A mostra Dirigidos por Ida Lupino está em cartaz nos cinemas do IMS Paulista e IMS Poços em maio.
Há uma corrente constante na percepção de tempo no trabalho de curadoria de uma sala de cinema. Isso talvez seja ainda mais forte num momento histórico tão duro como o de hoje. Encontramos nos filmes de arquivo espelhos para o presente. Isso continua sendo um eixo essencial de curadoria do Cinema do IMS, tão importante como a defesa de um cinema feito hoje e para o futuro. Desta vez, chamamos a atenção para o cinema de Ida Lupino, cineasta pioneira em Hollywood, realizadora de filmes narrativos produzidos à beira do studio system em Los Angeles e Hollywood, nas décadas de 1940, 1950 e 1960.
Atriz, estrela e depois cineasta, Ida Lupino foi durante décadas descartada como uma curiosidade, uma artesã, uma nota de rodapé curiosa em Hollywood. De fato, na época em que dirigiu seis longas-metragens – entre o final dos anos 1940 e início dos 1950 –, não há registro de outras cineastas em atividade em Hollywood.
Seu nome vem sendo resgatado com os seus filmes, a mística em torno dela própria carregada – por um lado – de um certo glamour em volta da atriz que dividiu filmes com Humphrey Bogart, Olivia de Havilland e Joan Fontaine, contratada da Warner Bros. e que muito lutou para não ser transformada numa reserva de Bette Davis nas produções do próprio estúdio. A atriz Ida Lupino foi dirigida por Raoul Walsh, Fritz Lang, Nicholas Ray, Michael Curtiz. Ela tinha outras coisas em mente e partiu para investir num estúdio independente – The Filmmakers – ao lado do seu marido, o roteirista e produtor Collier Young.

Essa sua movimentação de independência é vista nitidamente hoje como o mesmo tipo de pulsão que guiou nomes de enorme força do cinema off-Hollywood na produção estadunidense do século XX, como John Cassavetes, John Sayles e Robert Altman, e também – importante ressaltar – mulheres autoras que seguiram a trilha feita por Lupino, como Barbara Loden, Julie Dash e Kathryn Bigelow. É fascinante e perturbador podermos hoje, separados por quase 80 anos de história do cinema de Hollywood, observar conquistas apenas recentes na presença de mulheres como realizadoras e autoras de cinema reconhecidas, e de certa forma frutos da ponta de lança incrível que foi Ida Lupino.
O poderoso curador de gostos cinematográficos e historiador do cinema e crítico nova-iorquino Andrew Sarris (1928-2012) escreveu uma vez sobre Ida, “Os filmes que Ida Lupino dirigiu expressam muito dos sentimentos, mas pouco da competência que ela foi capaz de projetar de forma tão admirável como atriz”. Ele ainda enfiou a faca mais fundo e lembrou da única experiência da grande dama Lillian Gish como diretora, usando a célebre frase de Gish na época para insinuar uma sensação acerca de toda a obra de Lupino: “Dirigir um filme não é serviço para uma dama”…
Felizes de poder programar no Cinema do IMS uma revisão do cinema de Lupino, num momento talvez mais sofisticado de observação sobre os filmes do passado. Nossa seleção inclui os seis longas-metragens e alguns dos trabalhos que Lupino fez para a TV como a profissional do audiovisual pioneira que foi.