Numa época de recordes negativos constrangedores, o Brasil é o primeiro país do mundo a comemorar o Dia dos Namorados pelo segundo ano consecutivo em meio à pandemia de covid-19. Não por culpa do governo. A tradição secular de se celebrar mundo afora a efeméride máxima do romantismo no Dia de São Valentim (Valentine’s Day), em 14 de fevereiro, foi entre nós subvertida por uma demanda comercial no final dos anos 1940. Coube ao publicitário João Doria, pai do governador de São Paulo João Doria Jr (que no caso também não tem culpa nenhuma), a invenção nacional do Dia dos Namorados em 12 junho, conciliando o mês à época considerado de desaquecimento do varejo com a justificativa fajuta de coincidir com a véspera da celebração de Santo Antônio e sua fama de casamenteiro.
O fato é que a data pegou, em todos os sentidos. Considerada hoje a terceira melhor em faturamento no comércio – perde só para o Natal e o Dia das Mães –, virou pretexto para uma saudável convenção nacional de louvação ao amor. Calhou de, por conta desta particularidade de nosso calendário de efemérides, o brasileiro ser o primeiro no mundo a passar duas vezes seguidas pelo desafio de surpreender a pessoa amada sem descumprir os protocolos de isolamento social da pandemia, decretada pela OMS em março de 2020. Nada grave.
Haverá sempre uma maneira de celebrar a paixão, mesmo entre os casais que ainda não se sentem seguros para viver o amor como ele era antes dos tempos de cólera. Talvez as imagens desta página, garimpadas no acervo de Fotografia do IMS, ajudem a colocar o afeto em foco nesta data querida. O ensaio romântico vale a admiração até de quem acabou se perdendo de alguma cara metade no meio do distanciamento necessário. Como dizia Chico Buarque:
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário...