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INSTANTÂNEAS: a música em foto (2ª edição)

INSTANTÂNEAS:

A música em foto (2ª edição)

11 DE fevereiro DE 2021

O ponto de partida é sempre uma exposição de fotografias em cartaz no IMS inspirando espetáculos audiovisuais ambientados no cenário de um dos três centros culturais do Instituto. Fotografia, música e arquitetura tecem as produções originais idealizadas por Juliano Gentile (leia mais abaixo texto do curador) na série Instantâneas: a música em foto, que chega à sua segunda edição em 18 de fevereiro de 2022 com o lançamento, a partir do meio dia, do vídeo Espíritos sem nome, um diálogo com sotaque baiano entre a música de Mateus Aleluia e a fotografia de Mario Cravo Neto em exposição no IMS Rio, cenário da performance audiovisual dirigida por Iago Mati e Juliano Gentile (ficha técnica completa no final desse post).

O resultado do trabalho mantém o mesmo nível de encantamento e interação entre som e imagem alcançado no sucesso da primeira edição da série, com Felipe Catto & Cia (Maria Alcina, Ciro Barcelos e Alma Negrot) estrelando o vídeo Metamorfoses, inspirado na exposição homônima de Madalena Schwartz, na época – julho de 2021 – em cartaz no IMS Paulista. A fórmula desse novo espetáculo, no entanto, é completamente diferente: a voz potente de Mateus Aleluia, expoente do grupo Os Tincoãs, ecoa solo não só pelas galerias da exposição Mario Cravo Neto: Espíritos sem nome. Vaza pelos ambientes idílicos que cercam o casarão do Instituto no alto do bairro carioca da Gávea, na batida perfeita do violão e atabaques pilotados pelo próprio Aleluia, músico e pesquisador da cultura afro-brasileira.

Em linhas gerais, o projeto Instantâneas é uma série que revisita o acervo de fotografia do Instituto Moreira Salles a partir da criação de espetáculos inspirados nas exposições em cartaz. A cada edição é feito um convite para que artistas mergulhem musicalmente nas fotografias e suas tramas, experimentando conexões entre som e imagem. Não é a trilha de fundo para a foto, nem a foto é o pano de fundo de um show. É a busca de um campo intermediário em que as relações entre uma e outra possam adquirir diferentes formatos, explorando recursos cênicos, arquitetônicos e audiovisuais.

Confira no clipe a seguir a pegada musical e o apuro da produção do vídeo Espíritos sem nome e, logo a seguir, o texto de apresentação do projeto por seu curador Juliano Gentile. A versão completa do espetáculo tem 50 minutos e ficará permanentemente acessível a partir das 12h de 18/2 na página da exposição Mario Cravo Neto: Espíritos sem nome.

Espíritos do Recôncavo

Juliano Gentile*

 

A série Instantâneas: a música em foto estreou em meados de 2021 propondo um encontro entre música e fotografia por meio de criações audiovisuais. Em sua primeira edição, Filipe Catto, Maria Alcina, Ciro Barcelos e Alma Negrot protagonizam o vídeo Metamorfoses, inspirado na exposição homônima de Madalena Schwartz. Embora sua concepção tenha sido em larga medida influenciada pelo contexto pandêmico, a série reverbera anseios e questões anteriores. Em outras palavras, a restrição aos shows presenciais impulsionou um processo que já estava em curso no Instituto Moreira Salles, e que buscava experimentar formatos de programação a partir da difusão de seu acervo, onde as duas áreas ocupam uma posição de destaque, agora com o foco no ambiente online.

Nesta segunda edição o convidado é Mateus Aleluia, e o ponto de partida - e de chegada - é a exposição Mario Cravo Neto: Espíritos sem nome, em cartaz no IMS Rio, com curadoria de Luiz Camillo Osorio. Expoente do grupo Os Tincoãs, Mateus acaba de lançar seu quarto álbum solo, Afrocanto das Nações, um novo desdobramento de sua trajetória como músico e pesquisador da cultura afro-brasileira, incluindo a vivência de 20 anos em Angola. Sua ligação com Mario Cravo Neto atravessa camadas. Baianos do Recôncavo - Mario de Salvador e Mateus de Cachoeira - ambos têm suas obras marcadas pelo local onde nasceram e atua(ra)m. Entretanto, não é apenas uma relação temática que os une. Em conversa com Stefania Bril, o fotógrafo apontava a luz como sendo basicamente o tema de seu trabalho. O vídeo Espíritos sem nome procura explorar esse jogo de luz e sombra e que às vezes pode ser tomado por papéis invertidos, como se a luz ofuscasse e a sombra mostrasse o que está sendo retratado. Em certo sentido, somos levados a uma analogia com o que diz Mateus ao se afirmar “afro-barroco”, citando, por exemplo, a infância em Cachoeira, quando ouvia durante o dia os sinos das igrejas e as procissões, e durante a noite os toques dos candomblés, que o embalavam. A confluência desses dois mundos é também uma das características dos Tincoãs. Aliás, para ambos o candomblé não é uma referência externa, tomada de empréstimo. Trata-se, antes de tudo, de artistas atentos ao seu contexto.

Outro aspecto relevante é que mais do que a exibição da foto em si, busca-se a atmosfera em que trabalhava Mario Cravo Neto, experimentando técnicas e formatos. Assim, sua fotografia figura em vários momentos como fonte para a composição da cena, que se vale de abordagens mais inusitadas e menos hierarquizadas entre as duas artes, tomando a arquitetura do IMS Rio como um terceiro elemento.

O vídeo Espíritos sem nome é composto por blocos de músicas de diferentes fases de Mateus Aleluia, cada um deles vinculado a determinadas séries de fotos. Vários motivos nos levaram a isso, a começar pelo fato de Mateus nunca tocar uma música do mesmo jeito: estende ou comprime, emenda uma na outra, improvisa vocalizações e levadas no violão. Além disso, essa montagem em blocos também é uma forma de evidenciar a importância das séries para Mario Cravo Neto, que imprimia em cada uma delas uma personalidade, uma forma de experimentar e aprofundar técnicas, meios e assuntos, abrindo caminhos variados de trabalho. É no ritmo dessas séries que o vídeo se desenvolve. Aliás, quando questionado por Stefania Bril, na mesma conversa, sobre como amarrava todos os “pedaços” de sua multifacetada obra, o fotógrafo responde: “porque gosto de música”. Aqui é a música também amarrando esses pedaços, a música de Mateus Aleluia, com seu violão percussivo e a ancestralidade que evoca sua voz potente, inteiramente entregue ao projeto.

Por fim, agradeço ao Instituto Mario Cravo Neto, que, em parceria com o IMS, disponibilizou as obras que viabilizaram o vídeo, e a toda equipe que encarnou Espíritos sem nome. Assim como na primeira edição da série Instantâneas, trata-se de um trabalho essencialmente coletivo.

* Juliano Gentile é curador de música do IMS.

REPERTÓRIO DO SHOW

Lamento às Águas/Na Beira do Mar (Os Tincoãs/Mateus Aleluia)
Sogbô (Mateus Aleluia)
Deixa a gira girar (Os Tincoãs)
Bahia em preto e branco (Mateus Aleluia)
Encantados (Mateus Aleluia)
Vocalise I (Mateus Aleluia)
Vocalise II (Mateus Aleluia)
Ogum Akorô (Mateus Aleluia)
Filha Diga o Que Vê (Mateus Aleluia)
O Serpentear da Natureza (Mateus Aleluia)
Homem! o animal que fala (Mateus Aleluia)
Bahia Bate o Tambor (Mateus Aleluia)

Série:
INSTANTÂNEAS: a música em foto
Concepção: Juliano Gentile

Vídeo:
ESPÍRITOS SEM NOME
Mateus Aleluia: composições, voz, violão e atabaque
Direção: Iago Mati e Juliano Gentile
Direção de fotografia: Grissel Piguillem Manganelli, Iago Mati e Vicente Otávio
Edição: Iago Mati
Gravação de áudio, mixagem e masterização: Lilla Stipp
Iluminação e projeções: Grissel Piguillem Manganelli
Captação de vídeo: Iago Mati e Vicente Otávio
T.I.D.(Técnico em Imagem Digital): Vicente Otávio
Correção de cor: Iago Mati
Produção (Mateus Aleluia): Arueira - Paula Rocha, Tenille Bezerra
Design de créditos: Tuwe

Séries de fotografias: Fogo, Eternal Now, Candomblé, Ex-votos, Laróyè e Bahia
Vídeo 8MM: Gato Capoeira
Mario Cravo Neto (acervos IMS e Instituto Mario Cravo Neto)

Agradecimentos:
Christian Cravo (Instituto Mario Cravo Neto)
Sergio Burgi (coordenador de fotografia do IMS)
Dudu Rezende
Fabio VJ Notívago
Equipe IMS Rio

Exposição:
MARIO CRAVO NETO: espíritos sem nome

Curadoria: Luiz Camillo Osorio
Assistência de curadoria: Mariana Newlands

Gravado no IMS Rio em dezembro de 2021

MAIS

Metamorfoses, com Filipe Catto e participações de Alma Negrot, Ciro Barcelos e Maria Alcina
Espetáculo audiovisual inspirado na exposição homônima de Madalena Schwartz, parte da série INSTANTÂNEAS: a música em foto

Exposição Mario Cravo Neto: Espíritos sem nome
IMS Rio, 27/11/2021 a 24/4/2022
IMS Paulista, 1/5 a 26/9/2021