negras maneiras de vestir. A presença dos dois aqui no início implica também uma valorização da produção visual de artistas africanos, além de uma descentralização do olhar, enunciando uma narrativa visual que não é a do colonizador.

A seguir, vemos as elaborações de cores e tecidos eximiamente cortados, costurados e vestidos pelos sapeurs, dispositivos visuais que nos contam sobre a cultura da moda de rua da população em sua maioria masculina de Bacongo, distrito de Brazzaville, capital da República do Congo.

A cena de moda da cidade de Abidjan, na Costa do Marfim, no final do século passado é contada por meio de fotos da inglesa naturalizada brasileira Maureen Bisilliat. Ela registra histórias e modos de pensar de estilistas e mestres da costura do país, com destaque para a criação de vestes compostas por encontros de tradições têxteis africanas com modelagens ocidentais da década de 1990.

Ainda nesta mostra, indumentária e colonialismo se tornam presentes nos registros das vestimentas de mulheres e homens herero, povo pertencente à Namíbia, e suas histórias de sobrevivência ao domínio alemão. São imagens que possibilitam a compreensão dos significados de resiliência, criatividade e preservação de tradições africanas mesmo em tempos de guerra.

As fotografias realizadas por Pierre Verger das indumentárias das senhoras de fé encerram a exposição. O livro em questão apresenta composições de traje elaboradas por mulheres negras africanas e brasileiras ainda durante o período da escravidão, possibilitando o conhecimento de histórias sobre estéticas também híbridas e profundamente arraigadas em costumes, religiões e modos negros femininos de estar em diáspora.

Indumentárias negras em foco é um convite para pensar a vestimenta como elemento constituinte da cultura negra e o fazer fotográfico como um potente registro visual, compreendendo a moda como aliada da fotografia na ampliação de documentos históricos.


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