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Que país é este?

A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira (1964-1985)


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Estação 10

O repórter Karl Brugger entrevista os criadores do grupo de teatro Living Theater

O repórter Karl Brugger entrevista Judith Malina e Julian Beck, criadores do Living Theater, grupo de teatro experimental que viera ao Brasil para o Festival de Inverno, em Ouro Preto. O grupo foi preso pela polícia mineira, acusado de subversão e porte de entorpecentes. A prisão gerou comoção internacional, mobilizando personalidades como John Lennon, Yoko Ono, Susan Sontag e Bob Dylan, que assinaram manifesto endereçado ao presidente da República, general Emílio Médici. O affair internacional levou à soltura dos integrantes e sua expulsão do país. A reportagem sobre a prisão, feita por Bodanzky e Brugger, foi ao ar na Alemanha em setembro de 1971. Belo Horizonte, MG, entre julho e agosto de 1971. Foto de Jorge Bodanzky / Acervo IMS

 

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Religião e espiritualidade

 
A religião muitas vezes acolhe e redime, oferecendo amparo e conforto contra as garras da repressão. No média-metragem Caminhos de Valderez (1971), estreia de Bodanzky na direção, uma mulher de classe média é atormentada por demônios e pela ditadura enquanto busca refúgio no tarô e no movimento religioso do Vale do Amanhecer, fundado pela médium sergipana Tia Neiva em Brasília. Em Gitirana (1975), um menino se transforma em mulher depois da morte da avó, com a bênção do padrinho. Na pele de Ciça, Maria Bonita ou Marieta Puribão, o ele/ela parte em busca do reino perdido de Miramar, para escapar ao destino operário. “Livrai-nos do pecado, da peste, da fome, da seca, da inundação e do dinheiro”, diz, encarnando uma beata revolucionária.

À sombra de uma árvore, o padre Ricardo Rezende celebra a Igreja dos oprimidos (1985), interpretando a Bíblia como um manual de guerrilha. Rezende pede paz na Nicarágua, “país que vive sob a ameaça de invasão dos Estados Unidos”, e na África do Sul, “onde os negros têm sido pisoteados por uma minoria branca”. Um trabalhador rural homenageia “os nossos índios, os verdadeiros donos desta terra, que tombaram sob o jugo dos opressores e capitalistas”. Em vez de apenas narrar suas histórias, o microfone amplifica a voz dos trabalhadores, acusados de subversão e terrorismo. O filme registra o momento histórico em que a Igreja Católica se distanciou do apoio inicial à ditadura e engrossou as fileiras da resistência, graças à Teologia da Libertação. Em Terceiro milênio (1980), contudo, as raras imagens do irmão José da Cruz revelam a evangelização do povo Ticuna através de um catolicismo popular que tentou apagar a espiritualidade tradicional e transformar povos originários em força de trabalho. Em Iracema (1974), a devoção popular do Círio de Nazaré, em Belém, é também um rito de iniciação da jovem indígena na decadência da sociedade capitalista. A espiritualidade e a religião são bases indissociáveis das alianças comunitárias, razão pela qual seguem determinantes para navegar o Brasil contemporâneo.


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