Idioma EN
Contraste

AUDIOdescrição

Walter Firmo

no verbo do silêncio a síntese do grito

04 Funcionário do Hotel Nacional

Parada 4 - Obra 3: Funcionário do Hotel Nacional

Audiodescrição: A fotografia colorida, retangular na horizontal com iluminação artificial, intitulada Funcionário do Hotel Nacional, de 1975, mede 60 cm de comprimento por 45 cm de altura e está na parede com moldura fina, de madeira escura e passe-partout branco, espaço entre a obra e a moldura. Retrata em plano americano (das coxas para cima), um funcionário negro com uniforme preto e branco, cuja imagem está refletida em um espelho redondo, com moldura de madeira escura, à esquerda da parede branca. O jovem funcionário, com quepe redondo, sem abas, de mensageiro, na cor azul, com as iniciais do hotel bordadas na frente, jaqueta branca, de gola alta e botões dourados, calça azul-escuro, está olhando para a frente sério, com o corpo alinhado na diagonal, e as mãos para trás. Sua imagem refletida no espelho está ao lado de um quadro, à esquerda, uma reprodução de Portinari, intitulada Retrato de João Candido com cavalo, que mostra um menino branco com fantasia de arlequim, com losangos vermelhos e brancos, na frente de um cavalo. O menino parece fitar o jovem funcionário. Ao fundo, ainda refletidos no espelho, um sofá preto e uma mesinha de centro redonda branca. À direita, parte de um abajur aceso, com cúpula branca. Embaixo do espelho redondo, um aparador e, sobre ele, o abajur branco refletido à direita, e uma cadeira vermelha.

Ouça agora o depoimento de Walter Firmo sobre esta obra.

Em seguida, você poderá ouvir o texto de parede, com mais informações sobre o artista e sua obra.

Eu trabalhava para a sucursal da revista Veja aqui no Rio de Janeiro, e fui escalado para... fazer, fotografar os aposentos do Hotel Nacional, que iria ser exatamente, é, inaugurado naquela temporada... E um menino negro, né, ali da, funcionário daquele que abre a porta lá embaixo, do carro, aquelas coisas todas, estava sempre comigo. E tinha um Portinari de um menino branco lá atrás dele, né, olhando para ele. Ele todo durão, posando pra mim, a foto espelhada, né, refletida num espelho, ovalado, com um abajur não lilás, um abajur branco do lado. E o menino branco do Portinari olhando para ele, né, ali, todo, com uma touca, um chapeuzinho, né, na cabeça e com o uniforme que lhe cabia como funcionário do hotel onde ele trabalhava.

Percebendo a produção visual como ato político, Walter Firmo mostra como “nossas vidas são complexas” na expressividade de suas imagens, pelo uso da encenação, das cores, da vocação retratista, da nomeação dos sujeitos e da temática – família importa, amigos importam, amores importam, cotidiano importa, celebrar importa, iconicidade importa. Nos retratos reunidos nesta sala, pobreza e beleza não podem ser lidos de modo romântico, mas visceral.

Em texto de 1989 de sua autoria, publicado no livro Walter Firmo – Antologia fotográfica, Firmo descreve, em terceira pessoa, seu compromisso e engajamento de longa data com a superação do racismo estrutural vigente no país:

“Desde a década de 1960, fotografa a comunidade negra brasileira, prestando serviços a uma causa social que considera insuspeita. Já híbrido de José e Maria – seus pais –, trabalha esta sociedade silenciosamente na discrição de um monge, sem nenhum alarde, induzindo orgulho, altivez e dignidade aos negros brasileiros. Este anseio de justiça remonta aos idos de Irajá, quando gerado, e, nascido em São Cristóvão, menino ainda, viveu nas portas abertas das ruas de Cordovil, Madureira, Parada de Lucas, Vila Rosely, Vaz Lobo, Oswaldo Cruz, Marechal Hermes, Coelho Neto, Bangu, Nilópolis e Cachambi – toda sedução, enlevo e magia, sob o sol e estrelas suburbanas, horizontes encantados no seu olhar infantil.”

A trajetória visual de Walter Firmo tem origem, sobretudo, na Zona Norte do Rio de Janeiro, seu lugar de origem e lugar de uma sociabilidade privilegiada da comunidade negra, especialmente através do samba, outra Pequena África na cidade, assim como as tantas que encontrou em suas viagens pelo mundo.

Vamos conhecer a próxima obra com audiodescrição: Funcionários da casa da Lily Marinho. A obra está localizada no fim desta parede, à direita, juntamente com o QR code.