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Dia de celebrar Drummond

26 DE OUTUBRO DE 2020 |

Realizado todo ano, desde 2011, como uma forma de reunir admiradores de Carlos Drummond de Andrade para celebrar a sua obra, o Dia D - Dia Drummond deste 2020 atípico que vivemos pede medidas excepcionais. Pela primeira vez, a comemoração, no sábado 31 de outubro, data de nascimento do filho mais ilustre de Itabira, será totalmente virtual. Fica-se sem o calor da festa ao vivo, mas, em troca, distribui-se Drummond para muito mais gente.

José Miguel Wisnik, uma das atrações do Dia Drummond 2020: curso de três aulas a partir do poema "A máquina do mundo"

 

Os presentes serão entregues ao público na véspera. A partir da noite do dia 30, serão disponibilizados neste site o curso Drummond e a maquinação do mundo, de José Miguel Wisnik, e os filmes Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade, de Eucanaã Ferraz,  e Consideração do poema, de Eucanaã Ferraz, Flavio Moura e Gustavo Rosa de Moura.

"O Dia D é sempre uma sensação, e produzimos eventos especialmente para ele", conta Eucanaã, consultor de Literatura do IMS. Desde o primeiro, em 2011, quando Paulo José e Giulia Gam leram poemas do autor, destaca-se a participação de grandes figuras da cena cultural e acadêmica. Foi num deles, em 2016, que Wisnik deu uma palestra, no IMS Rio, relacionando as transformações da paisagem em Itabira provocadas pela mineração à obra do poeta.

"Na ocasião da palestra, eu estava em processo de escrita do livro (Maquinação do mundo — Drummond e a mineração), pesquisando e explorando as possibilidades do tema Drummond e a mineração. De lá até a publicação do livro, em 2018, muita coisa aconteceu, a minha visão de Drummond se expandiu. Além disso, logo depois de publicado aconteceu Brumadinho (em janeiro de 2019), uma outra camada cruel que veio se somar ao assunto", conta Wisnik.

Gráfico que mostra a "máquina do mundo" citada por Camões nos Lusíadas, uma das ilustrações do curso de Wisnik sobre Drummond

 

Estas novas camadas foram acrescentadas ao curso, concebido especialmente para esta edição do Dia D. Com três aulas, de uma hora cada, o assunto ganhou também um tratamento visual refinado, com imagens do acervo do IMS e outras garimpadas na biblioteca do professor.

A primeira aula é uma espécie de panorama histórico, a contextualização da mineração ligada a Itabira e como isso repercute na obra literária e na atuação jornalística e na  militância do poeta. "É uma aula sobre o contraponto entre vida e obra de Drummond e a mineração em Itabira, no Brasil e no mundo", resume Wisnik.  Na segunda, ele faz uma leitura extensiva do poema "A máquina do mundo" (do livro Claro enigma, 1951), comentando o texto. E, na terceira, essa leitura é ampliada para as interpretações que a obra provocou. "Dou a minha própria interpretação sobre o poema, com o desenvolvimento da ideia da máquina do mundo, essa grande máquina mundial, e os efeitos da mineração, em que todo mundo é transformado em estoque", diz ele.

O curso vai explorar também as referências literárias no poema, remetendo à ideia de máquina do mundo na tradição literária. "Ela aparece nos Lusíadas do Camões, que tem a descrição de um cosmos, com a terra, os planetas, os céus, e também na Divina Comédia de Dante Alighieri. Também faço relações com o Fausto, de Goethe", explicita Wisnik.

Fernanda Torres e Laerte estão no filme Consideração do poema, de Eucanaã Ferraz, Flavio Moura e Gustavo Rosa de Moura

 

Além do curso, o público terá acesso a dois longas-metragens surgidos igualmente em Dias D.  Consideração do poema (2012), com fotografia de Alexandre Wahrhaftig,  reúne um elenco estelar lendo poemas de Drummond: Caetano Veloso, Laerte, Chico Buarque, Marília Pêra, Jorge Mautner, Fernanda Torres, Milton Hatoum, Laerte, Drica Moraes  e Nuno Ramos, entre muitos outros. "Já havíamos disponibilizado, uma vez ou outra, algumas pílulas do filme, mas nunca ele na íntegra. É a primeira vez", diz Eucanaã.

Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade (2014) tem roteiro e direção de Eucanaã e fotografia de Walter Carvalho. Foi realizado a partir de um espetáculo concebido para o Dia D de 2013. O escritor Joca Reiners Terron lia no palco uma cronologia da vida e obra do homenageado, "ilustrada" por poemas, cartas, crônicas e trechos de diário lidos pelos poetas Antonio Cicero, Alberto Martins e Afonso Henriques Neto.

O resultado foi tão impactante que acabou virando filme, no ano seguinte, com fotografia de Walter Carvalho e montagem de Jordana Berg. Da mesma forma que Vida e verso, esta é a primeira vez em que a produção será disponibilizada na íntegra ao visitante do site.

Alberto Martins, Joca Reiners Terron, Afonso Henriques Neto e Antonio Cicero no filme Vida e verso de Carlos Drummond de Andrade, de Eucanaã Ferraz, com fotografia de Walter Carvalho

 

"O filme tem dois extras, que não constavam do espetáculo", diz Eucanaã. "Um deles é uma entrevista de oito minutos com Raul Mourão em seu ateliê, mas não é sobre Drummond, é sobre o artista, pois instalamos no palco, no dia da apresentação, uma de suas esculturas de ferro, que remetem à Itabira do poeta. O outro é um depoimento de 17 minutos de Silviano Santiago sobre Drummond.

A programação de 2020 parece potencializar a ideia surgida na concepção do Dia D, de disseminar e distribuir conteúdo para que outras instituições pudessem promover suas próprias celebrações, ou exibirem o material produzido pelo IMS. Desta vez, a programação, virtual, poderá ser acessada por todos os que quiserem.

Pensando no Dia D de 2021, Eucanaã já prepara, com Bruno Cosentino, e coordenação editorial de Samuel Titan, um mega lançamento: o Dicionário Drummond, obra de cerca de 600 páginas reunindo verbetes biográficos e temas que aparecem na obra do poeta, assinados por estudiosos de todo o país.

"Fiz uma listagem grande de verbetes, desde biográficos, como Maria Julieta (filha do poeta), Itabira, Antonio Candido, até outros muito específicos, como rima, soneto, pedra, e para cada um chamamos um especialista. Serão ensaios de fôlego", diz  ele, adiantando que 70% dos artigos já foram entregues.