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A fotografia no IMS

Sergio Burgi
Coordenador de fotografia

A motivação do Instituto Moreira Salles em relação ao campo da fotografia corresponde ao reconhecimento pleno de sua relevância no cenário cultural brasileiro, particularmente no âmbito da memória e da história do país, e também pelo papel primordial da fotografia no campo da comunicação e como plataforma e meio cada vez mais integrado às artes visuais. Compreendendo a necessidade de formação e preservação de acervos nessa área no Brasil, o IMS passou a atuar sistematicamente, a partir de 1995, na estruturação de seu acervo fotográfico, hoje uma referência no Brasil e no exterior.

O acervo se inicia com os conjuntos de fotografia do século XIX, formados pela coleção Gilberto Ferrez e por duas coleções adquiridas do colecionador Pedro Corrêa do Lago. A série do antropólogo Claude Lévi-Strauss, da década de 1930, foi comprada em seguida e já representa a fotografia do século XX, caracterizada pela câmera de pequeno formato, usada para capturar imagens da cidade de São Paulo de um ponto de vista mais pessoal. Posteriormente foi incorporada a coleção de Marcel Gautherot, um excepcional retrato do Brasil dos anos 1940 até os anos 1980. A decisão pela guarda da coleção Gautherot consolidou uma política de aquisição de obras completas – a trajetória, a carreira e as questões autorais – que hoje se mantém.

Com cerca de 2 milhões de imagens, o Instituto Moreira Salles possui o mais importante conjunto de fotografias do século XIX no Brasil e a melhor compilação relativa à fotografia nacional das sete primeiras décadas do século XX. Em 2016 foi adquirida a coleção dos jornais do grupo Diários Associados no Rio de Janeiro, com cerca de 1 milhão de itens, abrindo-se assim uma nova frente de preservação da memória histórica nacional nas atividades do Instituto, associada ao campo do fotojornalismo e da comunicação visual. O acervo está reunido na Reserva Técnica Fotográfica do IMS, construída no mesmo terreno do seu centro cultural no Rio de Janeiro. É o maior edifício voltado à preservação, restauração, guarda e divulgação de acervos de fotografia do Brasil. Seus principais temas são a arquitetura colonial e moderna e as transformações da paisagem urbana brasileira ao longo dos séculos XIX e XX; o retrato na fotografia brasileira; a cultura e as festas populares nas diversas regiões e a paisagem natural do país; a urbanização e o desenvolvimento industrial decorrentes dos investimentos em energia elétrica realizados no início do século XX e da industrialização posterior à Segunda Guerra; o mundo do trabalho, urbano e rural, e o fotojornalismo brasileiro do século XX.

O acervo fotográfico do IMS reúne hoje uma das coleções do século XIX mais importantes do Brasil, incluindo o trabalho fotográfico de Marc Ferrez, o principal fotógrafo do período, a documentação fotográfica mais antiga existente de São Paulo por Militão Augusto de Azevedo, a Petrópolis imperial, primeira cidade planejada do país, fotografada em efeitos "noturnos" e diurnos por Revert Henry Klumb, entre outros trabalhos, juntamente com o melhor conjunto relacionado à fotografia brasileira do século XX, incluindo a produção de fotógrafos como Thomaz Farkas e Geraldo de Barros, nomes centrais no movimento relacionado à fotografia moderna no Brasil que se desenvolveu nos anos 1940, fortemente influenciado pelas experimentações avant-garde do pré-guerra na Europa e nos EUA, bem como as obras completas de José Medeiros, Maureen Bisilliat, Hildegard Rosenthal, Hans Gunter Flieg, Otto Stupakoff e David Zingg, entre outros. Ao lado destes significativos acervos de importantes nomes da fotografia brasileira, integram também o acervo fotográfico do IMS conjuntos relevantes de fotógrafos clássicos latino-americanos do século XX, como o peruano Martín Chambi e o argentino Horacio Coppola.