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Que país é este?

A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985


Texto institucional

Uma câmera para revelar o Brasil escondido pela ditadura

 
O cinema de Jorge Bodanzky sempre revelou e interrogou um Brasil escondido pelas suas imagens oficiais. A condição libertária dos seus filmes redefine igualmente formas de produzir, dirigir e editar, confrontando os limites do cinema na apresentação e representação das vidas que nele surgem, subvertendo convenções e linguagens de gêneros, como o documentário ou a ficção. Todos os seus filmes evidenciam a consciência de que uma vida pode ser um filme, mas um filme nunca é uma vida. A liberdade de filmar é condição inalienável da defesa da liberdade de viver, e por isso a câmera de Bodanzky registra, expõe, surpreende e convida à reflexão crítica, reconfigurando todas as certezas que possam existir sobre o cinema e a vida com as quais os espectadores cheguem a um dos seus filmes.

Um filme de Bodanzky é uma forma de ação do cineasta no tempo e no território que escolheu para filmar. A sua câmera não é neutra, ela cria situações sobre as situações que registra, inventa, edita e apresenta. O seu cinema não é uma imitação da vida, nem tampouco tem a pretensão de nos apresentar a vida como ela é numa eventual objetividade ilusória. A câmera de Bodanzky é atuante e, por isso, cada filme afirma uma verdade própria independente, tão subjetiva quanto determinada nas suas escolhas, além da tentação ideológica da missão do que se convencionou chamar “cinema verdade”, do qual manifesta no entanto plena consciência.

O Brasil imposto pela ditadura militar é corajosamente enfrentado, exposto, denunciado e combatido pelo cinema de Jorge Bodanzky. Que país é este? é uma exposição que reúne fragmentos de filmes, fotografias e documentos que articulam um capítulo impressionante de resistência e subversão das normas impostas pela ditadura nos seus modos de representar o país. Apresentar esta exposição em 2024, 60 anos depois do golpe militar de 1964, possibilita repensar a história a partir dos cruzamentos de memórias, imagens e documentos resultantes de uma obra cinematográfica muito relevante para a compreensão desse período histórico. O Instituto Moreira Salles, cujos acervos preservam fundos valiosos para uma reinterpretação da história do Brasil, assinala também esses 60 anos através desta exposição. Ela é também o primeiro momento de divulgação do acervo fotográfico, documental e fílmico de Jorge Bodanzky, que o IMS guarda e preserva.

Manifestamos a Jorge Bodanzky a nossa imensa gratidão pelo acolhimento caloroso deste projeto, assim como pelo seu acompanhamento cúmplice e entusiasta. Expressamos o nosso enorme reconhecimento a Thyago Nogueira, curador da exposição, a Horrana de Kássia Santoz, curadora-assistente, Ângelo Manjabosco e Mariana Baumgartner, responsáveis pela pesquisa, assim como a todas as pessoas e equipes do IMS que tornaram possível este projeto. Durante a sua duração, a exposição será acompanhada por uma ampla retrospectiva da obra cinematográfica de Jorge Bodanzky. Endereçamos igualmente os nossos agradecimentos à equipe da área de programação de Cinema no IMS, assim como à Cinemateca Brasileira, por todo o apoio prestado.

Diretoria do IMS