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Barra Funda

Situada na várzea do rio Tietê, a Barra Funda cresceu às margens das ferrovias Sorocabana e Santos-Jundiaí. Construídas no século XIX, os trilhos dividiram a região em parte alta e baixa, e estimularam a vocação industrial do bairro, que abrigou de pequenas e médias fábricas até o complexo das Indústrias Matarazzo, erguido nos anos 1920. Na década de 1970, como um reflexo do incentivo econômico à indústria automobilística, o bairro recebeu obras viárias de grande porte, como os viadutos Orlando Murgel, Antártica e Pompeia, para transpor as vias férreas, além do Minhocão, elevado cujo trecho oeste atinge a borda do bairro.

As caminhadas fotográficas de Dulce Soares reforçam o ponto de vista do pedestre e permitem observar atentamente a cidade, oferecendo um contraponto aos rápidos deslocamentos impulsionados pelas grandes obras viárias que modificaram a região. O trabalho começou com uma pesquisa dos lugares de relevância histórica, e se desdobrou no reconhecimento de certas tipologias construtivas. Dulce expressa maior preocupação com a descrição da paisagem urbana do que com o registro técnico da arquitetura. A pequena câmera de 35 mm dava agilidade para percorrer as ruas e facilitava a troca de objetivas – ainda que a lente grande angular muitas vezes distorcesse a perspectiva.

As imagens deste ensaio registram parte da história da Barra Funda por meio da arquitetura. É possível reconhecer as casas de fachadas adornadas, construídas por imigrantes italianos no começo do século XX para a classe média – residências da época áurea do café, que, com a crise de 1929, foram transformadas em pensões e cortiços. Muitos dos edifícios de esquina abrigavam comércio e moradia, o que evidencia a ocupação mista do bairro. Fábricas ainda em funcionamento revelam a resistência ao processo de êxodo das indústrias para outros municípios da Grande São Paulo.

Quase 40 anos depois da realização do ensaio, o núcleo fotografado por Dulce não mudou tanto quanto seu entorno, modificado por grandes projetos urbanos e pela especulação imobiliária. Possivelmente por ser constituído de quadras menores, espremidas entre a linha férrea e o Minhocão, o trecho ainda guarda os frontões decorados, as oficinas mecânicas, as estruturas industriais, os interiores suntuosos do Theatro São Pedro e do palacete construído em 1890 na chácara do Carvalho, cujas terras foram loteadas e deram início ao processo de formação do bairro.


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