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Sessão Mutual Films

Era uma vez...
Histórias de pessoas comuns + Kummatty, o bicho-papão

Dois cineastas autodidatas nascidos no dia 23 de janeiro fazem parte da primeira Sessão Mutual Films do 2023. O senegalês Dijbril Diop Mambéty começou a trabalhar na trilogia de médias-metragens Histórias de pessoas comuns no início da década de 1990 e faleceu prematuramente após concluir os dois primeiros filmes da série, O franco (1994) e A pequena vendedora de sol (1999) – duas obras-primas situadas em Dacar que retratam de forma bem-humorada e heroica o dia a dia daqueles que lutam para sobreviver, sendo um músico com sonhos de repossuir seu instrumento e uma menina obstinada que deseja ajudar sua avó ao vender jornais. O indiano Aravindan Govindan buscou ao longo de sua carreira mergulhar nas paisagens e vidas do estado de Querala, no sudoeste indiano, para elaborar alegorias sobre a relação entre o homem e a natureza. Seu quarto longa-metragem, Kummatty, o bicho-papão (1979), parte da lenda sobre a entidade de mesmo nome que aparece durante a primavera e tem o poder de transformar crianças em bichos, para retratar o percurso de um menino que passa por uma experiência libertadora. Os três filmes, todos cheios de música e cores, são lições valiosas sobre a importância da empatia e do amor à vida. Eles vão passar no IMS em cópias recém-restauradas.

A curadoria, produção e textos da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard.


Histórias de pessoas comuns

Histoires de petites gens
Djibril Diop Mambéty | Senegal, França, Suíça | 1994-1999, 90’, DCP - restauração em 2K (Cinemateca da Embaixada da França no Brasil)

O cineasta senegalês Djibril Diop Mambéty (1945-1998) voltou para a direção de longas-metragens após um hiato de quase 20 anos, com a grande produção Hienas (Hyènes, 1992), um dos mais renomados filmes africanos de sua década. Depois, cansado da experiencia de realizar este filme, Mambéty mudou seu olhar na direção de quem ele chamou de “as pessoas comuns”. Ele pretendia fazer um longa-metragem mais modesto que seria composto por três medias-metragens, cada um focado em um protagonista que vive em condições precárias em Dacar e enfrenta dilemas práticos e morais ligados ao dinheiro. A terceira parte da série nunca foi filmada, pois o cineasta morreu precocemente de câncer de pulmão. As Histórias de pessoas comuns que existem hoje são as duas primeiras partes da série: O franco (1994) e A pequena vendedora de sol (1999).

Os dois filmes de Histórias de pessoas comuns foram coproduções internacionais e seus negativos originais de imagem e som ficaram com a produtora suíça Waka Films e sua fundadora, Silvia Voser, que os mantiveram em bom estado. Estes materiais foram utilizados para restaurações feitas em 2K, em 2018, por iniciativa de Voser em parceria com o laboratório francês Éclair e o Institut Français, que incluiu os filmes no “20 Films pour 2020”, um projeto da Cinémathèque Afrique voltado para a circulação não comercial do cinema africano. A gradação de cor das restaurações foi supervisionada por Voser e Wasis Diop, músico e irmão caçula do cineasta, que também trabalhou nas produções originais dos filmes.

As sessões de Histórias de pessoas comuns no IMS são realizadas com o apoio do Institut Français e da Cinemateca da Embaixada da França no Brasil.

 

 

O franco
Le Franc
Djibril Diop Mambéty | Senegal, França, Suíça | 1994, 45’, DCP | Classificação indicativa: 14 anos

O franco observa um músico de rua chamado Marigo (interpretado por Dieye Ma Dieye, um músico que Mambéty conheceu em bares onde o ator tocava para ganhar uns trocados) e é contextualizado em um momento histórico quando houve uma grande desvalorização do franco CFA, usado na África Ocidental, provocada pelo governo francês. Após perder seu instrumento, o congoma, para a proprietária de seu dormitório (a renomada cantora Aminata Fall) por falta de pagamento de aluguel, Marigo tem a chance de adquirir um bilhete da loteria nacional premiado. Porém, o músico gracioso e desastrado precisa guardar o bilhete em um local seguro até o sorteio. Com um tom surrealista observamos os sonhos de Marigo com seu congoma e as inúmeras oportunidades que o bilhete premiado lhe trará, levantando reflexões sobre onde suas prioridades devem ficar. Ao comentar o filme, Mambéty falou, “Eu espero que as crianças se tornem pessoas francas, ao invés de viverem atrás de francos.”

 

A pequena vendedora de sol
La petite vendeuse de soleil
Djibril Diop Mambéty | Senegal, França, Suíça | 1999, 45’, DCP | Classificação indicativa: 14 anos

A pequena vendedora de sol acompanha a jornada de Sili Laam (Lissa Balera), uma obstinada menina de muletas que sai da periferia para o centro de Dacar em busca de trabalho para ajudar sua avó cega. Ela passa a vender o jornal pro-governo Sol e entra em rivalidade com outros jovens vendedores de jornais. Apesar das dificuldades de locomoção e do preconceito enfrentado por ser uma garota em um ambiente majoritariamente masculino, a esperançosa Sili conquista aliados que a ajudam a enfrentar seus obstáculos. Mambéty – que faleceu poucos dias antes da finalização do filme – dedica A pequena vendedora “à coragem das crianças de rua”.

 

Citação de Mambéty originalmente em francês extraída do curto documentário Le cinéma, c'est de la magie... Djibril Diop Mambéty, 1945-1998 (2022), dirigido por Silvia Voser.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
26/1/2023, quinta, 18h - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard
29/1/2023, domingo, 20h

IMS Rio
28/1/2023, sábado, 16h - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard


Kummatty, o bicho papão

Kummatty
Aravindan Govindan | Índia | 1979, 90’, DCP - restauração em 4K (Cinemateca de Bolonha) | Classificação indicativa: 14 anos

Na vasta e rasteira paisagem de Cheemeni, uma pequena aldeia no norte do estado indiano de Querala, as crianças chamam Kummatty (interpretado pelo músico e artista folclórico Ramunni), uma figura mítica com aparência de um homem magro, barbudo e velho que aparece carregando máscaras de animais durante a primavera. Kummatty tem um sorriso largo, um glorioso dom de canto, e, apesar de seu jeito inofensivo, o poder de transformar as crianças em bichos diversos. E ele o faz, como numa brincadeira. Acompanhamos a breve visita de Kummatty, junto à trajetória do menino Chindan (interpretado por Master Ashokan), que, após ser transformado em um cachorro, foge de seus colegas e acaba se perdendo. A experiência de Chindan é transformadora em mais de um sentido: Vindo de aulas escolares na qual ele absorve métodos ingleses clínicos e científicos de entender o mundo, baseados num conceito de controle do ser humano sobre o meio-ambiente, seus dias de cachorro lhe ensinam que todo ser vivo tem direito à liberdade.

Kummatty, o bicho-papão foi o quarto filme dirigido por Aravindan Govindan (1935-1991) e hoje é um de seus mais celebrados. O cineasta (que nasceu e cresceu em Querala) fez de sua breve filmografia uma exploração da complexa e delicada relação entre seres humanos e a Natureza, com um olhar poético voltado para a necessidade de cada indivíduo se libertar de gaiolas físicas e espirituais. Ele idealizou Kummatty como uma alegoria pedagógica voltada para crianças, e elaborou as paisagens, as músicas originais (criadas por M.G. Radhakrishnan e Kayalam Narayana Panicker) e a estrutura folclórica da narrativa pensando em um público infantil. A figura titular do filme é baseada livremente nos emissários do deus Shiva que são interpretados por dançarinos masculinos mascarados durante a celebração anual da temporada de colheita em Querala, chamada “Kummattikali”. Aravindan disse sobre sua versão do personagem que “Kummatty tem uma persona dupla – uma personalidade real, e, uma personalidade assumida...Sua personalidade atual se encontra entre o mito e a realidade, e ainda assim, não há nenhum traço de fantasia nele.”

O filme ganhou o prêmio anual dado para o melhor filme infantil feito em Querala e foi celebrado como uma obra importante para adultos, inclusive pelo crítico e historiador de cinema japonês Tadao Sato, que declarou Kummatty, o bicho-papão o filme mais bonito na história do cinema. Porém, assim como a obra geral de Aravindan (frequentemente produções independentes de baixo orçamento), por muito tempo ele esteve fora de circulação, e o negativo original se perdeu. A versão de Kummatty que terá sua estreia brasileira no IMS foi restaurada em 4K em 2021, a partir de duas cópias em 35 mm, pelo World Cinema Project (da The Film Foundation), a Film Heritage Foundation e a Cinemateca de Bolonha, no laboratório L’Immagine Ritrovata. O trabalho foi feito em parceria com General Pictures e a família de Aravindan, em consulta com o cinegrafista original do filme e colaborador frequente de Aravindan, Shaji N. Kuran, e com apoio dado pela Material World Foundation. Um outro filme crucial de Aravindan, Thamp (A tenda do circo, 1978), foi restaurado em 2022.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
26/1/2023, quinta, 20h - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard
29/1/2023, domingo, 18h

IMS Rio
28/1/2023, domingo, 18h - sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard


Programação

IMS PAULISTA

26/1/2023, quinta
18h - Histórias de pessoas comuns: O franco + A pequena vendedora de sol
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

20h - Kummatty, o bicho-papão
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

29/1/2023, domingo
18h - Kummatty, o bicho-papão
20h - Histórias de pessoas comuns: O franco + A pequena vendedora de sol

 

IMS RIO

28/1/2023, sábado
16h - Histórias de pessoas comuns: O franco + A pequena vendedora de sol
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

18h - Kummatty, o bicho-papão
Sessão apresentada pelos curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard

Da esquerda para direita, cenas dos filmes O franco, A pequena vendedora de sol e Kummatty, o bicho-papão

Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos no site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: toda quarta-feira, às 18h, são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.

IMS Rio

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.

A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: toda quarta-feira, às 18h, são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.


Sessão Mutual Films

Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.