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IMS apoia formação curatorial em cinema

27 de abril DE 2021 |
No alto, a partir da esquerda, Anti Ribeiro, Fran Nascimento, Sumé Aguiar, Rosy Nascimento e Sandro Garcia, e, embaixo, no mesmo sentido, Caique Mota, Isabella Sena, Thiago da Rocha, Rayane Penha e Kanynary Apurinã, os dez participantes da Formação Curatorial em cinema promovida pela Semana, com apoio do IMS

 

A partir desta terça-feira, 27/4, e até o fim de junho, o público poderá assistir a uma seleção muito particular de curtas-metragens brasileiros. Na Semana Semana, dez jovens profissionais de todo o Brasil, selecionados para um projeto de formação curatorial, indicam, cada um, dois filmes neste formato que serão disponibilizados no site e no canal de YouTube da Semana – festival nascido em 2009 na Zona Sul do Rio para destacar a produção independente no cinema brasileiro e que se desenvolveu em um coletivo de ações que buscam a democratização e a descentralização do audiovisual.

O festival Semana é o idealizador do projeto, que tem parceria do IMS e da Lei Aldir Blanc em sua realização. A cada terça-feira, às 21h, um novo programa entra no ar, e, ao fim de cada ciclo de exibição, na terça-feira seguinte, sempre às 20h, acontece um debate com o curador, os diretores dos filmes e convidados. O programa de estreia, em cartaz até o dia 4 de maio, foi pensado por Anti Ribeiro. Em seguida, vêm as seleções de Caique Mota, Fran Nascimento, Isabella Sena, Kanynary Apurinã, Rayane Penha, Rosy Nascimento, Sandro Garcia, Sumé Aguiar e Thiago da Rocha.

Os dez nomes foram selecionados a partir de uma convocatória, iniciada em dezembro de 2020, que atraiu 1.520 inscrições de 232 cidades. Um número surpreendente, que a organizadora Alessandra Castañeda atribui à grande energia depositada "na articulação e na comunicação direta com comunidades tradicionais, ativistas políticos, coletivos e organizações de preservação identitária que atuam na periferia da periferia brasileira". "É a avaliação que fazemos coletivamente no corpo curatorial da Semana", diz ela.

"A previsão inicial era a concessão de cinco prêmios para participar da Formação Curatorial", conta. "Com a enorme procura, dobramos para dez selecionados. A alta qualidade das inscrições na convocatória nos mostra a urgência de criarmos mais espaços experimentais e de trocas curatoriais que abrangem outras narrativas que as metrópoles não são capazes de polarizar."

De fato, o grupo de dez jovens curadores vem de várias regiões do país, com uma riqueza de histórias: Anti Ribeiro é educadora e produtora sonora em Recife (PE); Caique Mota é graduado em História da Arte e mora no Morro do Fallet, no Rio; Fran Nascimento vem de Sobral (CE), e é atriz, poeta e produtora cultural; Isabella Oliveira é estudante de História e atua no movimento cineclubista na Baixada Fluminense, onde mora em Nova Iguaçu; Kanynary Apurinã vem de Lábrea (AM), é ativista indígena e artista visual, tutor no projeto “Vozes do Purus”, responsável para registrar em áudio e vídeo a cultura indígena no Rio Purus; Rayane Penha (Macapá, AP) é jornalista e realizadora audiovisual; Rosy Nascimento (Natal, RN) atua como cineasta, produtor, pesquisador e escritor. Sandro Garcia (Belford Roxo, RJ) é cineasta, idealizador e fundador do Coletivo BaixadaCine e do Cineclube Velho Brejo; Sumé Aguiar (Salvador, BA) é estudante de cinema e artista visual. E Thiago da Rocha (Casa Nova, BA) é produtor cultural e agricultor, com produção em literatura, fotografia e poesia.

Para chegar a esses nomes, a comissão de 14 curadores da Semana levou em conta, além das territorialidades fora das margens narrativas dos grandes centros urbanos, o fato de serem pessoas que são multiplicadoras em seus territórios. "Entendemos que os conhecimentos provocados pelos encontros da Formação Curatorial poderão ser aplicados para os seus pares e nossa ação conseguir atingir um impacto maior", observa Alessandra.

"Compreendo que a curadoria, para além de uma ferramenta representativa, deve coexistir com a prática de pesquisa de novos cineastas, compreensão e escuta de novas narrativas, alternância direta dos filmes e realizadores, para que não seja alimentado o estereótipo designado pela branquitude e elite para com nossos corpos", pontua Sumé Aguiar.

Outro integrante do programa, Sandro Garcia, avalia: "Durante a Formação Curatorial venho percebendo que esses processos são caóticos por natureza. E aparentemente é bom que seja. Tenho percebido que é muito particular falar de curadoria de acordo com cada território, cada lugar de fala, cada pauta, cada porque e cada pessoa. As motivações da curadoria são maiores que nossas soluções e as problemáticas são do tamanho da desigualdade desse país."

O grupo de jovens curadores participou de dez conversas e mentorias com profissionais de cinema pesquisadores e curadores, e também ouviu duas palestras. Os desdobramentos desse período fértil em trocas incluem materiais criativos, ensaios críticos e documentos memoriais, que estarão disponíveis no site do projeto. 

"Fazemos curadoria e precisamos conversar sobre fazer curadoria. É urgente a criação de ambientes que reúnam a diversidade de impressões e experimentações sobre o processo curatorial, os atravessamentos, as vivências de territorialidades fora da bolha. Tem muita vanguarda no Brasil inteiro", conclui Alessandra.