Esse tal de Gérson anda acabando com o jogo. É craque. Apesar dos vinte anos, joga de cabeça erguida, conhece o assunto e ainda passa carão quando alguém ‘engrossa’.
Isto é um texto de João Saldanha na Última Hora de 24 de abril de 1961. Quer dizer, você tem o demiurgo e tem também o profeta, o vidente. Por exemplo, Nelson Rodrigues chamou o Pelé de rei aos 16 anos, em 1957, mais de um ano antes da Suécia. Pois bem, João viu Gérson nove anos antes do México. Ou talvez já onze anos antes, se tiver estado, como é provável, entre os 160 mil que foram ao Maracanã dia 13 de maio de 1959. Aí estão, com Gérson na meia-direita, os juvenis cariocas que derrotaram os paulistas por 2 a 0.
(É claro que aquele mundo de gente no fundo da foto não estava lá para ver os garotos. Estes fizeram a preliminar de Brasil 2, Inglaterra 0. Foi o dia da maior vaia da vida do estádio, o do amistoso contra o único adversário que não vencêramos na Suécia [lá foi 0 a 0]. Começou a assuada quando os alto-falantes anunciaram Julinho na ponta-direita em vez de Garrincha. Ensurdeceu o resto das escalações, a entrada dos times e dos juízes, a foto das formações, a troca de flâmulas, o toss e os sete primeiros minutos de jogo, quando... quem fez 1 a 0? Ora, Julinho! Transformando o escarcéu, instantaneamente, em descabelada ovação. Volúvel como um torcedor devia ser provérbio.)
Sim, mas e a foto dos garotos? Onze esperanças formadas. Na meia-direita, Gérson de Oliveira Nunes, de Niterói, 18 anos, com tudo aquilo de cabelo, que viera do Canto do Rio para o Flamengo e para quem o futuro tinha guardada a glória. E as outras dez esperanças? Essas fotos de vocações desmentidas fazem lembrar os versos de Bandeira na Evocação do Recife: “Dessas rosas muita rosa / terá morrido em botão”.
Outras duas fotos de Gerson garimpadas no acervo dos Diários Associados-RJ sob a guarda do IMS (veja abaixo): na que os jogadores estão em poltronas de auditório, está Gérson à esquerda como membro da seleção amadora que disputou a Olimpíada de Roma em 1960.
Na outra, de 1961, ele à direita conversa com Henrique Frade, seu colega de Flamengo. Henrique, aliás, também esteve no Maracanã na tarde da vaia, mas no jogo de fundo, no comando do ataque da seleção, em vez dos dois que tinham estado na Suécia, Mazola e Vavá.
Cássio Loredano é caricaturista e consultor do IMS.