Cronologia
Je m'obstine à avoir une vision poétique et un peu moqueuse du monde qui parfois se prend trop au sérieux.1
Stefania Bril (1922-1992)
Nascida na Polônia em 1922, em uma família judaica, chegou ao Brasil em 1950 com o seu marido, Casemiro Bril. O casal vinha da Bélgica, onde havia se formado em química, após emigrar da Polônia ao fim da Segunda Guerra. Trabalhou na Endoquímica, indústria que tinha, entre seus fundadores, Karl Slotta, descobridor da progesterona. Com ele, pesquisou a causa e a cura do vitiligo e, com seu marido, fez pesquisas em química nuclear.
O encontro com a fotografia não veio cedo. Em 1969, ingressou na Enfoco, escola de fotografia e, até seu falecimento em 1992, dedicou-se integralmente à fotografia. Realizou exposições individuais e coletivas, publicou livros de ensaios visuais e foi crítica de fotografia de O Estado de S. Paulo e da revista Iris. Como produtora cultural, idealizou e coordenou os Encontros Fotográficos de Campos do Jordão e a Casa da Fotografia FUJI. O ingresso de Stefania no universo fotográfico ocorreu num período de intensas mudanças no estatuto social da fotografia, no Brasil e no exterior. Ela participou ativamente da formação desse novo contexto, compreendendo sua prática não apenas na dimensão autoral, mas como um conjunto de ações que incluía o exercício da crítica e da história da fotografia e o agenciamento de iniciativas de difusão e de reflexão, necessárias para o adensamento do circuito fotográfico no país.
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1 Insisto em ter uma visão poética e um tanto zombeteira do mundo, que às vezes se leva muito a sério (tradução livre).
Na Europa, tempos de sobrevivência
1922
Stefania Ferszt nasceu, em Gdansk, na Polônia, em 25 de agosto, em uma família judaica, filha de Felicia (Felicja) Oppenheim e de Jacob (Jakub) Ferszt. Em documento sobre os sobreviventes do holocausto judeu, registrados em Varsóvia em 1945-1946, consta 1923 como o ano de seu nascimento2. O casal teve ainda outra filha, Halinka,3 mais velha.
Stefi, como era chamada em família, estudou numa escola municipal em Varsóvia, onde era a única aluna judia de sua classe.
1939
Até a irrupção da Primeira Guerra Mundial, os Ferszt viveram na rua Żórawia, em Varsóvia. Durante a guerra, decidiram permanecer na capital polonesa. Como estratégia de sobrevivência, adotaram nova identidade católica, com o sobrenome Filinski. Seus nomes passaram a ser Jan Filinski, Zofia Filinska e Stefania Filinska. Viviam do lado ariano da cidade. Halinka, estudante da Universidade de Varsóvia, foi enviada para a Bélgica por seus pais, para estudar na École des Hautes Études Commerciales, de Antuérpia.
Quando a Alemanha atacou a Rússia, a família peregrinou por vários locais da Polônia e da Ucrânia. De acordo com Casemiro Bril, “sempre seguindo os exércitos alemães, mas sem jamais ter conseguido passar para o lado russo: no início na direção de este e, depois, com a iniciante derrota alemã, na direção de oeste, de volta para Varsóvia”.4
1944
Stefania e seus pais moravam na rua Wspólna, 40, apartamento 6.
1945
Durante um curto período, em fevereiro, Stefania e sua família partiram de Varsóvia para Lublin, cidade onde funcionava o governo provisório apoiado pelos russos. Lá, Stefania trabalhou na rádio local, onde escrevia, segundo Casemiro Bril, “lindas, tristes e comoventes crônicas, que eram transmitidas pelo éter e provocavam rios de lágrimas nos ouvintes”5. Em maio, novamente em Varsóvia, trabalhou na Polskie Radio.
Com Varsóvia destruída, Lodz tornou-se a capital temporária da Polônia. A família Ferszt mudou-se para a cidade. Moraram na rua Swietokrzyska, 6, m.8.
Os pais de Stefania abriram uma loja de doces caseiros e, após o insucesso comercial, um comércio de barbantes, fitas e cordas, com o qual conseguiram alguma segurança financeira. Stefania ingressou no curso de psicologia na Faculdade de Humanidades da Universidade de Lodz, recém-aberta pelas autoridades polonesas.
Em Lodz, Stefania conheceu Casemiro Bril (Kazimierz Józef Bril), também judeu, que havia escapado do gueto de Varsóvia pouco antes do levante e sobreviveu em esconderijos em casas de poloneses católicos e em porões de prédios abandonados. Seu irmão e seus pais não tiveram a mesma sorte. Na cidade, Casemiro conseguiu trabalho como revisor noturno no jornal Robotnik, periódico que havia sido fundado pelo Partido Socialista Polonês, em 1894. De acordo com suas memórias, Bril narra ter feito a revisão do jornal que anunciou o fim da guerra, em 8 de maio6. Após ser demitido do jornal, trabalhou na fábrica de tecidos de um tio, como guarda noturno.
Casemiro e Stefania casaram-se em 5 de agosto, após dois meses de namoro. A cerimônia foi realizada por Jacob, pai de Stefania. Por ainda utilizar o nome católico, Filinski, o casamento não poderia ser celebrado por um rabino.
Em outubro, Casemiro e Stefania se inscreveram no curso de matemática e biologia, na Faculdade de Matemática e Ciências Naturais, na Universidade de Lodz7. Segundo Casemiro, ele convenceu Stefania a mudar seu curso para química e a abrir mão de suas atividades na política estudantil8. Ao contrário de seu marido, capitalista convicto, Stefania simpatizava com as ideias comunistas.
Ainda em Lodz, a família Ferstz-Bril soube que Halinka havia sobrevivido ao holocausto. Continuava vivendo na Bélgica e estava prestes a se casar com um polonês católico. O casal tinha a intenção de emigrar para São Paulo, cidade onde vivia, desde a década de 1930, a irmã de Jacob, Lola Ferszt-Milchior.
1946
Em abril, Stefania retomou sua identidade judaica. As incertezas em relação ao futuro na Polônia, cada vez mais submissa ao governo soviético, e ainda sob as ameaças do antissemitismo, levaram as famílias Ferszt e Bril a sair do país. Em junho, partiram de trem até o porto de Gdynia. No dia 20, embarcaram para Londres, com destino a Bruxelas. Felicia e Jakob Ferszt decidiram emigrar logo para São Paulo. O casal Bril optou por permanecer na Europa. Em Londres, onde ficaram apenas um dia, solicitaram uma bolsa para continuar seus estudos em química, na Universidade de Oxford, mas não obtiveram sucesso. Em Bruxelas, aonde chegaram em 26 de junho, foram recebidos por Halinka e seu marido, que estavam prestes a embarcar para o Brasil.
Stefania e Casemiro solicitaram admissão e bolsa de estudos no curso de química na Universidade Livre de Bruxelas, na qualidade de perseguidos de guerra e fugitivos de país comunista. Enquanto aguardavam a resposta, viajaram a Paris, onde também tentaram ingresso na tradicional Sorbonne. Foram aceitos, mas não tinham condição de se sustentarem sem o auxílio, que lhes foi negado, e resolveram retornar à Bélgica.
Conseguiram uma bolsa de estudos na Universidade Livre de Bruxelas, feita sob medida para eles. Ofertada por um doador anônimo polonês que tinha perdido sua filha no gueto de Varsóvia, a bolsa custearia os estudos em Bruxelas e a manutenção de três estudantes judeus e fugitivos poloneses, por quatro anos. A única condição era a dedicação exclusiva e o bom desempenho escolar.
A universidade havia sido fundada em 1834, após a independência belga, por maçons, com a intenção de combater a intolerância, o preconceito e incentivar a circulação das ideias iluministas. Durante a Segunda Guerra, com a ocupação alemã, a universidade preferiu fechar suas portas, embora alguns professores continuassem ministrando aulas de forma clandestina. Vários alunos e professores se engajaram na Resistência.
Embora Stefania e Casemiro tivessem ingressado na Universidade no momento em que as atividades começavam lentamente a ser retomadas, eles contaram com professores de grande destaque no mundo da ciência, entre os quais Paul Goldfinger e Ilya Prigogine, o filósofo e cientista russo que ganharia, em 1977, o Prêmio Nobel de Química por seus estudos em termodinâmica de não equilíbrio.
Stefania e Casemiro foram obrigados a se casar novamente na Bélgica, por uma ameaça de despejo de seu senhorio, que notou que ela ainda mantinha seu nome de solteira. O casamento ocorreu em 25 de setembro, no prédio da municipalidade do bairro de Schaerbeek.9
Em novembro, os pais de Stefania emigraram para São Paulo.
1947
Durante seu confinamento no gueto de Varsóvia, Casemiro estudou em escolas clandestinas mantidas por cientistas e professores eminentes, também judeus. Lá adquiriu excelentes conhecimentos de química e matemática, que lhe possibilitaram adiantar-se nos estudos em Bruxelas. Stefania, além do curso universitário, cuidava da casa e, já sem os pais, enfrentou momentos difíceis. De acordo com o relato de Casemiro, “Stefi passou, após o mois de bloc e após os exames, por um período de ‘quase’ depressão nervosa”.10
Os Bril mudaram-se da grande rue au Bois, 24, casa onde moraram com os Ferszt, para um apartamento na rua Birmingham, 321, onde permaneceram por pouco tempo, devido à falta de água quente no imóvel.
Até a partida definitiva da Bélgica, os Bril residiram num pequeno apartamento na rue du Frontispice, 73.
1948
Embora a guerra tivesse acabado, o fantasma de um novo conflito continuava pairando sobre o velho continente. Surgiram e se consolidaram diversos movimentos pacifistas, com maior ou menor permanência no cenário mundial. Stefania e Casemiro tornaram-se membros do movimento internacional Stop-War, fundado e presidido em Florença pelo barão belga Antoine Allard. O casal também se registrou no movimento World Passport, liderado pelo ativista Garry Davis, ator e piloto americano que atuou na guerra e que abdicou de sua cidadania para se autoproclamar “cidadão do mundo”. O Conselho de Solidariedade criado por Garry teve apoio de figuras notórias, como o escritor Albert Camus e a primeira dama norte-americana, e defensora dos direitos humanos, Eleanor Roosevelt. Stefania e Casemiro figuram com os números 726 e 727 da Comunidade Internacional de Cidadãos do Mundo, que chegou a contar com 750 mil membros.
1949
Casemiro foi convidado a trabalhar como assistente da professora Lucia de Brouckère, no Laboratório de Química Geral. Lucia trabalhava com Ilya Progogine na pesquisa sobre termodinâmica. Nesse momento, Stefania cursava seu último ano de licenciatura.
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2 United States Holocaust Memorial Museum; Washington, DC; Komitet Zydowski w Warszawie. Karty rejestracyjne Zydów ocalalych z Zaglady sporzadzone w Warszawie (Sygn. 303/V); Record Group: RG-15.147; File Name: RG-15.147_a_page_0065. Consultado em search.ancestry.com/cgi-bin/sse.dll?indiv=1&dbid=2357&h=48358&tid=&pid=&usePUB=true&_phsrc=lhW34&_phstart=successSource, em 12 de julho de 2019.
3 Bril, Casemiro. “Minha vida”. Texto inédito.
4 Ibidem.
5 Ibidem.
6 Ibidem.
7 Ibidem.
8 Ibidem.
9 Ibidem.
10 Ibidem.
No Brasil, química e novas descobertas
1950
Em junho teve início a Guerra da Coreia, primeiro grande conflito da chamada Guerra Fria, longa disputa entre as duas grandes potências mundiais representantes do capitalismo e do comunismo, que trouxe novamente uma ameaça real à paz mundial. Casemiro e Stefania, pressionados pelos Ferszt, e traumatizados pela trágica experiência ainda não superada, decidiram emigrar para o Brasil.
Apesar das dificuldades impostas pelo governo brasileiro aos estrangeiros de origem judaica, os Bril conseguiram o visto para viajar ao país em caráter permanente, graças a um contrato de trabalho fictício da Companhia Química do Paraná, que pertencia a Henryk Zylberman, conhecido do pai de Stefania.
Zarparam de Bordeaux no velho navio S/S Groix e desembarcaram no porto de Santos em 20 de novembro.
Além do reencontro com a família de Stefania, os Bril foram introduzidos ao círculo de judeus poloneses que, como eles, haviam emigrado para São Paulo, alguns ainda na década de 1930.
Casemiro passou a frequentar o Departamento de Química da Universidade de São Paulo, que tinha diversos professores judeus fugitivos do nazismo, como os alemães Heinrich Hauptmann e Heinrich Rheinboldt. De acordo com Casemiro, eles eram “praticamente os fundadores do Departamento de Química da USP e trabalhavam em São Paulo desde 1934”.11
Stefania conseguiu rapidamente emprego no laboratório de controle de qualidade de uma metalúrgica, em Utinga, no município de Santo André, considerado na época distante de São Paulo.
1951
Casemiro conheceu Pawel (Paulo) Krumholz, notório químico polonês, formado em Viena, que havia emigrado para o Brasil em 1941. Pesquisador e hábil empresário, foi um dos fundadores da Orquima S.A, da qual era sócio minoritário. Krumholz convidou Casemiro para ingressar nessa empresa em condições muito favoráveis. Trabalharia diretamente ligado a Krumholz, desenvolvendo pesquisas de forma independente da fábrica, mas por ela financiadas.
Nesse mesmo ano, Stefania foi convidada para trabalhar na indústria farmacêutica Endoquímica, diretamente com o professor Karl Heinrich Slotta, na pesquisa sobre a origem e a possível cura do vitiligo. Slotta, nascido em Breslau (pertencente à Alemanha, hoje cidade polonesa), é mundialmente conhecido por ter descoberto, em 1934, a progesterona. Já no Brasil, em 1935, trabalhou no Instituto Butantan, onde “lançou as bases da química e da farmacologia experimental”.12 Demitido sumariamente em 1938, com a extinção da Seção de Química do instituto, por parte do governo federal, Slotta tornou-se sócio fundador da Endoquímica S.A.
O casal Bril teve a experiência de trabalhar em duas das poucas empresas privadas que, então, investiam em pesquisas científicas no país, ao lado de dois relevantes cientistas. Na Orquima, Casemiro trabalhou por 13 anos, e suas pesquisas foram importantes para o desenvolvimento das técnicas para a separação do urânio e do tório, materiais radioativos para a produção de energia nuclear, a partir da monazita, minério de terras raras.
A Orquima (Organo-Química) havia sido fundada em 1942 por um grupo de químicos judeus que emigraram da Áustria para o Brasil fugindo do nazismo. O sócio mais famoso da empresa era o cronista e poeta modernista Augusto Frederico Schmidt. Desde sua fundação até o fim da Segunda Guerra, a indústria dedicou-se prioritariamente à síntese e à exportação da cafeína, matéria-prima para a produção da Coca-Cola, usada pelo exército norte-americano para manter seus soldados em alerta.
Com o fim do conflito, a Orquima passou a se dedicar, em 1946, à química mineral, com ênfase no processamento da monazita, produzindo tório e urânio, elementos essenciais para a indústria nuclear.
1953
Stefania, ao lado de Karl Slotta e do médico Luigi Frankenthal publicou o artigo “Estudos bioquímicos sobre a formação da melanina na pele humana”,13 fruto de sua pesquisa sobre o vitiligo.
Em 13 de setembro, nasceu na Maternidade Pro Matre Michele-Annie, filha de Stefania e Casemiro. Antes do nascimento de Michele, o casal mudou-se de casa. Deixaram a rua Saint Hilaire, nos Jardins, para morar na rua Michigan, 582, no bairro de Cidade Monções, mais próximo dos seus locais de trabalho. Stefania, contudo, se desligou da Endoquímica.
1954
Novo artigo de Stefania, com Slotta e A. Bellester, intitulado “Der ‘Sog’ ub der Papierelektrophorese” é publicado na Zeitschrift für physiologische Chemie.14
A partir desse ano, até 1962, Stefania passou a trabalhar ao lado de Casemiro na Orquima. De acordo com ele, “foram anos de realização de um sonho. Sempre quis trabalhar junto com a minha esposa. Mas sonhos, quando enfrentam a realidade, têm que se adaptar a ela. Os nossos levaram, com o passar do tempo, a caminhos muito distintos. Eu continuei o meu caminho de químico, e Stefi desabrochou como fotógrafa, jornalista e promotora de eventos fotográficos.”15
Durante esse tempo, o casal realizou pesquisas conjuntas que resultaram em artigos publicados em diversas revistas especializadas e apresentadas em congressos internacionais, em geral com a assinatura do casal Bril e de Pavel Krumholz.16
1955
Stefania adquiriu a nacionalidade brasileira.
1956
Em 31 de julho, faleceu Jacob Ferszt.
Stefania, Casemiro e Michelle mudaram-se para uma casa própria, na Vila Elvira, rua Quatro, 89, no bairro de Santo Amaro.
1960
Em 19 de novembro, nasceu Jacqueline Helène, segunda filha de Stefania e Casemiro.
1962
Com a aquisição da Orquima pelo Instituto de Energia Atômica (IEA), Stefania interrompeu sua colaboração com a empresa. Casemiro, por sua vez, acompanhou o dr. Pavel Kumholz, que aceitou o cargo de chefe da Divisão de Engenharia Química do instituto.
1963
Stefania realizou sua primeira viagem de retorno ao velho continente desde sua partida em 1950. Em Paris, encontrou Casemiro, que realizava viagem de trabalho. Por três semanas, além da capital francesa, visitaram Grenoble, Deux Alpes e Bruxelas.
1964
Com o golpe militar de 31 de março, a situação na antiga Orquima mudou. Com a saída do professor Kumholz, que preferiu voltar a sua atividade de pesquisador na USP, Casemiro assumiu seu lugar, mas, em dezembro de 1965, deixaria também o IEA.
1965
O casal Bril comprou um apartamento em Campos do Jordão, que passou a frequentar com assiduidade. No quarto de empregada, Stefania criou uma incubadora de tulipas e jacintos. De acordo com ele, Stefania “descobriu uma técnica para fazer crescer estas plantas no clima tropical do Brasil e chegou até a vender algumas dezenas de flores para os hóspedes interessados do Grande Hotel. Fazia isso antes de Holambra começar a criar tulipas no Brasil industrialmente”.17
Em Campos do Jordão, Stefania construiu um jardim e, de sua vontade de registrar as flores, nasceu seu interesse pela fotografia.
1966
O casal Bril embarcou novamente para a Europa. O casamento passava por uma séria crise, que quase levou à separação.
Ao retornar da viagem, Casemiro assumiu novo trabalho na farmacêutica norte-americana Pfeizer, como executivo que dirigiria a entrada da empresa no ramo da indústria mineral.
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11 Ibidem.
12 Karl Heinrich Slotta. Zelnik, Raymond. Memorial Instituto Butantan, São Paulo, 1988.
13 O Hospital, 43:523, 1953
14 Ztscgr. Physiol. chem., 296; 141, 1954
15 Bril, Casemiro. Op. cit.
16 Entre os artigos, encontram-se: K. Bril, S. Bril e P. Krumholz. “The Kinetics of Displacement Reactions Involving Metal Complexes of Ethylenediam inetetraacetic Acid”. The Journal of Physical Chemistry, 1955; Krumholz, P., K. Bril, S. Bril, J. Behmoiras, F. Gottdenker e F. W. Lima. “Brazilian Practice in the Separation of Rare Earths”. Second United Nations International Conference on the Peaceful Uses of Atomic Energy, Genebra, 28, 184 (1958); K. Bril, S.Bril, e P. Krumholz. “Separation of Metal Ions by Means of Ion Exchange Membranes. I. Separation of Rare Earth Mixtures, and of Thorium-Rare Earth Mixtures Using Ethylenediaminetetraacetic Acid”. The Journal of Physical Chemistry, 63, 256059 (1959).
17 Bril, Casemiro. Op. cit.
Na fotografia, de corpo e alma
1969
Stefania ingressou na Enfoco – Escola de Fotografia. A escola havia sido fundada no ano anterior por Cláudio Araújo Kubrusly, repórter fotográfico recém-demitido do Jornal do Brasil. Em atividade até 1976, a Enfoco recebeu mais de 800 alunos, entre os quais os fotógrafos hoje consagrados Ana Mariani, Antonio Saggese, Dulce Soares, Lily Sverner, Nair Benedicto e Zé de Boni. Entre os professores da escola, uma das mais atuantes foi Maureen Bisilliat, que ingressou no final de 1969.
Além das aulas, a Enfoco tinha intensa atividade cultural, realizando mostras de trabalho dos alunos, projeção de filmes e shows performáticos. Outro professor da escola foi Cristiano Mascaro, atuante de 1972 até 1975. Entre 1974 e 1976, a escola manteve a Galeria Enfoco, em sociedade com Paulo Mello.
Em seu currículo, Stefania declarava-se “fotógrafa formada pela escola Enfoco – professor Cláudio Kubrusly”.18
A primeira câmera utilizada por Stefania foi uma Konica. Adquiriu depois uma Olympus e, posteriormente, uma Nikon F2.
1970
Stefania apresentou pela primeira vez suas fotografias em exposição individual no Clube Hípico de Santo Amaro.
Imagens de sua autoria integram o álbum Brasil anos 70, uma edição artesanal com tiragens originais.
1971
Stefania e suas filhas viajaram em janeiro para Paris, onde encontraram Casemiro.
Em 17 de junho, inaugurou exposição individual na galeria Alberto Bonfiglioli, na rua Augusta, 2995. Sobre a mostra, o jornal Folha de S.Paulo publicou: “Ela procura captar flagrantes da vida transmitindo uma mensagem profundamente humana”.19
A matéria mencionava ainda a iminente edição de um livro com as obras da mostra e texto de Indá Soares Casanova, projeto que não chegou a se concretizar.
De 24 a 31 de julho, apresentou nova mostra individual durante o II Festival de Inverno de Campos do Jordão. Tratava-se de fotografias de “pessoas e motivos locais” e contou com textos-legenda de autoria de Paulo Bonfim, Inda Soares e da própria fotógrafa.20
O Festival de Inverno, dedicado à musica erudita e organizado pela Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo, havia sido criado no ano anterior pelos maestros Eleazar de Carvalho, Camargo Guarnieri e Souza Lima. Com periodicidade anual, o festival se destaca, até hoje, pela qualidade de seus convidados e pelo trabalho pedagógico de formação musical.
Em novembro, o nome Stefania Bril constava entre os candidatos inscritos no grande concurso nacional de fotografia Retrato do Brasil, promovido pela revista Realidade, para profissionais e amadores. Apesar de não ter sido premiada, de acordo com a revista, os nomes listados “podiam ter ganhado. Eles não receberam prêmio, mas seus nomes ficaram até o fim entre os melhores.”21
1972
Apresentou imagens de sua série As mãos, no showroom mantido pela Fotoptica.
1973
Participou de mostra coletiva na Photogaleria, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, integraria a coletiva organizada pelo grupo Photogaleria, no Centro Cultural Alberto Bonfiglioli, em São Paulo.
1974
Lançou o livro Entre, com apresentação de Boris Kossoy, e poesias de Olney Kruse. De acordo com Stefania, tratava-se um uma publicação “sobre o insólito e o poético de São Paulo”.
1975
Apresentou a mostra Flagrantes paulistas e estrangeiros, com imagens tiradas nas ruas de São Paulo, Paris e Amsterdã, no showroom da Galeria Fotoptica no Shopping Iguatemi, na capital paulista.
Participou, com fotografias, da série etc..., do Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Uma propaganda da câmera Olympus OM-I, publicada em jornais, com o texto “Todo mundo gostaria de ter um amigo fotógrafo na hora de escolher uma câmera. Se você não tem nenhum, nós apresentamos seis”, convidava seis fotógrafos, entre eles Stefania Bril, para opinar sobre a nova máquina. De acordo com Bril, “esta concepção de fotografia de Cartier-Bresson é também a minha (...), também sou fotógrafa de calçada e por isso acho a Olympus OM-I a máquina ideal: ela é compacta, super leve e muito jeitosa”.22
Em dezembro, participou da Sala de Fotografia, na 13ª Bienal Internacional de São Paulo, com 34 obras. Pela primeira vez, a Bienal teve uma sala exclusiva dedicada à fotografia brasileira.
1976
Apresentou a mostra Israel-gente, na galeria Atualidades, da Hebraica, em São Paulo.
1977
Realizou mostra individual na galeria Alberto Bonfiglioli, com 40 imagens urbanas, em preto e branco, tomadas em São Paulo, Paris, Amsterdã e Jerusalém.
Em agosto, apresentou a individual Flagrantes do Brasil e da Europa, no Centro Cultural de Convivência de Campinas.
1978
Concebeu e coordenou o I Encontro Fotográfico em Campos de Jordão, evento sem precedentes no país, baseado nos Rencontres de la Photographie, em Arles, na França, festival fundado em 1970 pelo fotógrafo Lucien Clergue, o escritor Michel Tournier e o historiador Jean-Maurice Rouquette. A intenção de Stefania, de acordo com suas palavras, era a de “implantar no país uma linguagem fotográfica e, ao mesmo tempo, promover um diálogo mais aberto com outras formas de expressão visual”.23 No evento, ela apresentou a palestra “Focalizando fotógrafas”, sobre as mulheres pioneiras na história da fotografia.
Em setembro, publicou sua primeira crítica de fotografia, no suplemento cultural do jornal O Estado de S. Paulo, intitulada “A fotografia como forma de expressão”. A partir desse momento, e até 1991, seria colaboradora regular desse periódico, como crítica de fotografia.
1979
Organizou o II Encontro Fotográfico em Campos do Jordão. Material sobre o projeto e as atividades desenvolvidas nos dois encontros, e ainda sobre o projeto de um terceiro, não realizado, podem ser encontrados no Arquivo Stefania Bril, no IMS.
1981
Tornou-se membro da Associação Paulista de Críticos de Arte. Nesse ano, foi uma das autoras do livro A arte do caminhão, concebido pelo jornalista Mario Ernesto Humberg, com fotografias suas, em preto e branco, registrando as frases inscritas em para-choques dos caminhões. A publicação, que também incluiu imagens coloridas de Bob Wolfenson, foi oferecida como brinde de Natal pela empresa Glasurit.
1982
Iniciou colaboração como colunista da revista Iris, que perduraria até 1991. Seu primeiro artigo, intitulado “O universo do corpo na realidade fotográfica”, foi publicado no número 346.
Stefania viajou para Paris para acertar os detalhes da exposição Brésil des Brésilians, que abriria no ano seguinte na Bibliothèque Publique d´Information (BPI), no Centro Georges Pompidou.
Realizou também viagem para Nova York, em companhia de sua filha Michelle e de sua amiga, também fotógrafa, Alice Brill. Fotografias da viagem encontram-se no Arquivo Stefania Bril, no IMS.
1983
Tornou-se membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Coordenou, ao lado de L. M Albigés, a exposição Brésil des Brésiliens. A mostra apresentou 150 fotografias de 50 autores, e percorreu a França por dois anos. Correspondências e material sobre a organização da mostra encontram-se no Arquivo Stefania Bril no IMS.
Participou ainda dos seminários A leitura da imagem, em Belo Horizonte e Curitiba. Suas conferências versaram sobre a profissão de fotógrafa, sobre a participação da mulher na fotografia, a estética da foto, o mercado de arte fotográfica e a fotografia como arma de luta social.
Realizou entrevistas com o fotógrafo André Kertész, em Nova York, e o pensador Vilém Flusser, no Rio de Janeiro. Documentação desses encontros consta do Arquivo Stefania Bril.
1987
Lançou o livro Notas – Vinte e nove notas da fotografia, com prefacio de Pietro Maria Bardi, diretor do Masp, e apresentação de Sergio Oyama, editor da revista Irisfoto. A publicação traz uma seleção de comentários da autora, publicados na revista Iris, sobre obras escolhidas dos mestres da fotografia. Na apresentação do livro, Stefania escreveu: “São notas publicadas durante mais de dois anos na revista Iris. Meus encontros com a imagem. Apaixonados. Fotos que, sem pedir licença, se insinuavam entre as pálpebras, colavam na pele, aconchegavam-se na memória. Companheiras inseparáveis, habitavam dentro de mim. E as personagens (ou as pessoas) que até agora viviam aprisionadas na imagem renasciam dentro da nova moradia. Cativadas, soltavam-se e contavam histórias, sem fim. Eu as ouvia e... anotava. Só.”24
Stefania planejou, sem chegar a concretizar, um segundo volume de Notas, dedicado a obras de fotógrafos brasileiros. Documentação sobre o projeto encontra-se no Arquivo Stefania Bril, no IMS.
1990
Em 23 de agosto, foi inaugurada a Casa da Fotografia Fuji, um “ponto de encontro de fotógrafos e amantes da imagem”,25 nas palavras de Stefania Bril, coordenadora e idealizadora do centro cultural, patrocinado pela empresa japonesa Fuji. O objetivo da Casa era criar um centro internacional para a discussão sobre a imagem e para a formação do fotógrafo profissional e amador no Brasil. Contava com biblioteca de referência, dois auditórios e espaço para exposições. A mostra de inauguração apresentou O olhar da F4, coletiva de trabalhos dos integrantes de uma das primeiras agências de fotografia no Brasil. Material sobre o projeto da Casa da Fotografia pode ser encontrado no Arquivo Stefania Bril.
1991
Entre as exposições organizadas por Stefania na Casa da Fotografia Fuji, destacou-se a retrospectiva do fotojornalista suíço Werner Bischof.
1992
Em setembro, Stefania faleceu em São Paulo por complicações de uma hepatite.
1993
Em 10 de agosto, a Casa da Fotografia Fuji e a Fujifilm, realizaram homenagem a Stefania Bril, com a exposição Viva a vida. No fôlder da mostra, Olney Kruse, crítico, fotógrafo e amigo de Stefania escreveu:
Olhando sua obra fixada em seis mil e poucos negativos tenho a impressão de que ela foi a primeira fotógrafa do mundo logo depois que Deus abriu as portas do Paraíso. Stefania sabe quase tudo sobre a idade da inocência. As fotografias dela têm incomum relação entre mulher e artista. Ela fotografa a sua própria extensão. Como foi simples, são simples seus fotogramas. Nada de espetacular, grandioso, dramático. Stefania Bril não era ópera. Foi música de câmera. Tinha predileção notável pelos momentos banais desde que visceralmente poéticos. Ela é a fotógrafa dos contrastes entre infância e velhice; o branco e o negro; a luz e a sombra. Fotógrafa das mãos humanas, dos pássaros, do diálogo possível entre as pessoas nas ruas. Amava Cartier-Bresson, nunca escondia isso. Bem ao contrário. Sabia o valor da palavra escrita. Por isso escreveu em jornais, revistas e estava sempre atenta ao que lia nas ruas, nos muros, nos poemas, nas partes externas dos caminhões. Que mulher!26
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18 Bril, Stefania. Curriculum, s.d. (documento datiloscrito).
19 Folha de S.Paulo, 27 de junho de 1971.
20 Folha de S.Paulo, 11 de agosto de 1971.
21 Realidade, novembro de 1971, p. 47.
22 Jornal do Brasil, 6 de agosto de 1975.
23 O Estado de S. Paulo, 15 de junho de 1978.
24 Bril, Stefania. “Nota da autora”. In Notas – Vinte e nove notas da fotografia. São Paulo: Prêmio Editorial, 1987.
25 O Estado de S. Paulo, 23 de agosto de 1990.
26 Kruse, Olney. Exposição Viva a vida! São Paulo: Casa da Fotografia Fuji, 1993.
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