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Alécio e sua “big ternura pela vida”

17 de setembro de 2014

Amizades verdadeiras podem começar ao acaso, e foi assim que em 1964, Carlos Drummond de Andrade, ao visitar a exposição “Itinerário da infância” na galeria Petite Galerie, no Rio, ficaria encantado com o trabalho do jovem fotógrafo Alécio de Andrade. Tão encantado que na mesma semana, em 30 de setembro daquele ano, publicou a crônica intitulada  “Alécio & criança” em sua coluna no Correio da Manhã, onde escreveu: “Acontece que vale mesmo a pena ver as fotos de Alécio. Se você não sair de lá com uma big ternura pela vida, então meu caro, desista de considerar-se gente; o provável é que você seja apenas um objeto falante, e mesmo isso…”

A exposição gerou uma amizade que, por ser verdadeira, não exigia presença física para que os dois se amassem. Tampouco a distância geográfica interferia na comunicação dos amigos, separados pelo oceano Atlântico: Drummond no Rio de Janeiro e Alécio em Paris, onde morou desde 1964 até sua morte em 2003.

Em 1979, o poeta presenteou o amigo com o poema “O que Alécio vê”, publicado no catálogo Alécio de Andrade: fotografias e depois incluído em Amar se aprende amando, de 1985: “Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?” – lê-se no verso drummondiano. Como retribuição, ganhou um exemplar de Le livre de l’affiche, livro de cartazes de eventos parisienses fartamente ilustrado, como sugere o título. Na dedicatória feita por Alécio, que se reproduz aqui e se transcreve a seguir, muita ternura:

Exemplar de “Le livre de l’affiche” com dedicatória feita por Alécio de Andrade. Biblioteca de Carlos Drummond de Andrade / Acervo IMS

 

Transcrição da dedicatória de Alécio de Andrade para Drummond:

“Querido Carlos Drummond, eu fiquei aqui diante do oceano/ com aquela dorzinha no peito. Por não o ter/ visto – oh azul do mar de minha infância!/ [ilegível] por aquela gôta de saudade que/ inunda o imponderável e suas águas./ Ficou-me apenas, como dom estimável e comovente/ a tão grata curva da sua voz mansa de menino/ flutuando no meu sentimento, induzindo-me a/ Rosa, seu vegetal orvalho e seus exemplos./

Com carinho e lágrima já saudade/ teu velho e grato/ Alécio,/ Rio/ Out/  985″.

Afetuosamente/ um/ abraço/ à D. Dolores/ A.

 

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