Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) já era o consagrado autor de A moreninha quando iniciou, no Jornal do Commercio, a série de crônicas que resultaria em Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. Publicado em 1862, o livro traça um percurso despretensioso e irônico pelo coração da cidade, tal qual ela se configurava em meados do século XIX. Percurso que esta exposição procura seguir, tomando o escritor como guia para artistas do acervo de iconografia do Instituto Moreira Salles que, no mesmo período, se ocuparam do cenário sedutor que foi e, com todos os percalços, ainda é a marca do Rio nos 450 anos de sua fundação.
Entre o morro do Castelo e o mosteiro de São Bento circulavam Macedo e os desenhistas, gravadores e pintores, em sua maioria europeus, aqui reunidos. Nessa geografia particular, o centro urbano e político é a Praça XV. A partir dali, um emaranhado de ruas avança desordenadamente continente adentro. Assim como, em seus passeios, o escritor decreta a “independência da cronologia”, aqui deixamos de lado a precisão dos mapas. Mais importante do que qualquer escala ou medida, é o que o olhar dos artistas elege.
É essa cidade real e concreta, mas também um tanto imaginada, que se pretende evocar neste passeio. As imagens testemunham um tempo perdido e, também, tristemente confirmam a preocupação de Macedo, para quem o descaso do Rio com seu patrimônio, já naquele tempo, traduzia-se em uma “indiferença que um pouco se aproxima do vandalismo”. Circular entre estas paisagens e textos deve ser antes de tudo um prazer.
A exposição Um passeio pelo Rio – A cidade nas andanças de Joaquim Manuel de Macedo faz parte das comemorações dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.