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Cartas na Música

12 DE AGOSTO DE 2020 |

 

Otto Lara Resende, escritor conhecido pelas muitas cartas que escrevia. Foto de Helena Lara Resende. Acervo Otto Lara Resende/ IMS

 

Nem toda carta é distribuída pelos carteiros. Certas correspondências respeitam melodias e podem ser transmitidas pelas ondas do rádio. No próximo sábado, 15 de agosto, o Correio IMS inicia o especial Cartas na Música, uma série de críticas sobre canções, cujas letras são, na verdade, cartas. Até novembro, o leitor encontrará, todo dia 15, uma nova postagem no site e poderá se transformar em ouvinte ao acessar a página da Rádio Batuta. Cartas na Música ganhará uma playlist com todas as canções tratadas no especial.

Na primeira temporada, o crítico musical Arthur Dapieve e Gustavo Zeitel, da equipe de Literatura, analisam canções estrangeiras de diversos gêneros. Do folk à chanson française, passando por algumas árias da ópera russa. Em algumas letras, a estrutura epistolar, com remetente e destinatário, aparece de maneira explícita. Em outras, podemos interpretar, metaforicamente, o poema como uma missiva.

Se as cartas são sopradas ao vento, o mesmo acontece com a poesia. Para Rachel Valença, coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles, epístolas, poemas e canções estão entrelaçados como linguagens híbridas. “Na Grécia Antiga, música e poesia não se dissociavam. A poesia se fazia acompanhar de música, ao som do acompanhamento musical da lira. Daí a designação ‘lírica’ para denominar esse gênero de poesia.”

Ainda que haja uma união histórica, os versos no silêncio da página sofrem adaptações quando recitados ou cantados. “O poema escrito para a leitura individual e silenciosa tem recursos de sonoridade, como rimas e aliterações, mas a poesia cantada, de que a contemporaneidade tem ricos exemplos, põe esses recursos muitas vezes acima do conteúdo, ou seja, a camada fônica se sobrepõe ao significado”, explica.

Na relação entre as linguagens, um terceiro componente deve ser considerado ao refletirmos sobre o gênero epistolar: a comunicação. “Cartas e canções são veículos para chegar ao outro. A canção se constrói como forma de comunicação, não tão direta quanto a carta, mas às vezes até mais clara e explícita do que ela. E certamente mais coletiva e abrangente.”