Idioma EN
Contraste

Evandro Teixeira


CRONOLOGIA

Na redação do Jornal do Brasil, Evandro Teixeira era conhecido como "o cara que resolvia". Foi assim, ao fotografar sua cidade e seu país, que acabou por se projetar para o mundo. Integrou uma exposição da Leica, em Nova York, ao lado de nomes como Cartier-Bresson e Robert Capa. Seu nome consta na exclusiva Enciclopédia Suíça de Fotografia. Conquistou admiração e reconhecimento, e até o louvor de Carlos Drummond de Andrade, que no poema Diante das fotos de Evandro Teixeira, vaticinou: "Fotografia: arma de amor, de justiça e conhecimento".


1935-1961

1935: Evandro Teixeira de Almeida nasce em 25 de dezembro em Irajuba, na Bahia, então um pequeno povoado a 307 quilômetros de Salvador. O pai, Valdomiro Teixeira, o Vavá, era fazendeiro, e a mãe, Almerinda Teixeira de Almeida, conhecida como Nazinha, dona de casa. Uma mulher forte, "retada", nas palavras da neta Carina.

1950: Muda-se para Jequié, para continuar os estudos, e trabalha no Jornal de Jequié. Compra sua primeira câmera fotográfica, "muito simplesinha". Em seguida vai para Ipiaú, aprender fotografia com Teotônio Rocha, primo de Glauber Rocha, e lá trabalha no jornal Rio Novo. Compra sua segunda câmera, uma Polaroid.

1954: Muda-se para Salvador. Lá faz um curso de fotografia por correspondência com José Medeiros (1921-1990), através da revista O Cruzeiro, e trabalha como estagiário no jornal Diário de Notícias.

1957: Desembarca no Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para estagiar no vespertino Diário da Noite, do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand.

1958:  Começa a estagiar no Diário da Noite, produzindo fotos também para O Jornal (matutino do mesmo grupo). Seu primeiro trabalho foi na seção de registros de casamentos, na qual, por orientação racista do periódico, não eram publicadas fotos de negros. Em sua primeira saída na função, Evandro fotografou na Gávea o casamento de uma alemã com um negro, e foi defenestrado. Sua segunda chance, fotografar o desfile de fantasias no Baile do Teatro Municipal, durante o carnaval, também deu errado. Ele não chegou a tempo à passarela. Só conseguiu ser bem-sucedido na terceira e derradeira oportunidade: registrar o desfile das escolas de samba, então na Avenida Rio Branco. Foram essas fotos o pontapé inicial na profissão.

1961: É convidado para trabalhar no Jornal do Brasil, mas prefere continuar no Diário da Noite. No livro Evandro Teixeira: um certo olhar, de Silvana Costa Moreira (7Letras, 2014), ele explicou a recusa: "Eu não posso ir pro Jornal do Brasil. O JB é a elite e não estou preparado".


1962-1985

1963: Finalmente aceita o convite para trabalhar no Jornal do Brasil. Será uma parceria longeva: o fotógrafo integra a equipe de fotojornalismo da casa por  47 anos, até 2010, quando para de circular a edição impressa do jornal.

1964: Casa-se em fevereiro com Marly Caldas de Almeida, professora. A primeira de suas duas filhas, Carina, nasce em setembro.

Cobre o golpe militar no Brasil. Consegue entrar no Forte de Copacabana na madrugada do dia 1º de abril, quando é tomado pelos golpistas, e testemunha a chegada ao local do general Humberto Castello Branco (1897-1967), que se tornaria o primeiro presidente militar desse período. A foto é publicada na capa do jornal no dia seguinte, e torna-se um marco na história política do país.

1968: Em março, nasce sua segunda filha, Adryana.

Cobre, para o JB,  as manifestações do movimento estudantil no Rio de Janeiro e a repressão do regime militar, produzindo fotos que se tornariam emblemáticas da luta pela liberdade. Entre elas, o confronto de estudantes e policiais a cavalo no Centro do Rio e a Passeata dos Cem Mil.

1969: Integra, em maio, exposição no Museu de Arte Moderna, no Rio, com 12 obras de artistas selecionados para a representação brasileira na 4ª Bienal de Paris, em outubro do mesmo ano. A obra de Evandro era A queda do motociclista da FAB (1965), considerada provocativa pelo regime militar, assim como a de Antonio Manuel, Repressão outra vez: eis o saldo (1968).  Horas antes da abertura, no dia 29, policiais chegaram ao MAM e confiscam os trabalhos. O Brasil não participou da Bienal de Paris naquele ano, e o episódio foi um dos pivôs de um grande movimento de  boicote nacional e internacional à X Bienal de São Paulo, inaugurada em setembro.

1973: Cobre no Chile o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende (1908-1973) e instituiu a ditadura do general Augusto Pinochet (1915-2006). Também registra os momentos que se seguiram à  morte do poeta Pablo Neruda (1904-1973) – ele foi o único jornalista a fotografar Neruda morto, ainda no hospital – e documentou a comoção no país.

1983: Lança o livro Fotojornalismo (editora JB), com prefácio e texto do poeta Carlos Drummond de Andrade e dos escritores Otto Lara Resende e Antonio Callado.

1985: O poema “Diante das fotos de Evandro Teixeira” integra Amar se aprende amando, último livro de Carlos Drummond  de Andrade (1902-1987) publicado em vida. “dois olhos não são bastantes / para captar o que se oculta / no rápido florir de um gesto. / É preciso que a lente mágica / enriqueça a visão humana / e do real de cada coisa."

 

 


1986-2009

1989: Em 26 de março, durante o Grande prêmio Brasil de Fórmula 1, faz o célebre registro de Ayrton Senna, já de capacete e prestes a largar, piscando o olho para o chefe da McLaren, Ron Dennis. A foto do piloto brasileiro rodou o mundo.

1993: Recebe o Prêmio Especial da Unesco no Concurso Internacional A Família, em Tóquio, Japão, com a foto do enterro de uma criança no Ceará, feita no ano anterior.

1994: Viaja pela primeira vez a Canudos, no sertão da Bahia. O local foi palco da Guerra de Canudos (1896-1897), em que uma comunidade sertaneja liderada por Antonio Conselheiro foi massacrada pelo Exército brasileiro. Volta ao local várias vezes nos anos seguintes.

Tem seu nome incluído na Enciclopédia Suíça de Fotografia, que reúne os maiores fotógrafos do mundo.

1997: Lança o livro Canudos: 100 anos (Textual), registro histórico do cenário da guerra e dos descendentes dos sobreviventes do conflito.

2002: Lança Livro das águas (edição do Governo do Estado do Rio Grande do Norte), registrando o impacto do programa de irrigação na vida dos sertanejos do Rio Grande do Norte.

2003: Sua trajetória é retratada no documentário de longa metragem Evandro Teixeira – Instantâneos da realidade, de Paulo Fontenelle. O filme traz depoimentos do fotógrafo Sebastião salgado, do jornalista Marcos Sá Corrêa e do compositor e cantor Chico Buarque, entre outros.

2005: Lança o livro Vou viver: tributo ao poeta Pablo Neruda (editora Textual).

2008: Participa, na Leica Gallery de Nova York, de mostra coletiva Magic Moments II, que reuniu 40 nomes da fotografia mundial. Evandro e Sebastião Salgado (1944-) eram os dois únicos brasileiros,  ao lado de profissionais como Henri Cartier-Bresson (1908-2004), Robert Capa (1913-1954) e Marc Riboud (1923-2016).

Lança o livro 68: destinos. Passeata dos 100 mil (editora 7Letras). Evandro fotografou, 40 anos depois, cem pessoas que aparecem na sua célebre fotografia realizada em 26 de junho de 1968 durante a Passeata dos 100 Mil, contando suas histórias. A publicação reúne textos de Vladimir Palmeira, Fernando Gabeira, Marcos Sá Corrêa, Augusto Nunes e Fritz Utzeri.

Suas fotos ilustram Vidas Secas: 70 Anos (Record), edição comemorativa do romance de Graciliano Ramos (1892-1953).


2010- 2020

2010: No dia 27 de agosto, depois de saber que teria que demitir oito dos dez fotógrafos da sua equipe, demite-se do Jornal do Brasil. A última edição da versão impressa do jornal vai para as ruas em 30 de agosto. Antes de sair, negocia os direitos sobre o material produzido até 2002, sua fase de maior brilho.

2013: Participa da mostra Brazilian Photojournalists: from Bossa Nova to Global Power, no salão principal da sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York (EUA), com mais 19 repórteres fotográficos brasileiros.

2014: É lançada a biografia Evandro Teixeira: um certo olhar, de Silvana Costa Moreira (7letras).

2015: O Museu de Arte do Rio (MAR) inaugura a exposição Evandro Teixeira: a constituição do mundo, com curadoria de Marcia Mello e Paulo Herkenhoff. As cerca de 150 imagens abarcam todas as facetas da trajetória do fotógrafo.

Lança o livro Evandro Teixeira. Retratos do tempo – 50 anos de fotojornalismo (Edições de Janeiro/ Bazar do Tempo)

2019:  A ArtRio, feira de arte realizada em setembro na Marina da Glória, o homenageia com uma exposição, com curadoria de Marcia Mello.

Em novembro, é concluído o acordo que transfere para o Instituto Moreira Salles o acervo do fotógrafo.

Mais sobre a exposição Evandro Teixeira. Chile 1973