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O jornalista, colecionador e pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo nasceu em Fortaleza, capital do Ceará, em 15 de maio de 1934, filho de Tereza Almeida de Azevedo e do fotógrafo, pintor e poeta Otacílio Ferreira de Azevedo (Redenção, CE, 11/02/1892 – Fortaleza03/04/1978). Otacílio de Azevedo foi membro da Academia Cearense de Letras e um dos grandes paisagistas cearenses, tendo sido um dos fundadores, em 1934, do primeiro ateliê de pintura na capital do estado.

Foi do pai que Miguel Ângelo (batizado em homenagem ao pintor renascentista Michelangelo) recebeu o incentivo inicial para a formação de seu acervo fonográfico, hoje um dos maiores e mais importantes do país. O velho Otacílio sempre perguntava aos amigos se possuíam algum disco velho em casa, para a coleção do filho. Do pai, Nirez também herdou o gosto pelo jornalismo. O apelido veio quando ainda era bebê: por ser muito corado, as pessoas o chamavam de “inglês”, mas sempre num tom de voz meio infantil, típico de quem fala com crianças. Com o tempo, “inglês” virou Nirez.

Seus irmãos igualmente trilharam caminhos ligados à cultura e ao saber: Rubens de Azevedo (Fortaleza30/10/1921 – Fortaleza, 17/01/2008) foi escritor, astrônomo e professor de Geografia e História, tendo sido o criador, em 26/02/1947, da primeira associação amadora de astronomia do Brasil, a Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia; Maria Consuelo de Azevedo tornou-se artista plástica e professora de espanhol; e Rafael Sânzio de Azevedo (Fortaleza, 11/02/1938) é professor, poeta, crítico e ensaísta, membro da Academia Cearense de Letras (tal como seu pai).

Nirez começou sua vida profissional em 1951, aos 17 anos, como desenhista publicitário. Em seguida, tornou-se desenhista técnico do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Através de concurso interno, passou a Técnico em Comunicação Social dessa mesma instituição, onde trabalhou até 1991.

Em 1956, com 22 anos, teve início sua colaboração como autor de textos para jornais de Fortaleza, como Tribuna do Ceará, Correio do Ceará e O Povo. Dois anos depois, em 1958, começou a formar, em sua própria casa, uma espécie de museu da imagem e do som, juntando discos (especialmente os de 78 rotações), livros, revistas, fotografias, aparelhos sonoros, máquinas de registros de imagens, projetores, rótulos, figurinhas etc. Passou a gravar depoimentos de personalidades diversas, divulgando-os através dos jornais e das emissoras de rádio.

Seu acervo cresceu ainda mais quando a emissora de rádio Uirapuru, a "Emissora do Pássaro", resolveu atualizar sua discoteca com LPs e passou adiante seus discos de 78 rotações, doados ao Acervo Nirez graças ao radialista e ex-senador Cid Carvalho. Outra aquisição de peso foi a de um grande número de imagens históricas de Fortaleza e de outros municípios do estado, quando o estúdio fotográfico ABAFILM se desfez dos arquivos de sua sede, no centro de Fortaleza.

Casou-se em 1959 com Maria Zenita de Sena Rodrigues, sua grande companheira e incentivadora. Da união nasceram quatro filhos: a bibliotecária Terezinha de Azevedo, o radialista e técnico de som Otacílio de Azevedo Neto (responsável pela digitalização de todo o acervo sonoro do pai), o escritor Nirez de Azevedo e Mário de Azevedo (colaborador do museu do pai, como os demais filhos).

Em junho de 1963, Nirez passou a irradiar, na Uirapuru, o programa Arquivo de Cera – o nome faz alusão ao famoso Museu de Cera do radialista Héber de Bôscoli –, que permanece no ar até hoje, apresentado semanalmente na Rádio Universitária FM (da Universidade do Ceará).

É coautor, juntamente com outros três pesquisadores (Alcino Santos, Grácio Barbalho e Jairo Severiano), dos cinco volumes do livro Discografia Brasileira – 78 rpm: 1902-1964, publicado em 1982 pela Funarte e que se constitui, até hoje, na maior referência para pesquisadores e interessados neste assunto. Nirez escreveu ainda outros livros de grande importância para a história da cultura brasileira em geral e do Ceará em particular, entre eles: O balanceio de Lauro Maia (1991), Cronologia ilustrada de Fortaleza (2001) e A história cantada no Brasil em 78 rotações (2012).

Por causa de seu trabalho como pesquisador e colecionador, Nirez recebeu diversas distinções, entre elas a Medalha do Mérito Cultural da Fundação Joaquim Nabuco (Recife, PE), em 1982; o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1994; e o Prêmio Sereia de Ouro, também em 1994. É membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico). Em 4 de maio de 2011, tomou posse na Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, ocupando a cadeira de número 26, que tem como patrono perpétuo seu pai, Otacílio de Azevedo.

Em 2002, seu arquivo foi contemplado no concurso da Petrobras (através da Lei Rouanet do Ministério da Cultura), recebendo apoio para ser reformado e digitalizado. O projeto “Meio Século de MPB – Disco de Cera” consistiu na digitalização de todo o acervo de discos de cera (78 rpm) do Arquivo Nirez (22 mil exemplares) e a disponibilização dos dados na Internet. Foram três etapas: higienização dos objetos, catalogação e digitalização dos fonogramas, sob a coordenação de profissionais com larga experiência na área. Realizado entre 2004 e 2005, todo o processo contou com a supervisão de Nirez e assessoria técnica da Cia. de Áudio.

Colecionando antiguidades desde criança, Nirez dispõe hoje de um acervo de mais de 141 mil peças em seu arquivo, que ele considera, na realidade, um museu, em face das raridades que possui, procuradas por pessoas de vários estados brasileiros e até do exterior. O Arquivo Nirez funciona na Rua Professor João Bosco 560, Rodolfo Teófilo, próximo à reitoria da UFC. Com mais de meio século de existência, dispõe, entre outras coisas, de 22 mil discos antigos, de cera, em 78 rotações, além de farta memória iconográfica, com cerca de 26 mil fotos que ajudam a contar a história do Ceará.

O Instituto Moreira Salles adquiriu, em 2015, o acervo digital dos discos de 78 rotações do Arquivo Nirez, bem como o seu banco de dados. Todo esse acervo, com mais de 40 mil gravações, será disponibilizado ao público através de um grande portal de discos de 78 rpm, projeto antigo acalentado pelo setor de Música do IMS que, aos poucos, vai se tornando realidade.


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A Reserva Técnica Musical do IMS tem sob sua guarda acervos de compositores, instrumentistas, pesquisadores e colecionadores, todos disponíveis para consulta e pesquisa. São nomes como Chiquinha Gonzaga, Baden Powell, Elizeth Cardoso e José Ramos Tinhorão, entre outros, além de sites especiais.

Coleção de discos de Humberto Franceschi na Reserva Técnica de Acervos do IMS