Nas crônicas do escritor, o leitor vai encontrar lampejos do legendário brilho verbal de um grande frasista. O site Portal da Crônica Brasileiraa apresenta uma seleção de seus textos.

Seleção de cartas enviadas e recebidas por Otto Lara Resende. O material faz parte do acervo de literatura do Instituto Moreira Salles.

Em comemoração aos 90 anos de nascimento dos escritores Otto Lara Resende (1922-1992) e Paulo Mendes Campos (1922-1991), o IMS-RJ promoveu, em 2012, um bate-papo entre Flávio Pinheiro e Matinas Suzuki Jr. A Rádio Batuta traz o registro dessa noite na qual se celebrou com muito bom humor, através de lembranças de episódios hilários e de trechos de obras marcantes, a grandeza humana desses dois escritores mineiros, cujos acervos estão sob a guarda do IMS.

Poucos imaginam as contradições que a falsa placidez de um arquivo literário encobre. Estantes que deslizam sobre trilhos a um giro rápido de manivela não deixam sentir, à distância, a resistência de vidas que os obituários há muito registraram como findas. De longe, não se pode ouvir a voz indignada de Otto Lara Resende em carta de 1972 ao historiador Francisco Iglésias. 

O perfeccionismo de Otto Lara Resende fica evidente por meio das marcas deixadas por ele nos documentos e livros de seu acervo, guardado pelo Instituto Moreira Salles desde 1996. Com desmedida devoção aos detalhes de seu próprio trabalho, o escritor e jornalista não se contentava apenas com as alterações nos manuscritos. Riscava e reescrevia também trechos em suas obras já impressas.

Consta na cronologia em Três Ottos por Otto Lara Resende, livro publicado pelo IMS em 2002, que em 1951 o escritor mineiro assumiu o cargo de redator principal do então recém-fundado jornal Última Hora. Ali ele escreveria sobre vários assuntos, entre os quais filmes, na coluna intitulada “Cinema”, que ele assinava sob o pseudônimo de “J. O.”.

A relação entre Nelson, cujo centenário se completou em 2012, e Otto Lara Resende, que teria feito 90 anos, sofreu abalos com a mania do dramaturgo de incluir o jornalista em suas criações, pondo seu nome até no título de uma de suas peças. Mas a admiração mútua e a amizade nunca foram destruídas.

“O Otto casou com o terno do Millôr”, disse Helena Pinheiro Lara Resende, cuja memória prodigiosa muito tem contribuído para esclarecer dúvidas que surgem no arquivo do marido, Otto Lara Resende.

“Cláudio Manuel da Costa, estando morrendo de fome, danado da vida, deu um tiro no ouvido”. Pérola de algum vestibular recente ou bola fora de um estudante mineiro nos anos 1940? Cecília Himmelseher comenta uma crônica de Otto Lara Resende, publicada em maio de 1941.

Vídeo com a íntegra do evento realizado em 2012 pelo IMS em celebração ao trabalho dos escritores Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos. O Instituto Moreira Salles, detentor do acervo de ambos, organizou um debate com Flávio Pinheiro e Matinas Suzuki Jr.

Quando estava para fazer 50 anos, Otto discorreu ao amigo Francisco Iglésias, em carta que consta do acervo do IMS, sobre seu apego a Minas Gerais, o ódio aos telefones e a dificuldade em conciliar seus compromissos profissionais com a tarefa que mais lhe agradava: escrever cartas.

Como comprova uma visita às cartas e dedicatórias disponíveis no arquivo de seu grande amigo Otto Lara Resende, Rubem Braga conciliou, na vida e nas crônicas, a sisudez de Urso e a delicadeza de Sabiá, dois de seus apelidos.

Em palestra no IMS Rio em 2014, o crítico literário Augusto Massi traça paralelo entre O braço direito, de Otto Lara Resende, e A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, publicados em 1964 sob o pano de fundo do golpe militar.

De Drummond, em dedicatória de livro a Lara Resende: “Ao Otto, meu companheiro de pessimismo, com um abraço fúnebre, Carlos.”