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Oriki Adurá

Mês da Consciência Negra no IMS
26 de outubro de 2022 | viviana santiago

Com o Novembro Negro, os movimentos negros brasileiros põem a história em seu devido lugar ao denunciar o intencional processo de subordinação e invisibilização que as práticas coloniais estabeleceram quando ensinaram e ensinam a história a partir do estereótipo de um povo negro passivo e derrotado. Em novembro, os leões contam a história da caçada e rugem a história de um povo altivo e ancestral que atuou, atua e não apenas reage.

O escritor Lima Barreto, tema do podcast O negro é a cor mais cortante da Rádio Batuta

Beatriz Nascimento nos alertou para o fato de que um dos maiores impactos de uma historiografia europeia – que apresenta um continente africano como locus do bizarro e do isolamento, cuja história só foi despertada com a chegada dos europeus – é a maneira como essa informação marca a ruptura da identidade das pessoas negras com seu passado africano e com a trajetória nas diásporas. Dessa forma, o IMS assume uma atitude de desobediência epistemológica e decide se conectar à produção cultural e de resistência dos movimentos negros brasileiros que denuncia, anuncia e celebra a presença negra no Brasil. Respondendo ao convite de Beatriz Nascimento em Orí, apresentamos uma programação que torna visível, ecoando assim sua reflexão que articula a importância de trazer a negritude para uma conexão pelo perceber e perceber-se, porque o rosto de um é o reflexo de todos os corpos.

Em novembro, o IMS se faz espelho: reflete as produções negras que trazem essa história carregada de tintas, personagens, resistências, caras, corpos e vidas pretas que trazem em seu bojo a intenção de incidir para que a população negra brasileira e da diáspora possa se reconhecer e se reafirmar em sua humanidade. Nesse giro decolonial é a população negra brasileira quem aparece produzindo suas próprias imagens e narrativas, enfrentando os processos de apagamento e de construção de estereótipos que produzem epistemicídio e morte física.

O grupo Höröyá, que se apresenta no IMS Paulista no dia 13

A programação de novembro do IMS é um convite para o exercício de uma vivência de uma criatividade decolonial, aquilombadora, que renuncia a esse movimento de encobrimento dos povos negros e indígenas como são e que provoca para a vivência do antissublime decolonial numa geocorpopolítica outra. A programação de Novembro e Consciência Negra evoca a consciência das lutas por liberdade, por terra e pela ampliação de direitos que começaram em Palmares. No Novembro Negro repercutimos a resistência negra que combina a luta contra o racismo com a luta por liberdade e por democracia para avançar na construção de uma sociedade justa e igualitária.

Inspiradas, inspirades e inspirados por Beatriz Nascimento, em nossa programação saudamos Lima Barreto, recebemos Memórias Pretas em Movimento e o festival NICHO Novembro, celebramos Höröyá Yaakaar - Brasil Senegal e a resistência das diásporas negras em sua atualização, construímos um tempo-espaço afrocentrado a partir da programação em parceria com a Feira Preta e, testemunhando a aliança de parentesco entre povos negros e indígenas, contamos com a abertura da exposição Xingu: Contatos. O novembro negro é um Ajeum. Reconhecemos e louvamos a resistência e reexistência nesse caminho, pedimos pela caminhada. Ibá Peabiru. Oriki Adurá.

Cena de Apátrida, de Michèle Stephenson, um dos filmes do festival NICHO Novembro
  • Viviana Santiago é coordenadora de Diversidade e Inclusão do Instituto Moreira Salles
Serviço

Lima Barreto: O negro é a cor mais cortante
Podcast disponível na Rádio Batuta a partir de 1º de novembro, dia do centenário da morte do autor. Com cinco episódios, relembra a trajetória do escritor a partir de entrevistas e leituras de trechos da sua obra.

Memórias pretas em movimento
Curso dirigido a profissionais negros do audiovisual que trabalhem em realização, pesquisa, montagem ou roteiro, bem como pesquisadores de outras áreas das humanidades. As inscrições estão esgotadas.

Espetáculo Höröyá Yaakaar - Brasil Senegal
Apresentação musical com foco na musicalidade senegalesa, destacando tambores e ritmos. Participação de Zal Sissokho, mestre da Kora, uma harpa africana. 13 de novembro, às 15h, no térreo do IMS Paulista.

Xingu: Contatos
Exposição que revê a história das imagens que documentaram a trajetória do primeiro território indígena demarcado no Brasil, em diálogo com trabalhos atuais de povos do Xingu e outras origens. IMS Paulista, com abertura em 5/11.

NICHO Novembro
Quarta edição do festival negro de cinema realizada pelo NICHO 54, trazendo 31 filmes com destaque para a nova produção audiovisual cabo-verdiana. De 4 a 13 de novembro, com parte das sessões no cinema do IMS Paulista.

África em nós 2022 - Feira Preta + IMS
No quarto ano de parceria com o festival, o IMS Paulista recebe atividades entre 8 e 13/11. Entre as atrações, Feira Preta Pocket com empreendedores africanos, painel sobre fluxos migratórios e culinária do Mali com Chef Silly, além de ocupação do Instagram da Biblioteca de Fotografia pelo fotógrafo angolano Venâncio Evensen.