Eduardo Coutinho
CRONOLOGIA
O percurso de Coutinho é marcado ainda por várias curiosidades. Quando estudante de cinema em Paris dirigiu uma peça de teatro (sua única vez na direção teatral), Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Atuou no filme Os mendigos, de Flávio Migliaccio, em 1963, quando reunia material para filmar Cabra. Seu primeiro longa-metragem foi uma comédia política, O homem que comprou o mundo (1967), em que também colaborou no argumento, fez o roteiro final e uma figuração. E foi corroteirista de vários filmes de ficção, entre eles Dona Flor e seus dois maridos (1976), antes de se embrenhar de vez no gênero em que ficou conhecido e respeitado como um dos maiores do mundo.
1933: Eduardo de Oliveira Coutinho nasce em São Paulo, em 11 de maio, filho de Maria Carolina de Souza Queiroz e Alberto de Oliveira Coutinho. Irmão de Jorge e Heloísa de Oliveira Coutinho. Mais tarde, ganharia a meia-irmã Silvia Cristina, do segundo casamento do pai.
1947: Frequenta cinemas e começa a participar de maratonas de memória em programas de rádio.
1952: Entra para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Frequenta o cineclube do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
1953: Abandona o curso de Direito.
1954: Assiste ao Seminário de Cinema no Museu de Arte de São Paulo – MASP. Ingressa no jornalismo, trabalhando como revisor e copidesque da revista Visão durante três anos.
1957: Ganha o correspondente a US$ 2 mil no programa O dobro ou nada, da TV Record, respondendo sobre Charles Chaplin. Com o dinheiro, viaja para a Europa.
Participa do Festival da Juventude, em Moscou. De lá, segue para Paris, onde cursa o Institut des Hautes Études Cinématographiques (Idhec) com uma bolsa de estudos.
1958-9: Começa a fumar, em Paris. Frequenta a Cinemateca Francesa e o Théâtre des Nations. No Idhec, realiza o curta-metragem de ficção Le téléphone, baseado em ópera de Gian Carlo Menotti, e um documentário encenado sobre La Maison du Brésil, onde morava. Ajuda o jornalista Michel Simon a traduzir para o francês as peças Gimba, o presidente dos valentes, de Gianfrancesco Guarnieri, e Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado.
1960: Na Maison du Brésil, em Paris, dirige uma montagem da peça Pluft, o fantasminha, sua primeira e única experiência com direção teatral. Diploma-se nos cursos de direção e montagem do Idhec. Durante viagem de passeio, filma com Rolf Orthel um pequeno documentário, nunca editado, sobre a aldeia de Saint-Barthélemy, nos Alpes franceses. Retorna ao Brasil no fim do ano.
1961: Faz assistência de direção para Amir Haddad na peça Quarto de despejo, de Eddy Lima, com produção de Antônio Abujamra, no Teatro de Arena. Aproxima-se do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), em São Paulo. Muda-se para o Rio de Janeiro em dezembro.
1962: Ajuda a produzir a peça Mutirão em novo sol, encenada durante o I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas em Belo Horizonte.
Faz a gerência de produção de Cinco vezes favela, primeiro longa-metragem do CPC. Durante a produção do episódio Pedreira de São Diogo, dirigido por Leon Hirszman, deixa a equipe para documentar o Brasil a bordo da UNE Volante. Filma em vários estados, mas o material não chega a ser montado. Por meio da UNE Volante tem seu primeiro contato com Elizabeth Teixeira, viúva do líder camponês João Pedro Teixeira, recém-assassinado em Sapé, Paraíba. Ao retornar ao Rio de Janeiro, é convidado a dirigir o segundo longa do CPC. Sugere adaptar poemas de João Cabral de Melo Neto. Viaja para Pernambuco, seguindo o curso do rio Capibaribe, mas João Cabral retira a autorização de uso dos poemas. Coutinho resolve, então, fazer um filme sobre João Pedro Teixeira.
1963: Colabora na produção do documentário Maioria absoluta, de Leon Hirszman. Atua no filme Os mendigos, de Flávio Migliaccio. Pesquisa e reúne recursos para a produção de Cabra marcado para morrer.
1964: Em fevereiro, começa a filmar Cabra marcado para morrer. Os trabalhos no engenho Galileia (Pernambuco) são interrompidos pelo golpe militar de 31 de março de 1964. A equipe refugia-se e os materiais são dispersos.
1965: É corroteirista do longa-metragem A falecida, baseado em Nelson Rodrigues e dirigido por Leon Hirszman. Faz gerência de produção do documentário Rio, capital mundial do cinema, de Arnaldo Jabor.
1966: Em substituição a Nelson Pereira dos Santos, originalmente escalado para dirigir o episódio brasileiro do longa-metragem ABC do amor (coprodução entre Argentina, Brasil e Chile), escreve e dirige O pacto.
1967: Colabora no roteiro de Garota de Ipanema, dirigido por Leon Hirszman, e faz uma pequena figuração no filme. Escreve um primeiro tratamento, não aproveitado, de Engraçadinha depois dos trinta, adaptação do romance Asfalto selvagem, de Nelson Rodrigues. Substituindo Luiz Carlos Maciel, dirige seu primeiro longa-metragem, a comédia política O homem que comprou o mundo, em que também colabora no argumento, faz o roteiro final e uma figuração no papel de mendigo.
1968: Viaja para a Bulgária, onde O homem que comprou o mundo foi exibido no Festival da Juventude e, a convite, para a Tchecoslováquia, onde presencia a invasão das tropas soviéticas. Atua em Câncer, de Glauber Rocha, finalizado somente em 1972.
1969: Com Armando Costa, escreve os argumentos de A vingança dos doze, dirigido por Marcos Farias, e de Faustão.
1970: Escreve o roteiro e dirige o longa-metragem Faustão. Em Pernambuco, conhece Maria das Dores Silva, com quem se casaria e teria os filhos Pedro e Daniel.
1971: Trabalha como copidesque e eventual crítico de cinema no Jornal do Brasil, onde fica até 1974.
1972: Neste ano, e nos três seguintes, assina a coautoria do roteiro de três longas-metragens de ficção: Os condenados (1974), de Zelito Viana, Lição de amor (1975), de Eduardo Escorel, e Dona Flor e seus dois maridos (1976), de Bruno Barreto.
1975: Convidado a trabalhar na redação do Jornal Nacional da TV Globo, prefere juntar-se à equipe do Globo Repórter. Além de editar programas e exercer uma série de outras funções, dirige reportagens curtas e seis documentários: Seis dias de Ouricuri (1976), Superstição (1976), O pistoleiro de Serra Talhada (1977), Theodorico, o imperador do sertão (1978), Exu, uma tragédia sertaneja (1979) e O menino de Brodósqui (1980). Atua também como um dos editores do programa Domingo Gente. Fica na TV Globo até 1984.
1981: Retoma o projeto de Cabra marcado para morrer, agora como documentário de recuperação da memória histórica. Reencontra Elizabeth Teixeira e seus vários filhos, assim como camponeses envolvidos com a produção de 1964.
Colabora no roteiro de Índia, a filha do sol (1982), de Fábio Barreto.
1983: É responsável pela edição e texto da parte documentária da série Anarquistas, graças a Deus, dirigida por Walter Avancini e exibida na TV Globo em 1984. Assiste e se encanta com Shoah, documentário do cineasta francês Claude Lanzmann sobre o Holocausto, com mais de nove horas de duração.
1984: Amplia Cabra marcado para morrer para 35 mm e lança o filme, causando comoção por onde passa. Exibido em vários países, ganha prêmios em festivais no Rio de Janeiro, em Paris (Cinéma du Réel), Havana, Berlim, Troia
(Portugal) e Salso (Itália), entre outros.
1985: Exibe Cabra marcado para morrer mundo afora. É um dos criadores do departamento de vídeo do Instituto Superior de Estudos da Religião (Iser).
1986: Trabalha com Helena Salem na pesquisa e roteirização da série 90 anos de cinema – uma aventura brasileira, dirigida por Eduardo Escorel e Roberto Feith, exibida em 1988 pela TV Manchete. Dirige o documentário Tietê – um rio que pede socorro, episódio da série Os caminhos da sobrevivência, coordenada por Washington Novaes e exibida na TV Manchete.
É um dos fundadores do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), com Claudius Ceccon e Ana Maria Machado, entre outros.
1987: Dirige o documentário Santa Marta – duas semanas no morro, iniciando parceria com Sergio Goldenberg.
1988: Começa a preparação do documentário de longa-metragem O fio da memória.
1989: Dirige com Sergio Goldenberg o documentário Volta Redonda – memorial da greve. Com produção do Cecip, realiza o documentário O jogo da dívida: quem deve a quem?.
1991: Conclui O fio da memória, coproduzido com a Televisión Española, La Sept/Arte e Channel Four.
1992: Com produção do Cecip, dirige os documentários A lei e a vida e Boca de lixo, iniciando parceria com Theresa Jessouroun.
1993: Com uma bolsa da Fundação Vitae, inicia pesquisa para a realização de um documentário sobre a saga da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, projeto que não se desenvolveu.
1994: Dirige o documentário em vídeo Os romeiros do Padre Cícero para a televisão alemã ZDF.
1995: Dirige para o Cecip o vídeo Seis histórias, no qual Jordana Berg estreia como sua montadora. Com Theresa Jessouroun, realiza o institucional A casa de Darcy. Roteiriza a série Imagens da história, dirigida por Zelito Viana para a TV Educativa.
1996: Dirige para o Cecip o documentário Mulheres no front.
1997: Dirige para o Cecip os documentários A casa da cidadania, Semente da cidadania e Dá pra segurar!. A convite da TV Educativa, pesquisa para o projeto da série Identidades brasileiras, que não foi produzida. Dá início às filmagens de Santo forte. Valéria Ferro estreia como sua técnica de som direto.
1999: Realiza para o Cecip o vídeo Um lugar para se viver. Estreia o longa-metragem Santo forte, em que utiliza pela primeira vez o processo de transfer de vídeo para película e relança sua carreira nos cinemas.
2000: Dirige o documentário de longa-metragem Babilônia 2000 com cinco equipes autônomas na noite de Ano Novo. À produção do Cecip se associam pela primeira vez João Moreira Salles e a VideoFilmes. Jacques Cheuiche estreia como seu diretor de fotografia e Beth Formaggini faz a primeira de suas várias colaborações com Coutinho. Realiza o curta em vídeo Porrada! com a TV Pinel, para evento sobre os cinquenta anos da televisão no Brasil. Dirige um institucional sobre o Programa Infância Desfavorecida no Meio Urbano (Pidmu).
2001: Dirige o documentário de longa-metragem Edifício Master, consagração da maturidade e do método do diretor. Beth Formaggini filma os bastidores de Edifício Master em Apartamento 608: Coutinho.doc. Ganha bolsa da Fundação Guggenheim para o projeto “À sombra de São Paulo”, nunca realizado. Daniela Muzi, Daniela de França Soares Santoro, Maria Aparecida Costa e Maria Eduarda Mattar fazem o documentário Cinema de reportagem – a obra de Eduardo Coutinho.
2002: Lança Edifício Master. Faz a voz (off) do juiz em Madame Satã, de Karim Aïnouz.
2002: Neste e no ano seguinte, dirige o documentário de longa-metragem Peões em paralelo a Entreatos, de João Moreira Salles.
2003: Faz a voz (off) do personagem do pai no documentário Nelson Freire, de João Moreira Salles. É editado no Brasil o livro-entrevista O cinema segundo Eduardo Coutinho, de Claudio M. Valentinetti. O Centro Cultural Banco do Brasil (SP) realiza a primeira retrospectiva abrangente das diversas fases da sua obra e edita importante catálogo. É homenageado no 7º Festival de Cinema Luso-brasileiro de Santa Maria da Feira (Portugal) com o lançamento do livro Eduardo Coutinho: o homem que caiu na real, de Carlos Alberto Mattos.
2004: Lança Peões. Na Paraíba, filma os encontros do longa-metragem O fim e o princípio e tem sérios problemas de saúde. Consuelo Lins lança o livro O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo.
2005: Lança O fim e o princípio. Recebe do governo federal a Ordem do Mérito Cultural.
2006: Filma o longa-metragem Jogo de cena.
Com o pseudônimo Chantecler, escreve colunas de horóscopo satírico na revista piauí, atividade que manterá também no ano seguinte.
2007: Lança Jogo de cena. No Festival de Gramado, recebe o primeiro Kikito de Cristal pelo conjunto da obra.
2008: Filma o longa-metragem Moscou. Alexandre Carlomagno faz o documentário Cabra marcado para viver. Felipe Bragança organiza coletânea de entrevistas para a série de livros Encontros.
2009: Lança Moscou. Grava a programação de TV que resultaria no longa-metragem Um dia na vida. O MoMA de Nova York faz retrospectiva de sua obra.
2010: Um dia na vida é exibido em sessões semiclandestinas. Rená Tardin faz o documentário Coutinho repórter.
2011: Dirige o documentário de longa-metragem As canções. O Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) faz retrospectiva de seus filmes.
2012: Os festivais É Tudo Verdade e Edoc (Equador) fazem retrospectivas de suas obras. María Campaña Ramia e Cláudia Mesquita organizam o livro El Otro Cine de Eduardo Coutinho, lançado no Equador.
2013: Refaz o contato com alguns personagens de filmes anteriores para o projeto Reencontro, descontinuado. Na Paraíba, revisita personagens para A família de Elizabeth Teixeira e Sobreviventes de Galileia, extras do DVD de Cabra marcado para morrer.
Filma os encontros que resultariam em Últimas conversas.
Concede entrevista a Carlos Nader, que dá origem ao longa-metragem Eduardo Coutinho, 7 de outubro.
É convidado a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pelo Oscar.
O Museu Reina Sofía (Madri) e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo fazem retrospectivas de seus filmes. É homenageado na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. É lançada a coletânea de textos e entrevistas Eduardo Coutinho, organizada por Milton Ohata.
2014: Em janeiro, aceita convite para fazer um filme sobre o massagista do voleibol Luisão para o projeto Memória do Esporte Olímpico Brasileiro.
Em 2 de fevereiro, aos 80 anos, é morto pelo filho Daniel Coutinho, que sofria de esquizofrenia. Em clima de intensa comoção, vários personagens de seus documentários comparecem ao seu funeral. O Instituto Moreira Salles lança o DVD de Cabra marcado para morrer e realiza retrospectiva de seu trabalho. Cláudio Bezerra lança o livro A personagem no documentário de Eduardo Coutinho. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cria a Brigada Audiovisual Eduardo Coutinho.
2015: Jordana Berg monta e João Moreira Salles finaliza o longa-metragem Últimas conversas, que estreia postumamente.
2016: O Pacific Film Archive da Universidade de Berkeley faz mostra de seus filmes. A Folha de S. Paulo produz o média-metragem Reencontros com Eduardo Coutinho, dirigido por João Wainer.
2017: Uma votação realizada por críticos associados e convidados da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) elege Cabra marcado para morrer (1984) o melhor documentário do cinema brasileiro de todos os tempos. Coutinho aparece mais duas vezes entre as cinco produções mais votadas, com Jogo de Cena (2007) em segundo lugar, e Edifício Master (2002) na quarta posição.
Eliska Altmann e Tatiana Bacal iniciam a organização de série de livros sobre filmes de Coutinho vistos por cientistas sociais e cineastas. Os festivais Ambulante (México) e de Cartagena de las Indias (Colômbia) fazem retrospectivas de sua obra.
2018: Milena de Moura Barba dirige Canções em Pequim, reeditando na China o formato de As canções.
2019: O acervo de Eduardo Coutinho chega ao Instituto Moreira Salles.
O Instituto Itaú Cultural realiza a exposição Ocupação Eduardo Coutinho e apoia, junto com o Instituto Moreira Salles, a edição do livro Sete faces de Eduardo Coutinho, de Carlos Alberto Mattos.
Josafá Veloso estreia o documentário Banquete Coutinho.
Jordana Berg passa a integrar a Academia de Artes e Ciências de Hollywood.
2021: O Instituto Moreira Salles reedita no Rio de Janeiro a Ocupação Eduardo Coutinho.
2022: O Instituto Moreira Salles edita o ebook O primeiro cabra, organizado por Carlos Alberto Mattos, com o roteiro original de Cabra marcado para morrer.