Manda a tradição que no dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, o padroeiro de Lisboa, os namorados ofereçam vasos de manjericos enfeitados com cravos de papel e bandeirolas com quadras populares como prova do seu amor.
Sobre o filme, exibido no encerramento da Semana da Crítica do Festival de Cannes em 2012, diz João Pedro Rodrigues: “Imaginei uma imensa coreografia de Santo Antônio, um tipo de homenagem inconsciente a uma das celebrações mais populares de Lisboa.”
“A ideia para esse filme veio de uma foto que tirei com meu celular enquanto voltava pra casa em Lisboa, no primeiro metrô da manhã que seguiu às celebrações de Santo Antônio, no 13 de junho. Naquela tarde, eu tinha tomado o último metrô para o centro da cidade. O trem estava cheio. Meninos e meninas de várias tribos urbanas gritavam de alegria. Alguns cantavam ao som dos bongos, outros dançavam. Bebiam drinques estranhos, em garrafas plásticas que eram passadas de um para o outro. O último metrô marcava o início de uma festa que durava a noite toda. Nas primeiras horas da manhã, tomei o primeiro trem de volta para casa às 6:30. O contraste não podia ter sido maior. Embora estivesse tão cheio quanto na noite anterior, fazia agora absoluto silêncio. O trem não levava pessoas, mas corpos exaustos, semiadormecidos, que acordavam como que por instinto quando chegavam ao seu destino. Eles saíam mecanicamente, sempre no mesmo ritmo e em silêncio, sem dar tchau, como se todos e cada um estivessem sozinhos. Ao sair do vagão, não resisti a olhar pela janela: vi uma imagem similar a tantas outras que havia testemunhado ao longo da manhã, mas esta me parecia resumir, de alguma forma, aquela estranha apatia. Lá dentro, três rapazes dormiam: dois deles sentados de frente para o outro e um terceiro deitado de cara no chão, ocupando parcialmente o corredor. Foi essa imagem que eu fotografei com meu telefone. Fui em direção à saída andando atrás de um grupo de rapazes e moças. Quando alcancei a rua, observei as outras saídas do metrô. De todas vinham jovens, se movendo da mesma forma, no mesmo silêncio, em uma cidade que ainda dormia. Já na rua, cada um voltou para suas casas, com a mesma forma mecânica de andar, em um ritmo alcoolizado que, para mim, parecia eminentemente coreografado. Inevitavelmente pensei nas coreografias geométricas e melancólicas de Buster Keaton ou Jacques Tati, e mesmo nas peças de Pina Bausch.”