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Maria Julieta, 90 anos

02 de março de 2018

Neste dia 4 de março comemoram-se os 90 anos de nascimento de Maria Julieta Drummond de Andrade. A escritora e cronista nasceu em 1928 em Belo Horizonte, filha do poeta Carlos Drummond de Andrade e de Dolores Morais Drummond de Andrade. Morreu em 1987, no Rio de Janeiro.

Artista precoce, Maria Julieta publicou a novela A busca antes de completar 18 anos de idade, livro bem recebido pelos leitores da época. Em meados da década de 1970 tornou-se cronista do jornal O Globo. Também teve papel fundamental na divulgação da cultura brasileira na Argentina, país para o qual se mudou ao casar com o escritor e advogado portenho Manuel Graña Etcheverry em 1949.

Convidado a participar das homenagens à escritora, Pedro Drummond relembra a mãe nesta entrevista concedida ao IMS:

A ligação afetiva e intelectual entre Carlos Drummond de Andrade e Maria Julieta era quase lendária. Ambos eram tão afinados que conseguiam emular o estilo um do outro, como a autora confidenciou ao jornalista Edmílson Caminha: "Quando adoeci e não pude mandar para O Globo minhas crônicas semanais, meu pai as escreveu e encaminhou ao jornal; quando o doente era ele, fiz a mesma coisa, para que o Jornal do Brasil não deixasse de publicá-lo três vezes por semana. Acho que editores e leitores de um e do outro não perceberam a diferença, pois nunca houve reclamação".

Um delicioso testemunho dessa relação é Maria Julieta entrevista Carlos Drummond de Andrade, disco idealizado e produzido por Pedro Drummond a partir de uma entrevista gravada em fita cassete em 1984. Nela, o poeta e a filha passeiam por assuntos variados: livros, Deus, crítica, Estado Novo, projetos, felicidade... O ouvinte tem a impressão de estar sentado no sofá da sala, acompanhando uma conversa ao mesmo tempo íntima e de interesse geral. Ouça abaixo:

Nos anos em que a autora morou em Buenos Aires, pai e filha trocaram muitas cartas, como podemos ler no Correio IMS: "E até, filhinha querida". O afastamento geográfico não abrandou o carinho, que os unia num laço tão forte que, doze dias após a morte de Maria Julieta, Carlos também se foi. O Jornal do Brasil estampou na primeira página: "A morte de Drummond não surpreendeu seus amigos mais íntimos: 'A vida perdeu o sentido para mim', confessou ele depois da morte da filha".

Porém, como escreveu o próprio Drummond em "Resíduo": "Pois de tudo fica um pouco./ Fica um pouco de teu queixo/ no queixo de tua filha". Que Maria Julieta fique.

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