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Música no jardim do IMS Rio

27 de janeiro de 2020 |

Tom Veloso canta Gilberto Gil abre no fim de tarde do domingo, 2 de fevereiro, a série de shows gratuitos ao ar livre Música no Jardim, no IMS Rio. Com curadoria do jornalista Leonardo Lichote, que assina o texto de apresentação abaixo, o projeto prevê seis apresentações ao longo de 2020, sempre às 17h, começando com o show do filho de Caetano. Para 16 de fevereiro, outro domingo, já está programado o espetáculo Mart’nália canta Martinho da Vila.

O músico Tom Veloso, que se apresenta no IMS Rio no dia 2 de fevereiro (Foto: Fernando Young)

O inferno pra outro lugar

Leonardo Lichote

 

É famosa a frase de Dona Canô para seu filho Caetano Veloso, avisando que Gilberto Gil – na época um compositor dando seus primeiros passos – estava na TV: “Venha ver o preto que você gosta”. Caetano escreveu décadas depois: “​Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente..

“Agora estamos aqui do outro lado do espelho”, diz a canção de Caetano que fala de conexões entre o Rio e a Bahia – via Mangueira – e cita o dois de fevereiro como um desses pontos de ligação mítico – via Jamelão, que era frequentador da festa em Salvador.

É exatamente num dois de fevereiro que, do outro lado de um outro espelho, Tom Veloso saúda de forma direta e transcendente a existência de Gil. O jovem cantor e compositor visita a obra do preto baiano na abertura do projeto Música no jardim no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro – no dia 16 de fevereiro, Mart’nália canta Martinho da Vila, dando continuidade à série.

A relação de Tom com Gil ultrapassa o olhar íntimo de alguém que o conhece desde que nasceu (“nos verões na Bahia sempre passamos muito tempo na casa dele, ele o tempo todo com o violão, passa o dia tocando”, lembra o artista de 22 anos). Compositor que tem chamado a atenção por seu trabalho com a banda Dônica e por canções gravadas por nomes como Roberta Sá ("Um só lugar, parceria com Cézar Mendes"), Carminho ("O sol, eu e tu", que ele assina com Caetano e novamente com Mendes) e o próprio Caetano ("Clarão", que eles cantam juntos no show Ofertório), Tom tem em Gil uma referência central:

– É o cara que me fez olhar pro violão e ter vontade de tocar. Aprendi o instrumento pra tentar reproduzir aquelas levadas, aquelas introduções, aqueles acompanhamentos. Quando comecei a tocar com 13,14 anos, me dediquei a aprender a introdução de "Expresso 2222", a de "Drão", as levadas de cordas soltas de "A paz" e de tantas outras. Eu nunca havia sido chamado pra tocar um repertório de outro artista. Escolhi Gil porque a música dele está dentro de mim.

Acompanhado do baixista Miguel “Miguima” Guimarães, seu colega na Dônica, Tom passa por canções de diferentes fases e estilos de Gil – um recorte sem limites claros, movido por “sentimentos e sensações”, nas palavras do artista.

– O show acabou não tendo um corte, ou pelo menos não ficou claro pra mim ainda qual é. Escolhi músicas de épocas variadas. Músicas dançantes, tristes, de amor, de paz... Procurei escolher as mais belas melodias, as que me tocam mais.

Bahia e Rio. Iemanjá e São Sebastião. O mar de Caymmi e o jardim de Burle Marx. Juventude e maturidade. Veloso e Gil. Muitos espelhos, e seus muitos outros lados, que se erguem nesse dois de fevereiro. E que, a despeito da leveza de fim de tarde, e talvez por ela, condensam uma essência necessária de Brasil – fogo eterno pra afugentar o inferno pra outro lugar.

 A cantora e compositora Mart'nália, que se apresenta em 16 de fevereiro (Foto: Stucky)

 

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