Lendo Victor Heringer
Elvia Bezerra
No dia 16 de setembro o Clube de Leitura do IMS Rio completará quatro anos, ao longo dos quais um grupo de 20 pessoas se reúne duas vezes por mês, sempre às terças-feiras, para discutir desde clássicos da memorialística brasileira, como Minha formação, de Joaquim Nabuco, ou Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira, poesia como a de Drummond ou Ferreira Gullar, entre outros, além de romances de épocas diversas.
Cada título pode merecer uma sessão ou duas, a depender da complexidade da obra. Mas o gosto dos presentes pode, vez ou outra, alterar a ordem ou frequência de um roteiro que tem procurado contemplar os três gêneros aqui mencionados. E não é incomum que os sócios, fiéis na sua maioria, tenham suas reivindicações atendidas.
Foi o caso de O livro das semelhanças, da poeta mineira Ana Martins Marques. A obra encantou de tal modo a todos que o mediador, o professor Luciano Rosa, terá de voltar para fazer uma sessão extra no dia 28 de agosto.
No último dia 24 de julho, o livro lido e comentado pela professora Beatriz Resende foi O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer. Sua inclusão na lista do ano foi prevista ainda em janeiro, quando o autor trabalhava no Departamento de Literatura do IMS havia apenas um mês. Assumira em primeiro de dezembro. Os colegas que estavam na sala certamente não se esquecerão da alegria com que ele viu chegar a pilha de vinte exemplares do romance. Sim, porque compramos os livros e os emprestamos aos sócios. "Nunca vi tanto livro meu comprado de uma só vez", disse ele, sorrindo, feliz, enquanto os fotografava.
Evidentemente, a ideia era que a mediação fosse feita pelo próprio Victor. Ninguém ali naquela sala podia imaginar que ele nos deixaria em 7 de março, vinte dias antes de completar 30 anos de idade. Ninguém.
Victor Heringer tinha talento e vocação para escritor, mostram os prêmios que recebeu em sua curta trajetória. Queria ser lido, vivia para ser lido. Não se podia imaginar que a leitura de O amor dos homens avulsos, no Clube de Leitura do IMS, aqui em vídeo, se converteria em homenagem póstuma.
Fica a homenagem. Levarei comigo a frustração de não ter vislumbrado a sombra que pesava por trás do sorriso encantador do Victor.
- Elvia Bezerra é coordenadora de Literatura do IMS