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Thomaz Farkas


Apresentação

Nascido em Budapeste, Hungria, em 1924, Farkas chegou ao Brasil com seis anos de idade. Seu pai, seguindo um negócio em que a família se especializara em seu país de origem, abriu em São Paulo a primeira loja da Fotoptica, onde o pequeno Thomaz aprendeu a fotografar brincando. Em 1932, com apenas oito anos de idade, Farkas ganhou de seu pai a primeira câmera fotográfica e durante os dez anos seguintes realizou imagens que podem ser compreendidas como experimentos visuais fotográficos intuitivos e exploratórios à maneira de Lartigue – em que família, animais domésticos, o grupo de amigos de bicicleta, fatos relevantes como o Zeppelin sobre a cidade e a construção do estádio do Pacaembu nos arredores de sua residência são todos temas para incursões fotográficas e, em alguns casos, também cinematográficas. A qualidade e o frescor dessas imagens do período de infância e adolescência devem-se, por um lado, ao espírito livre e investigativo que caracterizou Thomaz Farkas desde cedo e, por outro, à imersão precoce no universo da fotografia em função da atividade comercial da família neste ramo. Nos anos 1960, Farkas assumiu a direção da Fotoptica após a morte do pai, ficando à frente dos negócios até 1997.

Aos 18 anos, já era sócio do influente Foto Cine Clube Bandeirante, o mais avançado centro de debates sobre fotografia da cidade. Afinados com as vanguardas europeias e norte-americanas, os membros do FCCB, entre eles Geraldo de Barros, German Lorca e Thomaz Farkas, buscavam uma estética específica para a fotografia, com novos enquadramentos e pontos de vista inusitados.

A principal influência de Farkas no período foi o movimento norte-americano da fotografia direta, que teve entre seus principais representantes Paul Strand (1890-1976), Anselm Adams (1902-1984) e Edward Weston (1886-1964), de quem Farkas se tornou correspondente. Nos anos 1940, foi uma São Paulo em acelerado processo de modernização seu tema principal, que ele abordava em busca de novos e inusitados enquadramentos, prenunciando, em seu abstracionismo geométrico, a arte construtivista da década seguinte. Ao mesmo tempo, explorava imagens surrealistas.

Foi nesse período também que seus interesses se ampliaram e sua fotografia se voltou para uma visão mais humanista, em uma abordagem mais próxima do fotojornalismo e da fotografia documental, visão que passou a interagir com seus interesses estéticos e formais, como, por exemplo, nas séries de imagens sobre o Rio de Janeiro que incorporam o retrato e a vida dos moradores de bairros populares e regiões do centro histórico da então capital federal. São desse período também suas fotografias sobre o balé Yara, sobre usinas hidrelétricas (ainda de forte caráter formal e realizadas durante viagens do curso de engenharia), além da significativa série surrealista produzida em conjunto com colegas da universidade.

A linguagem que utilizou nas séries fotográficas sobre a construção de Brasília, alinhada com o fotojornalismo e a fotografia documental, parece já apontar para os trabalhos que realizaria durante as décadas de 1960 e 1970, em especial a Caravana Farkas de documentários cinematográficos sobre o Brasil e a série em cores sobre a Amazônia e o Nordeste (Notas de viagem), todos trabalhos de forte vertente humanista.

Ao se naturalizar brasileiro, em 1949, Farkas já era membro da Comissão de Fotografia do Masp, dando início a uma atuação institucional que aprofundaria em 1963, como sócio-fundador do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo e, em 1987, como conselheiro da Bienal de São Paulo. Ao mesmo tempo, transformou a Fotoptica em referência para várias gerações de fotógrafos da cidade, lançando a revista Novidades Fotoptica e fundando em 1979, em parceria com Rosely Nakagawa, a Galeria Fotoptica.

Nos anos 1960 e 1970, o fotógrafo Farkas foi obscurecido pelo homem de cinema, uma paixão de juventude que ele, formando-se em engenharia, não pudera seguir. A chamada Caravana Farkas produziu, nos anos da ditadura militar, uma série de filmes documentários de curta e média metragem, a maioria em 16 mm, que tinham o propósito de apresentar ao Brasil facetas pouco conhecidas do país. Produziu filmes como Subterrâneos de futebol, de Maurice Capovilla, Viramundo, de Geraldo Sarno, e Memória do cangaço, de Paulo Gil Soares. Em muitos deles, atuou também como diretor de fotografia, e terminou por dirigir seus próprios títulos, entre eles Hermeto, campeão, sobre o músico Hermeto Pascoal.

A exposição individual Thomaz Farkas, fotógrafo, no MAM-SP, realizada em 1997 – sua primeira desde 1949 –, permitiu finalmente uma visão abrangente das muitas linhas de força de sua vasta obra fotográfica. Nela convivem, sem contradição, extremos como os rigorosos e elegantes estudos de movimento e de corpos em contraluz que produziu sobre o tema do balé, nos anos 1950, e a série de imagens coloridas sobre a pobreza brasileira que realizou nos anos 1970 no Amazonas e na Bahia. Nas palavras do crítico de arte Lorenzo Mammì, “entre pesquisa formal e testemunho histórico, a fotografia de Thomaz Farkas encontra um lugar que é só dela”.

É, portanto, exatamente na síntese que faz das vertentes formais e humanistas de sua obra fotográfica, mediada por sua personalidade sempre sensível, afetiva e sinceramente preocupada pela condição do outro e também do país que adotou, que reside a contribuição de Thomaz Farkas para a fotografia brasileira moderna e contemporânea.

Thomaz Farkas morreu em março de 2011, aos 86 anos.

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