Como fazer uma exposição com Steidl, por Mariana Newlands

Sexta, 2 de junho de 2017

Bate-volta de Gerhard Steidl em São Paulo e a primeira visita dele à obra do novo IMS. Nosso encontro começa às 6 da manhã, com um dia lindo e azul de inverno na avenida Paulista. Em meio a vigas, soldas e capacetes, começa o reconhecimento da galeria, a medida dos espaços e das paredes. Nossa turma está exultante, é nosso segundo projeto em parceria com Steidl – em 2014, passamos um mês em Göttingen trabalhando no box de livros Rio, de Marc Ferrez e Robert Polidori, uma co-edição Steidl/IMS – e já conhecemos bem seu método de trabalho e organização.

Quinta, 27 de julho de 2017

Segundo dia de montagem

Hoje vamos pendurar os banners verticais nos cabos de aço. Para isso, nos dividimos em grupos, como em uma linha de montagem: duas pessoas abrem os rolos, outra segura um dos lados; em seguida, começa o balé de vinco, dobra e corte.

Para pendurar, outro grupo se divide em duas escadas ao redor do cabo de aço, enquanto uma pessoa estende as folhas com as dobras e vai desenrolando o papel até o chão. Fazemos isso uma, duas, dez, vinte vezes. Aos poucos, a sala vai tomando forma.

Depois do almoço, Steidl segue para o aeroporto, hoje ele já volta para a Alemanha. A ideia era ir embora amanhã, mas como está tudo correndo bem ele decidiu embarcar antes, ficando a Nadine conosco por mais um dia. Celebramos na hora do almoço e voltamos para trabalhar nos projetores com os filmes, nos livros pendurados do teto e nas vitrines.

Em uma das vitrines estão todas as primeiras edições de The Americans, incluindo a histórica e primeiríssima de todas: Les Américains, editada por Robert Delpire, com desenho de Steinberg na capa. Além disso, vieram da Alemanha o boneco do livro editado por Steidl com a supervisão de Frank e diversas provas de cropping que mostram os diferentes cortes dados às fotografias da série ao longo das décadas em que foi editada nas mais diversas línguas.

Sexta, 28 de julho de 2017

Terceiro dia de montagem

Durante a manhã terminamos de colar as folhas de contato, que também vieram impressas da Alemanha. São 40 folhas adesivas com parte das mais de 27 mil fotografias que Frank registrou ao longo de suas viagens de carro pelos Estados Unidos. É impressionante olhar os rolos de negativo e ver que, em alguns casos, para algumas das imagens mais icônicas da série, ele bateu apenas uma foto, sem nenhuma sequência ou tentativa de encontrar o melhor ângulo, o melhor movimento, a melhor luz. Uma vez só e lá está a foto do bonde que ilustra a capa do livro.

A montagem do lado Books and Films termina hoje. Nadine vai embora. Já estamos todos com saudades de nossos dias de infinitas horas, dos capacetes de obra para entrar no prédio, dos paninhos para cobrir os sapatos e não levar a poeira para a sala.

PARTE II

Domingo, 20 de agosto de 2017

A abertura do IMS Paulista foi adiada em um mês. Ainda assim seguimos com nosso calendário e começamos a segunda etapa da montagem, desta vez com as obras de The Americans emolduradas, um empréstimo da MEP (Maison Européenne de la Photographie/Paris). O conjunto, com a tiragem completa das 83 fotografias da série e mais uma imagem extra em forma de tríptico, é uma raridade – existem cerca de dez como esse no mundo todo. Cada uma das fotografias dessa tiragem, ampliadas na década de 1980 a partir dos negativos originais, está assinada por Robert Frank.

Segunda, 21 de agosto de 2017

Hoje subimos todas as obras para a parede e fizemos um ensaio geral da exposição, aproveitando a visita de Jean-Luc Monterosso, diretor da MEP, que veio conhecer o novo espaço do IMS Paulista. Com isso a sala ficou praticamente pronta, como estará no dia da inauguração – Books and Films de um lado, The Americans do outro, iluminação, vitrines, salinha das projeções de filme e tudo mais. Ao final do dia desmontamos e guardamos todo o conjunto da MEP, que, por razões de conservação, deverá aguardar a semana da abertura para retornar às paredes.

PARTE III

Segunda e terça, 11 e 12 de setembro de 2017

The Americans volta para a galeria. Recolocamos as obras em seus lugares, finalizamos as legendas e a luz. Enquanto isso começa o trabalho de adesivagem das peças da identidade visual – títulos, textos de parede, traduções e o mapa com as viagens de Robert Frank na seção Na estrada (On the road) – o design gráfico é sempre a etapa final das montagens. Quando saímos da galeria à noite, está tudo pronto para a coletiva de imprensa de amanhã e para a abertura do museu na terça, dia 19 de setembro.