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Contraste

Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS

Val Souza (São Paulo, SP, 1985)

Vênus, 2022
Impressões e papéis variados, placas de alumínio, ímãs

 

Estudos de Vênus, 2020-2022
Filme instantâneo colorido (Polaroid e Instax)

Como definir a beleza negra, que atravessa os tempos enfrentando tentativas de apagamento? Neste painel de mais de mil imagens, retiradas de livros, revistas, jornais, sites e redes sociais, Val Souza dá novo corpo para a alva e solitária deusa romana. “Quem é Vênus? Rastros, sinais, indícios, vestígios, abreviaturas. Um paraíso barulhento e vibrante ou um território selvagem, pronto para ser invadido, desbravado, conquistado, penetrado, explorado”, provoca a artista. Para tecer seu manto, Souza invocou Ninas e Beyoncés, Serenas e Camilas, Suelis e Anastácias, Zezés e Todynhos – mulheres que ofuscam clichês com o brilho de sua própria existência. Delas, emanam erotismo e sedução, liberdade e independência, prazer e poder, armas infalíveis contra a opressão e a violência. A repetição de gestos, inclinações de cabeça, sorrisos e acenos é tensionada por associações metafóricas com paisagens e comidas, fauna e flora, além da iconografia da escravidão e dos viajantes. Em meio a sua próprio atlas, está a artista, que vive as imagens à frente e atrás da câmera, operando um ciclo contínuo e emancipante. Souza mostra que a Vênus negra não é um novo ícone anódino, de um passado distante, mas uma força múltipla e revolucionária que une mulheres de qualquer tempo, certas de que a beleza verdadeira é a coragem de encarar o próprio desejo.
(Thyago Nogueira) Bolsa ZUM/IMS 2021

Depoimento

 

Transcrição do depoimento

Olá, eu me chamo Val Souza e hoje eu vou contar sobre a minha pesquisa para a Bolsa Zum e também sobre a obra Vênus. A minha pesquisa se inicia com uma pergunta, que é quem é Vênus. Nesse sentido, eu tenho tentado me deslocar dessa ideia única e tentado aprofundar o pensamento sobre gramática do desejo e beleza. Para isso, construí um painel com mais de mil imagens de tamanhos e formatos variados, dispostas lado a lado, e esse painel tem mais de 10 m de largura por quase 1,20 de altura. Essa coleção de imagens que eu fui retirando de álbuns de família, livros, revistas, redes sociais, para mim, elas tecem uma espécie de atlas, ou a gente também pode chamar de uma espécie de inventário, que foi através dos estudos das poses e dos gestos presentes e repetidos nessas imagens que eu consegui criar uma associação metafórica que combina os meus retratos e autorretratos com imagens, por exemplo, de paisagem, comida, fauna, flora e arquivos de escravidão. Tudo isso porque, pra mim, a própria pose é um monumento.

Val Souza vive e trabalha entre Salvador e São Paulo. Trabalha com performance desde 2012. Sua prática inclui fotografia, dança, teatro, vídeo e instalação. No projeto Vênus, a artista construiu um painel com mais de mil imagens que traça relações entre as diversas formas de representação das mulheres negras - incluindo a si mesma – da história da colonização ao Brasil contemporâneo.