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Contraste

Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença


Iole em presença

Marcelo Araújo¹ e João Fernandes²

Apresentar o trabalho de Iole de Freitas realizado na década de 1970 permite não só conhecer ou revisitar um conjunto de obras menos conhecido da artista como também possibilita uma reflexão sobre a singularidade da experimentação artística desenvolvida por uma artista mulher, que nesses anos dialoga com a fotografia e o filme, campos expandidos da arte, donde emergirá uma reinvenção da representação do corpo, presentificado por sua própria imagem e movimento.

Fora dos gêneros artísticos convencionais, definíveis pela natureza dos seus suportes específicos, fora da própria fotografia e do cinema enquanto gêneros autônomos, Iole de Freitas pesquisa linguagens conceituais que inventam novas formas que condensam o tempo no espaço, articulando as imagens fotográficas e fílmicas por ela registradas enquanto instantes que estruturam e expandem o lugar da obra. Essa “Iole em fotografia e em filme” revela igualmente uma artista mulher que se apropria dos meios de produção e reprodução da imagem existentes no seu tempo para os transformar numa nova poética. Consciente do seu corpo, que assume como movimento, Iole constrói uma poética do fragmento a partir da produção e da edição da imagem. O registro do corpo se converte na gênese do espaço, em configurações que fazem adivinhar já algumas das questões fundamentais da obra ulterior da artista. Quando agora convidada a reunir e a revisitar a sua obra da década de 1970, Iole não se deixou tentar pela simples reunião antológica dos seus trabalhos, mas avançou para a “terceira margem do rio”, construindo uma exposição que é assumida como um novo movimento no seu percurso de artista. Esta é uma daquelas mostras em que “a exposição é a obra”, sem trair a natureza específica de cada uma das peças apresentadas.

Não teria sido possível descobrir essas “Imagens como presença” sem o entusiasmo e a fulgurante inventividade que Iole de Freitas dedicou a todo o processo de construção da mostra. O Instituto Moreira Salles está extremamente grato a artista pela sua disponibilidade e generosidade extraordinárias. Tampouco esta exposição seria o que é sem a pesquisa e o labor rigoroso e infatigável de Sônia Salzstein, sua curadora e autora do principal ensaio monográfico no livro do qual coordenou igualmente a edição, assessorada nessas tarefas pela colaboração diligente e competente de Leonardo Nones, assistente de curadoria. A ambos expressamos o nosso maior reconhecimento, extensivo a todas e todos que no IMS possibilitaram esta realização, e ainda ao Instituto de Arte Contemporânea, que tão bem tem preservado e protegido os arquivos da artista.

Diretor-geral¹ e Diretor artístico²