Idioma EN
Contraste

Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS

Dias & Riedweg (1993)

 

Casulo/palco, 2019 (com o grupo A Voz dos Usuários)
Instalação audiovisual, 30’ e 4’40”
Audiovisual e objetos

Casulo/palco, 2019, de Dias & Riedweg (1993)
Desde 2012, o coletivo formado pelos artistas Maurício Dias e por Walter Riedweg investiga o universo psiquiátrico, suas territorialidades e fronteiras. Como fruto de uma parceria contínua com A Voz dos Usuários – grupo de 15 pacientes do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro –, os vídeos Casulo e Palco discorrem sobre os espaços de clausura, a criação de locais seguros de troca e comunhão entre os pacientes, e o imaginário que envolve as discussões sobre saúde mental no país.

Casulo aborda o cotidiano do grupo após períodos de internação, questionando a clausura a que são submetidos os pacientes. O título do trabalho reflete tanto o confinamento psiquiátrico como também os espaços de acolhida coletiva que se formaram ao longo dos 35 encontros entre o grupo e os artistas. Como símbolos de um espaço temporal e espacialmente incerto, os casulos podiam ser encontrados em diversas partes da cidade durante os mais de 35 encontros que compuseram a pesquisa.

O vídeo Palco surge da indagação feita a cada um dos pacientes acerca de um “objeto que nunca poderia faltar em seu casulo”. Ao trazer o item escolhido para essa coreografia coletiva, os pacientes-performers nos informam sobre a subjetividade da ideia de lar, expandindo e borrando os territórios normalmente definidos entre a razão e a loucura. Os objetos, dispostos no espaço à maneira de uma sala de estar, interrogam o visitante sobre tais noções, propõem um casulo dentro da exposição e reverberam as questões de saúde mental para além das paredes a elas destinadas.
(Daniele Queiroz) Bolsa ZUM/IMS 2018

Depoimento

 

Transcrição do depoimento

Sou Maurício Dias, e falo em nome da dupla de artistas Dias & Riedweg. Somos os autores iniciadores das videoinstalações Casulo e Palco, aqui expostas. O deslocamento desses objetos que permeiam ambas as narrativas, tanto para um terreno vazio esquecido entre os prédios da cidade, um não território do tecido urbano, como para o palco de teatro, sugere a ideia de que a loucura é um território que só existe em sua temporalidade. Casulo e Palco têm seu foco no cotidiano dos pacientes após os episódios de surto, após a internação psiquiátrica, no processo de integração pós-hospício a outros espaços não enclausurados. Os vídeos nos questionam sobre o território destinado à loucura na percepção de cada um e na sociedade. A metáfora do casulo, escolhida para abordar a questão da clausura psiquiátrica, do isolamento como um território, que, embora possa ser necessário, não pode ter uma temporalidade e espacialidade generalizada ou predefinida. A ideia é apresentar a questão da psiquiatria como um território que somente existe quando está em constante estado de transformação. Todos os textos escritos e lidos, ou ditos nos vídeos, são de autoria do grupo A Voz dos Usuários, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o IPUB/UFRJ. São eles: Antônio Carlos dos Santos, Elizabeth Sabino dos Santos, Guilherme Carei Matos da Silva, Luiz Eduardo Mendonça de Souza, Maria Aparecida Lopes do Nascimento, Milton Pena de Oliveira Santos, Olga Maria Matos Salazar, Orlando dos Santos Batista, Orlando Vinicius Diasmara de Barros, Renato Moraes Ponte Veríssimo, Bernardo de Lima Filho e, in memoriam, Antônio Afonso da Costa, Dalila Meira de Azevedo Marques, João Batista dos Santos e Wilmar Gastão de Carvalho Filho. 

Dupla criada em 1993, é formada por Maurício Dias e pelo suíço Walter Riedweg. Participou da Bienal de Veneza em 1999, Bienal de São Paulo em 2002 e Documenta 12 em Kassel, 2017. Há alguns anos desenvolvem trabalhos sobre o universo psiquiátrico. A instalação audiovisual Casulo/palco registra o cotidiano de um grupo de pacientes do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, para tornar visível o território designado à loucura e às novas formas de clausura a que esses pacientes são submetidos durante tratamento psiquiátrico.