Walther Moreira Salles, um perfil
Primogênito numa família de quatro filhos, Walther Moreira Salles nasceu em Pouso Alegre (MG), em 28 de maio de 1912. Ainda jovem, foi enviado por seus pais para completar os estudos no Liceu Franco-Brasileiro, em São Paulo, ingressando posteriormente na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Dividia seu tempo entre os estudos na capital paulista e os negócios da família em Poços de Caldas (MG), onde seus pais, João Theotônio Moreira Salles e Lucrecia de Alcântara, se estabeleceram e fundaram, em 1919, a Moreira Salles & Cia., magazine típica da época nas cidades do interior, em que se vendia de tudo, de cristais e pratarias a secos e molhados.
Em 1933, com apenas 21 anos, assumiu o comando do que viria a ser o embrião do Unibanco: a Casa Bancária Moreira Salles, fundada em 22 de junho de 1931 por seu pai. Em julho de 1940, a casa bancária fundiu-se a dois outros bancos do sul de Minas, a Casa Bancária de Botelhos e o Banco Machadense, ambos fundados em 1921, formando o maior banco privado de Minas Gerais à época, o Banco Moreira Salles (BMS). O BMS cresceu e abriu agências em quase todas as cidades da região e, posteriormente, em outros estados, incluindo o Rio de Janeiro, então capital federal.
O jovem empreendedor mineiro mudou-se para a efervescente capital federal e logo se tornou conhecido como empresário de sucesso. Em 1948, foi convidado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra para assumir o cargo de diretor da Carteira de Crédito Geral do Banco do Brasil. Em 1951, convidado pelo presidente Getúlio Vargas, assumiu o cargo de diretor executivo da Superintendência da Moeda e do Crédito.
Nos anos seguintes, viria a ocupar por duas vezes o posto de embaixador do Brasil em Washington, em 1952 e 1959, nas presidências de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e, em 1961, seria nomeado embaixador especial do governo Jânio Quadros na missão financeira que resultou numa ampla renegociação da dívida externa brasileira. Seu último cargo público foi durante o governo parlamentarista de João Goulart, quando foi ministro da Fazenda. A partir daí, dedicou-se exclusivamente a suas duas paixões: o banco e as artes.
Desde cedo, destacou-se como mecenas cultural. Na década de 1940, participou da montagem do acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), doando o Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso, contribuindo na aquisição de obras de Rembrandt, Rafael e Velázquez, entre outros. Foi presidente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), entre 1968 e 1974, e membro do Chairman’s Council do Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, de 1991 até sua morte. Em 1983, financiou a edição dos dois volumes de História geral da arte no Brasil, um abrangente estudo da história da arte no país, da pré-história até a década de 1980, editado por Walter Zanini. Em 1992, fundou o Instituto Moreira Salles.
Na década de 1950, enquanto a elite econômica, política e intelectual da capital federal migrava para os novos prédios à beira-mar de Copacabana, Walther Moreira Salles preferiu a discrição da vida em uma casa afastada da praia. A antiga chácara localizada na rua Marquês de São Vicente foi adquirida em 1948. A casa, com seus cortes modernos, justos e elegantes, foi projetada sob recomendações específicas de seu proprietário, em 1949, pelo arquiteto modernista Olavo Redig de Campos. Com projeto paisagístico de Roberto Burle Marx (que também assina o belíssimo painel de azulejos localizado no jardim), a obra foi executada pelo engenheiro Japyr Amaral de Assumpção, amigo de Walther Moreira Salles desde os tempos do Liceu Franco-Brasileiro. A inauguração foi no ano novo de 1952.
A casa da Marquês de São Vicente foi palco de festas, recepções e reuniões. Residência da família Moreira Salles até 1980, recebeu hóspedes ilustres, como Henry Ford II, David e Nelson Rockefeller e Aristóteles Onassis, e foi palco de importantes decisões da vida política brasileira, como a anistia dada pelo presidente Juscelino Kubitschek aos militares revoltosos do levante de Jacareacanga, em 1956, e a negociação que marcou o fim das concessões de exploração das jazidas de ferro à mineradora norte-americana Hanna no Brasil, no governo João Goulart.
Preservada, mesmo após a mudança da família, a casa seria reformada e, em 1999, foi reinaugurada como centro cultural do Instituto Moreira Salles, que já contava com unidades em Poços de Caldas e São Paulo. Hoje, ao lado dos acervos de fotografia, música, literatura e iconografia, salas de exposição e cinema, o IMS-RJ também abriga o acervo pessoal de Walther Moreira Salles.
Formado por documentação pessoal, correspondência, artigos e recortes de jornais, entre outros itens, o acervo reúne cerca de 30 mil itens, de caráter pessoal e institucional. São papéis e objetos que reconstroem o percurso de vida do embaixador, do banqueiro e da própria história do Brasil. O acervo está em fase de processamento técnico e catalogação.
Após a morte de Walther Moreira Salles, em 27 de fevereiro de 2001, seus quatro filhos – Fernando, Pedro, Walther e João – mantiveram o legado do pai. No IMS, os quatro integram o conselho de administração. Fernando presidiu a diretoria executiva da instituição entre 2002 e 2008, sendo substituído por João, que ocupa o cargo até hoje.