Podcast conta histórias de favelas do Rio a partir de seus artistas
6 de abril DE 2022 | Equipe IMS
A baterista Ruth Rosa ressalta que, assim como ela, há muitos moradores do conjunto de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio, que não são “favelados fazendo arte, mas artistas fazendo arte”. Essa ideia está na base do podcast Música e migração, disponível na Rádio Batuta, no Spotify, na Apple Podcast e no Deezer. A potência criativa das favelas é retratada a partir de alguns personagens significativos. Da parte do IMS, atuam na iniciativa a Batuta e a Ação Social.
A série integra o projeto Música e Migração, fruto de uma parceria entre Universidade Columbia de Nova York, Instituto Moreira Salles, Observatório de Favelas (Maré) e Museu Sankofa (Rocinha). A partir das lembranças e vivências de pessoas que trabalham com música, contam-se histórias da Maré e da Rocinha, inclusive de como esses bairros receberam e recebem quem chega de outros estados e países.
O Música e Migração vem desenvolvendo ações como Oficina em Rede, na qual conversaram, por exemplo, o advogado e professor Sílvio Almeida, colunista da Folha de S. Paulo, e MC Carol, nome de destaque no funk brasileiro.
Outra etapa do projeto acontece em 7 de abril, com um evento de que participarão artistas retratados no podcast. A programação, que poderá ser acompanhada no YouTube, terá início às 17h com uma mesa reunindo artistas, profissionais e representantes de instituições parceiras. Às 19h, começarão as apresentações musicais com participação da capoeirista Thainá Pocahontas, da artista Ivanilda Yda-nã-dãn (ambas da Rocinha) e do músico angolano Nizaj, da Maré.
A produção do podcast foi iniciada em 2019 mas precisou ser interrompida em 2020, por causa da pandemia. Na retomada, em 2021, nasceu um episódio sobre como a pandemia afetou a vida emocional e material dos artistas. Não perderam apenas trabalhos para a Covid-19, mas também amigos e amigas. É o quarto e último capítulo da série.
O episódio 1 se passa na Rocinha, o território da Zona Sul carioca em que vivem mais de cem mil pessoas. Os dois entrevistados se complementam. Se Amaury de Souza é nascido e criado na favela, sendo testemunha de tudo o que aconteceu nas últimas cinco décadas, Ivanilda Pires (nome artístico Yda nã-dãn) nasceu em Maceió, viveu em São Paulo e, apesar das desconfianças que tinha, foi muito bem acolhida na Rocinha. Amaury é do samba e da MPB; Ivanilda se inspira em outras fontes de matriz africana.
No segundo episódio, a ação se passa na Maré, que abrange 16 favelas e abriga cerca de 140 mil pessoas. Ruth Rosa é quem nasceu na região, que considera mais do que um endereço: “É a minha identidade”. José Afonso Aguiar, o Sabiá, nasceu em Campina Grande (Paraíba), casou-se com uma gaúcha e vive na Maré desde 1987. Ruth é roqueira, toca na banda Canto Cego, de letras politizadas. Sabiá é sanfoneiro e se orgulha de tocar o chamado “forró pé de serra”, tradicional.
A proposta do episódio 3 é mostrar semelhanças e contrastes entre artistas que atuam nas favelas. Thainá Pocahontas é uma paulistana que se radicou na Rocinha e foi para a Itália ensinar capoeira e samba. Nizaj é um angolano que vive desde a infância na Maré e se destaca no universo do hip hop.
As entrevistas foram realizadas pela jornalista Luiza Silvestrini, que atuou em outros podcasts da Rádio Batuta, como Xingu: terra marcada, Sertões: histórias de Canudos e Música em 78 rotações.
Os apoiadores do Música e Migração são Columbia University's Center for the Study of Social Difference, Columbia Global Center in Rio de Janeiro, Latin American and Iberian Cultures Department, Institute for Comparative Literature and Society, Institute of Latin American Studies, Lemann Center for Brazilian Studies e Social Sciences Research Council.