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Yõg ãtak: meu pai, Kaiowá, uma carta

02 de julho de 2025

de: Sueli Maxakali
para: Luiz Kaiowá
data: 13 de jun. de 2025

Ugnõy iga õm te ãtãm te kax nã nun 

Meu irmão, choca-listrada está vindo cantando

Ugnõy iga õm te ãtãm te kax nã nun 

Meu irmão, choca-listrada está vindo cantando

E yã hãmnãg xeka um pip um yi ãtãm te kax na nun

Por acaso aqui tem mata grande para choca-listrada vir cantando?

E yã hãmnãg xeka um pip um yi ãtãm te kax na nun

Por acaso aqui tem mata grande para choca-listrada vir cantando?

Pumi ã nũ mõg ax nũhũ 

Vamos ver o que é

Pumi ã nũ mõg ax nũhũ 

Vamos ver o que é

Ũg tu ã yĩka tap puyĩ yũmũg pe nũn

Por que não trouxe sua esposa?

Ũg tu ã yĩka tap puyĩ yũmũg pe nũn

Por que não trouxe sua esposa?

Tu ãtex xaxok hok hãmpuk ũm xup ax hok ũm 

Queria chupar mel sem ela ver

Tu ãtex xaxok hok hãmpuk ũm xup ax hok ũm 

Queria chupar mel sem ela ver

à yõg ĩy xe ĩy nut 

Fiquei com vergonha

à yõg ĩy xe ĩy nut 

Fiquei com vergonha

 

Meu pai, este é o canto de ãtãm que você ganhou quando viveu por aqui, nas nossas terras Maxakali. Ãtãm, choca-listrada. Este é o nome que você recebeu quando viveu aqui entre nós, assim como Kõmiy nãg, batatinha. A gente ouviu essas histórias, e por isso cantamos esse canto quando fomos visitar você.

Queria te falar, meu pai, você mora bem longe, e eu, aqui, sinto muita falta de você. Mas eu sei que você está lá na sua aldeia, que é minha aldeia também. É sua, mas como você sempre falou: é o lugar onde é meu ambá.
É aí, onde você está, é um lugar seu, o seu território.
Eu fico muito feliz também por estar aqui onde estou, na região onde era território do meu povo no passado, em Itamunheque. Minha avó contou que nossos antigos fizeram aldeias nessa região antes dos brancos invadirem e chamar de Filadélfia, depois Teófilo Otoni. E hoje nós estamos aqui.
Eu tinha muita vontade, meu pai, de conhecer o território de onde o senhor veio quando chegou pra morar aqui em Minas Gerais. Eu tinha vontade de conhecer. Hoje eu conheci a terra onde você nasceu.

E eu sei que você sabe todo o canto do milho, de todo tipo de milho, e isso me deixa muito emocionada. Porque você preservou os cantos do milho pra deixar pra meu povo Kaiowá.

Eu também queria dizer, meu pai, que mando um grande abraço pra você.
Você está bem longe, no Mato Grosso do Sul, e eu aqui em Minas, mas eu fico muito feliz de saber que o nosso filme está circulando.

Mando um abraço para as pessoas que fizeram parte do filme também: Luisa, Robertinho, Isael e as minhas primas, Michelle e Dani. Um grande abraço pra elas, cineastas lá em Mato Grosso do Sul, que é um dos dois territórios que fazem parte do meu sangue.
Fico muito feliz de ouvir que o nosso filme tá circulando e tenho muita certeza de que agora o pessoal sempre vai conhecer que nós existimos.
Como a gente fala: nós estamos aqui.
Baí!

 

O filme Yõg ãtak: meu pai, Kaiowá está em cartaz no cinema do IMS Paulista e IMS Poços em julho.