Realizado todo ano, desde 2011, como uma forma de reunir admiradores de Carlos Drummond de Andrade para celebrar a sua obra, o Dia D - Dia Drummond deste 2020 atípico que vivemos pede medidas excepcionais. Pela primeira vez, a comemoração, no sábado 31 de outubro, data de nascimento do filho mais ilustre de Itabira, será totalmente virtual. Fica-se sem o calor da festa ao vivo, mas, em troca, distribui-se Drummond para muito mais gente.
![](https://ims.com.br/wp-content/uploads/2020/10/DiaDrummond2020_Wisnik-selo1_1920x1080.jpg)
Os presentes serão entregues ao público na véspera. A partir da noite do dia 30, serão disponibilizados neste site o curso Drummond e a maquinação do mundo, de José Miguel Wisnik, e os filmes Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade, de Eucanaã Ferraz, e Consideração do poema, de Eucanaã Ferraz, Flavio Moura e Gustavo Rosa de Moura.
"O Dia D é sempre uma sensação, e produzimos eventos especialmente para ele", conta Eucanaã, consultor de Literatura do IMS. Desde o primeiro, em 2011, quando Paulo José e Giulia Gam leram poemas do autor, destaca-se a participação de grandes figuras da cena cultural e acadêmica. Foi num deles, em 2016, que Wisnik deu uma palestra, no IMS Rio, relacionando as transformações da paisagem em Itabira provocadas pela mineração à obra do poeta.
"Na ocasião da palestra, eu estava em processo de escrita do livro (Maquinação do mundo — Drummond e a mineração), pesquisando e explorando as possibilidades do tema Drummond e a mineração. De lá até a publicação do livro, em 2018, muita coisa aconteceu, a minha visão de Drummond se expandiu. Além disso, logo depois de publicado aconteceu Brumadinho (em janeiro de 2019), uma outra camada cruel que veio se somar ao assunto", conta Wisnik.
![](https://ims.com.br/wp-content/uploads/2020/10/gráfico-Wisnik.jpg)
Estas novas camadas foram acrescentadas ao curso, concebido especialmente para esta edição do Dia D. Com três aulas, de uma hora cada, o assunto ganhou também um tratamento visual refinado, com imagens do acervo do IMS e outras garimpadas na biblioteca do professor.
A primeira aula é uma espécie de panorama histórico, a contextualização da mineração ligada a Itabira e como isso repercute na obra literária e na atuação jornalística e na militância do poeta. "É uma aula sobre o contraponto entre vida e obra de Drummond e a mineração em Itabira, no Brasil e no mundo", resume Wisnik. Na segunda, ele faz uma leitura extensiva do poema "A máquina do mundo" (do livro Claro enigma, 1951), comentando o texto. E, na terceira, essa leitura é ampliada para as interpretações que a obra provocou. "Dou a minha própria interpretação sobre o poema, com o desenvolvimento da ideia da máquina do mundo, essa grande máquina mundial, e os efeitos da mineração, em que todo mundo é transformado em estoque", diz ele.
O curso vai explorar também as referências literárias no poema, remetendo à ideia de máquina do mundo na tradição literária. "Ela aparece nos Lusíadas do Camões, que tem a descrição de um cosmos, com a terra, os planetas, os céus, e também na Divina Comédia de Dante Alighieri. Também faço relações com o Fausto, de Goethe", explicita Wisnik.
![](https://ims.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Consideracao-do-poema_Dia-D_2020_1920x1080.jpg)
Além do curso, o público terá acesso a dois longas-metragens surgidos igualmente em Dias D. Consideração do poema (2012), com fotografia de Alexandre Wahrhaftig, reúne um elenco estelar lendo poemas de Drummond: Caetano Veloso, Laerte, Chico Buarque, Marília Pêra, Jorge Mautner, Fernanda Torres, Milton Hatoum, Laerte, Drica Moraes e Nuno Ramos, entre muitos outros. "Já havíamos disponibilizado, uma vez ou outra, algumas pílulas do filme, mas nunca ele na íntegra. É a primeira vez", diz Eucanaã.
Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade (2014) tem roteiro e direção de Eucanaã e fotografia de Walter Carvalho. Foi realizado a partir de um espetáculo concebido para o Dia D de 2013. O escritor Joca Reiners Terron lia no palco uma cronologia da vida e obra do homenageado, "ilustrada" por poemas, cartas, crônicas e trechos de diário lidos pelos poetas Antonio Cicero, Alberto Martins e Afonso Henriques Neto.
O resultado foi tão impactante que acabou virando filme, no ano seguinte, com fotografia de Walter Carvalho e montagem de Jordana Berg. Da mesma forma que Vida e verso, esta é a primeira vez em que a produção será disponibilizada na íntegra ao visitante do site.
![](https://ims.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Frame-Vida-e-verso_02.jpg)
"O filme tem dois extras, que não constavam do espetáculo", diz Eucanaã. "Um deles é uma entrevista de oito minutos com Raul Mourão em seu ateliê, mas não é sobre Drummond, é sobre o artista, pois instalamos no palco, no dia da apresentação, uma de suas esculturas de ferro, que remetem à Itabira do poeta. O outro é um depoimento de 17 minutos de Silviano Santiago sobre Drummond.
A programação de 2020 parece potencializar a ideia surgida na concepção do Dia D, de disseminar e distribuir conteúdo para que outras instituições pudessem promover suas próprias celebrações, ou exibirem o material produzido pelo IMS. Desta vez, a programação, virtual, poderá ser acessada por todos os que quiserem.
Pensando no Dia D de 2021, Eucanaã já prepara, com Bruno Cosentino, e coordenação editorial de Samuel Titan, um mega lançamento: o Dicionário Drummond, obra de cerca de 600 páginas reunindo verbetes biográficos e temas que aparecem na obra do poeta, assinados por estudiosos de todo o país.
"Fiz uma listagem grande de verbetes, desde biográficos, como Maria Julieta (filha do poeta), Itabira, Antonio Candido, até outros muito específicos, como rima, soneto, pedra, e para cada um chamamos um especialista. Serão ensaios de fôlego", diz ele, adiantando que 70% dos artigos já foram entregues.