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Retratos de Limercy Forlin: Um recorte na história de Poços de Caldas


SOBRE A EXPOSIÇÃO

Entre 1958 e 1982, Limercy Forlin (1921-1986) comandou um estúdio fotográfico em Poços de Caldas (MG). Pelo local passaram de políticos e figuras conhecidas da região a profissionais liberais, operários e imigrantes. Também foi nesse estúdio que muitas mulheres tiraram suas primeiras fotografias para as carteiras de trabalho.

Um recorte desse vasto acervo, testemunho da história dos habitantes da cidade, é apresentado na exposição Retratos de Limercy Forlin, no IMS Poços. Inicialmente prevista para o mês de março, a abertura foi adiada devido à pandemia de covid-19.

Com curadoria de Teodoro Stein Carvalho Dias, a mostra ocupa dois andares do centro cultural. No pavimento superior estão reunidos cerca de 7.500 retratos em preto e branco, impressos em tamanho 9 x 12 cm. As imagens, feitas por Forlin entre 1958 e 1982, provêm do acervo do fotógrafo, sob a guarda do IMS desde 2016. A maior parte dos retratos foi tirada para ilustrar documentos da população, como RG e carteira de trabalho.

O estúdio foi fundado em 1945, ano em que Forlin chegou a Poços de Caldas. Nascido em 1921 em uma família de imigrantes italianos, vivia em uma cidade vizinha, Vargem Grande do Sul (SP). Com 24 anos partiu para o novo destino, em busca de oportunidades econômicas. Consolidou-se no ramo da fotografia, comandando o negócio junto com sua esposa, Zizi Forlin, por mais de 20 anos.

A exposição reproduz o método adotado por Limercy e Zizi Forlin para arquivar negativos no estúdio. Com fins comerciais, o acervo era organizado a partir da data de aniversário dos clientes. Cada foto era colocada em um envelope, com nome e dia do nascimento do retratado. Os envelopes eram guardados em gavetas, subdivididas por meses e dias do ano, em ordem alfabética. Quando um cliente retornava para fazer um novo retrato, seu envelope era localizado pela data de aniversári  e o novo negativo era arquivado com os de fotografias anteriores. Assim, o acervo abriga imagens de pessoas retratadas por Forlin em momentos distintos da vida, da juventude à velhice.

Para conceber a mostra, o curador mergulhou no arquivo do fotógrafo e selecionou de 10 a 15 aniversariantes para cada dia do ano, em um período que vai de 1958 a 1982. Os retratos foram distribuídos nas paredes do IMS Poços seguindo a lógica do calendário. Para cada dia do ano há uma coluna com imagens dos aniversariantes.

“Ainda que improvável, não é impossível que os habitantes da região que conviveram com o Estúdio Limercy se encontrem representados nessas colunas com um, dois, três ou até quatro retratos de épocas distintas, revelando assim uma linha do tempo emocionada que o fotógrafo, sem se dar conta, traçou”, afirma o curador.

Em conjunto, as imagens também apresentam um panorama das transformações econômicas e culturais que Forlin pôde acompanhar. Na década de 1940, quando o fotógrafo chegou a Poços de Caldas, a região passava por um momento de ruptura. Os cassinos, opção de lazer conhecida da cidade, haviam sido proibidos no Brasil. Outro fator determinante foi que, com os avanços da medicina e a ampliação do uso de antibióticos, os tratamentos nas águas termais, que atraíam inúmeros visitantes, passaram a ser menos procurados.

Nesse cenário a economia local precisou se reinventar, buscando fontes de renda para além do turismo. Na década de 1970 Poços de Caldas passou por uma política de expansão, com a instalação de indústrias de médio e grande porte que trouxeram uma nova mão de obra à cidade, de estrangeiros, entre americanos, japoneses e franceses, a trabalhadores vindos das fazendas ao redor e de outras regiões do país.

Essa nova conjuntura também se reflete nas imagens da exposição, reforça o curador: “De maneira sutil, essa mudança se faz sentir nos retratos de operários feitos por Limercy Forlin diretamente na fábrica, e num maior número de fotografias de mulheres, que trocam os porta-retratos pelas carteiras de um trabalho conquistado a partir dessa década”.

Das roupas aos penteados, da postura séria ao olhar descontraído, as imagens trazem sinais, vestígios de rupturas e continuidades. A exposição é também um convite aos habitantes de Poços de Caldas para relembrarem a história da cidade a partir dos rostos de quem a construiu e constrói diariamente.

Em 2016, quando o Estúdio Fotográfico Limercy encerrou suas atividades em Poços de Caldas, os herdeiros do fotógrafo doaram seu acervo de negativos ao IMS. A coleção é composta por cerca de 400 mil negativos, em preto e branco e cromos, arquivados no estúdio entre 1958 e 2002.


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