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Lily Sverner


Apresentação

Lily Sverner nos deixou um legado que aponta, através de suas várias séries e ensaios, para a profunda e decisiva relação existente entre o processo de criação em fotografia e sua estreita e intrínseca interação com a inerente subjetividade e individualidade do autor e artista, num meio sempre incompleto e pleno de ambigüidades, e por estes mesmos motivos, pleno de possibilidades de construções oníricas e poéticas.

A obra completa de Lily Sverner é composta cerca de 8.000 imagens, prioritariamente em negativos preto e branco, mas não somente, e centenas de fotografias ampliadas e editadas pela fotógrafa. Seu trabalho e sua trajetória de vida, em especial em relação à diáspora de famílias de origem judaica que deixaram a Europa em função da perseguição e barbárie nazista e fascista, dialogam com a obra de outras importantes fotógrafas que atuaram em São Paulo no mesmo período, ou em períodos um pouco anteriores, como Hildegard Rosenthal, Alice Brill, Stefania Bril e Madalena Schwartz, todas fotógrafas cujos acervos encontram-se também preservados no IMS, aos quais agora se soma o acervo de Lily Sverner.

Sua obra completa traz importantes séries, como, por exemplo, as imagens sobre mulheres reunidas na exposição individual que realizou em 1998 no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, intitulada Mulheres e feitiços. Outras séries como Chapéus e Padarias também marcam o seu trabalho autoral, que foi construído ao longo de sua trajetória, por um lado, entre um olhar atento e afetivo sobre o cotidiano, o inusitado e o insólito, em imagens que se aproximam muitas vezes de uma poética surrealista, realizadas em viagens pelo país e pelo mundo ou em sua cidade e entorno próximo, como, por outro lado, em séries de imagens construídas através de projetos prolongados e planejados de documentação de espaços e locais que incorporam elementos tanto de memória, como de afetividade e subjetividade – através de retratos de indivíduos ou grupos e registros de objetos e processos – , em ambientes específicos como antigas fábricas, asilos e orfanatos.

Em 1987, quase quinze anos após seu início na fotografia, Lily Sverner criou, com André Boccato, a primeira editora exclusivamente dedicada à edição de livros de fotografia no país, a Sver & Boccato Editores, assumindo um papel importante na divulgação da arte no Brasil. Seu livro Virtudes da realidade foi publicado em 1995. Já o Gabinete da Imagem, consagrado à comercialização da fotografia, foi inaugurado por Lily em 1997.

Lily realizou várias exposições individuais, e seu trabalho foi incorporado ao cervo da Coleção Pirelli-Masp, à Fototeca de Cuba, em Havana, e ao Kunsthaus, em Zurique, que adquiriu uma série de fotos para sua coleção permanente.

As fotos de Lily para o ensaio Nomes provocam uma discussão em torno do isolamento social e reclusão a que está sujeita a velhice. A série captura a decadência e a dolorosa alienação do mundo exterior, e fala da relação dos idosos com seus escassos objetos, que trazem o passado e o incorporam ao presente vivido nos asilos. Composto por 473 retratos em preto e branco de idosos de duas casas de repouso, em São Paulo e em Itatiba, realizados entre 1989 e 1991, Nomes integra o acervo do Instituto Moreira Salles e evidencia a relação necessária entre fotógrafo e retratado para que o retrato fotográfico se realize e possa interagir em profundidade com o espectador. Outras séries como Chapéus exploram os aspectos plásticos e formais de uma indústria quase em extinção. Em ambos os casos o tempo é o tema. Tempo presente, tempo passado, tempo futuro. Imagem-tempo.

Como afirma Lily Sverner: “Uma das virtudes da fotografia, e talvez a que mais nos perturba, é que ela não pode dizer tudo. Buscamos dentro das bordas que delimitam a imagem alusões sobre o que o fotógrafo teria para nos dizer, naquela fração de tempo e de luz, pelo ângulo e espaço escolhidos. Em 1948, o fotógrafo Bill Brandt comentava que ‘faz parte do nosso trabalho ver mais intensamente, além do comum – um fotógrafo precisa ter em si, e guardado, algo da receptividade da criança diante do mundo, ou do viajante que penetra num país estranho’. Numa leitura da imagem, antes que o percebamos, camadas de nossa subjetividade modificam o contexto, conforme nosso estado de espírito, nossas lembranças associativas ou nossos direcionamentos culturais. Cada fotografia, portanto, teria a virtude de adquirir leituras próprias da realidade, uma simbiose que a torna, naquele momento, obra conjunta do fotógrafo e do leitor.” (em Virtudes da realidade – Fotografias, Lily Sverner. Edições Animae, São Paulo, 1995).

O acervo de Lily Sverner está em processo de organização e catalogação e será gradualmente disponibilizado para consulta e pesquisa.

 

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