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Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS

João Castilho (Belo Horizonte, MG, 1978)

Zoo, 2014
Fotografias impressas em 2023 em pigmento mineral sobre papel de algodão.

Em Zoo, Castilho põe animais selvagens e silvestres em espaços domésticos, como salas, quartos, cozinhas e banheiros. Cada animal escolhido gerou uma única imagem. Causar estranhamento é uma das ideias centrais desta série desenvolvida em parceria com os cuidadores de cada um dos bichos fotografados

Se, por um lado, localizar os animais exigiu do autor perseverança e paciência; por outro, as sessões fotográficas eram curtas e em espaços cuidadosamente delimitados, já que o trabalho envolvia situações pouco confortáveis, com riscos reais. Tal desconforto aparece nas fotografias e também entranhado em todos os envolvidos, seja fotógrafo, animal ou espectador. Enquanto uma onça-parda se deita no tapete da sala, uma cascavel demonstra pouco apreço pelo aconchego de uma poltrona, e um tatu dá as costas para o artista. Imagens assim, que deflagram metáforas para situações cotidianas, estão presentes em Zoo e em outras séries do autor. Elas lidam com “questões existenciais e políticas da vida e da morte, da inocência e da culpa, da pulsão e do medo, da sobrevivência e da extinção através da paisagem, da cor, dos seres vivos e outros seres”, afirma Castilho.
(Ângelo Manjabosco) Bolsa ZUM/IMS 2013

Depoimento

 

Transcrição do depoimento

Olá, meu nome é João Castilho, eu sou fotógrafo, artista plástico, trabalho com fotografia, bem no limite onde o pensamento fotográfico recebe influências e contaminações de outros fazeres artísticos e outras formas de pensar, como a pintura, a escultura, a literatura, e mesmo a filosofia. Estou apresentando aqui nessa exposição uma série de fotografias de vários formatos, que vão desde 60 por 90 cm até 1,10 por 1, 60 m, são 16 fotografias de uma série chamada Zoo. Eu desenvolvi essa série, parte dela em 2014, e as imagens desse ensaio fotográfico mostram, cada imagem, cada fotografia, um animal silvestre, selvagem, que foi deslocado do ambiente onde ele normalmente vivia para um ambiente doméstico. Então eu trabalhei em parceria com algumas ONGs e algumas instituições que recebem animais de apreensões, animais que sofreram algum tipo de maltrato ou atropelamento, e essas ONGs trabalham na recuperação desses animais. Então eu trabalhei com eles para fazer um deslocamento curto. A gente procurava sempre um ambiente mais próximo de onde o animal vivia para poder fotografar cada um desses animais dentro de uma parte de uma casa, de um ambiente doméstico. Então a gente pode ver, por exemplo, uma arara em cima de uma cadeira, uma onça-parda deitada num tapete, um macaco em cima de uma mesa, um tatu dentro de uma gaveta, um tamanduá-bandeira em cima de uma cama, uma jiboia em cima de um sofá, um pequeno filhote de jacaré também em cima de um sofá, uma raposa, um jabuti, um casal de teiús, uma cascavel numa cadeira, então são essas imagens que eu fui construindo ao longo desse trabalho com a Bolsa ZUM, e as imagens causam certo estranhamento, um certo curto-circuito quando a gente olha para elas, porque é algo que, querendo ou não, a gente não espera, é algo que não se espera, porque tem um jogo de troca de lugares, de ambientes, que, para mim, discute exatamente a ideia de uma separação, que vem muito da modernidade, entre natureza e cultura. Então eu acho que outros pensamentos que a gente começa a acessar atualmente, que não são um pensamento eurocêntrico e colonialista, nos fazem ver que a ideia de uma separação entre os seres e os seus ambientes, entre humanos e não humanos, é uma separação que mais prejudica do que ajuda a pensar muitas das questões do momento em que a gente vive na Terra, né? Então esse trabalho é um pouco sobre isso. Obrigado. Espero que gostem.

É artista visual, trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Recebeu os prêmios Funarte Marc Ferrez de Fotografia em 2010 e o Prêmio Conrado Wessel de Arte em 2008. Em Zoo, Castilho fotografa diversos animais selvagens e silvestres em ambientes domésticos, com a intenção de “discutir as questões em torno da animalidade e abrir uma porta para a investigação do que chamei de ‘mistério humano’”, afirma.