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Comunidade Cultural Quilombaque (SP)

Criada em 2005, promove a produção e a difusão da arte e da cultura, proporcionando aos moradores do bairro de Perus e região, zona noroeste de São Paulo, diferentes manifestações artístico-culturais, em especial a cultura negra. Atualmente vem trabalhando em um plano de desenvolvimento sustentável local através de um museu territorial.

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(Foto de Munique Guimarães)

Comunidade Cultural Quilombaque
Da sevirologia à construção de um território educador

A Comunidade Cultural Quilombaque, uma organização sem fins lucrativos, nasceu em 2005, por iniciativa de um grupo de jovens do bairro de Perus, que concentra um grande índice de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo, em que as maiores vítimas são os jovens e as mulheres.
Neste sentido, a Comunidade Cultural Quilombaque trabalha promovendo a produção e a difusão da arte e cultura, proporcionando aos moradores da região oportunidades culturais e de lazer, para que eles próprios consigam descobrir perspectivas empreendedoras e emancipatórias no lugar onde vivem. O envolvimento com a arte se revelou uma alternativa de enfrentamento à problemática da violência, proposta na qual rapidamente centenas de outros jovens aderiram agregando múltiplas formas de expressões artísticas e manifestações culturais, caracterizando e legitimando a missão da organização, fomentando uma rede cultural e um movimento de luta em prol de melhorias na região.

Devido aos danos proporcionados por intervenções urbanas, especulações imobiliárias e o grande acervo patrimonial existentes nesta região, inicia-se a parceria entre a Comunidade Cultural Quilombaque, o Movimento de reapropriação da fábrica de Cimento Perus e Núcleo de Estudo e da Paisagem FAU-USP na criação da TICP – Território de Interesse da Cultura e da Paisagem que tratou de apontar com linguagem técnica todas as particularidades e potencialidade deste Território.

O TICP situa-se em uma região considerada pela Unesco como Reserva da Biosfera do Cinturão Verde, que garante o equilíbrio da temperatura e torna a vida em São Paulo possível agora e no futuro; parte de seu território é preservado com grande cobertura vegetal e remanescentes nativos em parques e áreas de replantio, essa região é compreendida pelos limites administrativos dos distritos de Jaraguá, Anhanguera e Perus, regiões periféricas da cidade, que juntos possuem um grande acervo de bens patrimoniais, como a histórica Fábrica de Cimento (1923), a Ferrovia Perus Pirapora (1914), as Cavas de ouro (1600), os parques Anhanguera e Jaraguá, aldeias indígenas Guaranis (1960), o simbólico Cemitério Dom Bosco (Vala Comum-1964/1984) e o assentamento do MST, além de espaços ressignificados pelos movimentos sociais (2016).

O TICP propõe um espaço educativo, cultural e colaborativo, reconhecendo o potencial afetivo de produção de conhecimentos e experiências da população, articulando equipamentos, patrimônios culturais e naturais, lugares de memória, formas de participação, diálogos e a produção cultural local. Com isso, esse instrumento traz o reconhecimento dimensional da cidade ao lado das questões econômicas e funcionais, indo na contramão do que tradicionalmente pautam-se os modelos de planejamentos urbanos convencionais.

Em 2014, com o intuito de preservar e desenvolver adequadamente o território de modo inclusivo e sustentável, assim como a comunidade e suas histórias, o TICP foi transformado em Lei pelo Plano Diretor Estratégico (PDE) da Cidade de São Paulo como ferramenta de gestão participativa e fomento à educação cultural.

Considerando todo esse contexto houve a necessidade de criar um mecanismo em que fosse possível dar forma, articular e organizar de maneira dinâmica as lutas locais, para que essas memórias fossem acessíveis à comunidade e à população em geral.

Deste desdobramento, cria-se um museu social, o Museu Territorial de Interesse da Cultura e da Paisagem Tekoa Jopo’í, nome no idioma guarani que significa Tekoa - território e Jopo’í – lógica econômica dos povos guaranis: “Quanto mais você doa mais prestígio você tem”. O museu propõe diálogos, conecta movimentos sociais, resgata a memória da região, e divulga as lutas que acontecem no território através de mecanismos vivos de ações coletivas e incentiva a sustentabilidade local. Foram mapeados lugares de interesse da história, do afeto, do ambiente, das lutas sociais abarcados no território Perus, Anhanguera e Jaraguá. Assim dá-se os caminhos e narrativas, em forma de Trilhas Educativas que possibilitam diferentes percursos e olhares educativos e culturais por meio de seus atrativos e dinâmicas.

Mapa das trilhas do Museu Territorial Tekoa Jopo’i

 

- Trilha Jaraguá é Guarani: Para compreender a presença secular dos povos guaranis no território. A importância do Pico do Jaraguá para o desenvolvimento de São Paulo e do Brasil, este que é ponto mais alto da cidade com altitude de 1.135m, bem como a instalação do escravocrata Afonso Sardinha no território e os desdobramentos deste período.

Aldeia Guarani - Mbya. Foto de Rovena Rosa/Agência Brasil (2018).

 

Fotografia 2 e 3 - Trilha do Pai Zé e Casarão Bandeirista Afonso Sardinha – Parque Jaraguá.
Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha Ferrovia Perus – Pirapora: Trem Maria Fumaça de bitola de 60, inaugurada em 1914. Seu trajeto até Pirapora nunca foi concluído.
Os participantes irão conhecer sua história e importância desta ferrovia para a chegada da Fábrica de Cimento Perus em São Paulo, bem como o Instituto de Ferrovia Perus-Pirapora, localizada no Parque Anhanguera, onde é possível visitar um museu de trens.

Trilha Ferrovia Perus Pirapora. Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha Memória Queixadas: Preserva a memória de resistência e luta dos Queixadas, trabalhadores da 1ª fábrica de cimento do Brasil responsável pela construção de 80% de Brasília, também pela soterração dos rios do centro de São Paulo e a verticalização da cidade. Foi nessa fábrica que realizaram uma greve que durou 7 anos (1962/1969) e ficaram conhecidos como “Os Queixadas”.

Neste contexto, os participantes também conhecerão as lutas travadas pelo sindicato de Cimento, Cal e Gesso na época.

Trilha da memória Fábrica de Cimento com os estudantes da Field School.

 

Trilha da memória Fábrica de Cimento com os estudantes da Field School. Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha Ditadura Nunca Mais: Com objetivo de apoiar o trabalho de identificação das ossadas descobertas na vala clandestina do cemitério Dom Bosco. Os estudantes irão conhecer o cenário histórico e refletir sobre o regime militar ocorrido no Brasil (1964-1984). Com uma narrativa que aborda questões do Genocídio da Juventude Pobre Preta e Periférica, bem como a atuação do esquadrão de extermínio nas periferias na época.

Memorial da Vala no Cemitério Dom Bosco. Foto de Agência Queixada (2018).

 

Memorial da Vala no Cemitério Dom Bosco. Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha Agroecológica Campo e Cidade - Movimento Sem Terra (MST): Trajetória e construção do primeiro assentamento do MST da cidade de São Paulo, onde os estudantes saberão como se dão as questões das práticas agroecológicas e educação ambiental desenvolvidas pela comunidade e qual a importância deste movimento permanecer neste local.

 

Trilha Agroecológica Campo Cidade – MST Assentamento Irmã Alberta. Foto de Agência Queixada (2018).

 

Trilha Agroecológica Campo Cidade – MST Assentamento Irmã Alberta. Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha de Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos: Ao estudante será permitido compreender os processos de ocupação e gestão cultural compartilhada para resignificação dos espaços públicos ocorridos no bairro de Perus.

 

Ocupação Casa Hip Hop Perus. Foto de Agência Queixada (2018).

 

Memorial do bairro de Perus na Biblioteca Padre José de Anchieta. Foto de Agência Queixada (2018).

 

- Trilha Perusferia Grafite Galeria de Arte de Rua: Percurso da história do Hip Hop com foco no Grafite como arte e expressão de resistência através de diversas Galerias de Rua espalhadas pelo território a fim de dar cores e contextualização para os espaços públicos.

 

Trilha Perusferia Graffiti. Foto de Agência Queixada (2018).

 

Para organizar e dinamizar as Trilhas Educativas promovidas pelo Museu Territorial e apontar sobre como abordar o TICP, nasce a Agência Queixadas de Desenvolvimento Eco Cultural Turístico que oferece uma proposta pedagógica que proporciona uma experiência prático-educativa encantadora, proporcionando valores que dão conta de multidimensionalidades ao abordar as diferentes possibilidades de leitura da realidade, da cidade e de um novo fazer cultural.

A Agência Queixadas é o mecanismo que difunde a problematização trazida pelo Museu Tekoa Jopo’í de se pensar uma mudança da realidade e bem como novas possibilidades de experimentação da periferia como um manancial cultural rico de formas, cores, saberes, sabores, e o reconhecimento da alta importância de se ter conhecimento.

O objetivo da Agência Queixadas é que os moradores consigam se organizar de tal forma que os trabalhos desenvolvidos se tornem auto-sustentáveis, ao ponto de morar e trabalhar no bairro, sendo assim, Perus deixará de ser apenas mais um bairro dormitório, pois acreditamos no turismo no lazer, e na memória como forma de emancipação cultural e financeira, para isso a Agência Queixadas conta com uma rede de moradores composta por:

- Rede de Hospedagem Comunitária: Composta por uma rede de 15 casas de moradores, que se disponibilizam a dividir seu espaço cotidiano com os turistas. A rede tem capacidade de atender 60 hóspedes.

- Guias Locais: Grupo de 10 pessoas, que fazem as trilhas monitoradas. Estes guias são os moradores do território que recebem formação da Agência Queixada.

- Tradutores: Moradores que possuem fluência em inglês.

- Serviço de Alimentação: Composto por um coletivo de mulheres que desenvolvem trabalho de geração de renda através de diversos tipos de comidas; entre elas destacam-se as veganas, vegetarianas, cíclicas e orgânicas.

- Serviço de Transporte: Prestação de transporte de empresa de Perus com van, ônibus ou carro.

O turismo praticado no território define-se como “Turismo de Resistência”, por entender as complexidades de morar em um ambiente que por vezes pode parecer degradante, mas que em meio a isso tudo, conseguimos ver a beleza de suas histórias e passar para os turistas o melhor do nosso bairro. A Agência Queixadas já recebeu turistas de vários lugares do mundo, tais como: Brasil, Canadá, Holanda, África do Sul, Cabo Verde, Moçambique, Estados Unidos, Hungria, Austrália, Turquia, China, Coreia, Romênia, México, Portugal, Espanha, Nova Zelândia, Peru, Bolívia, Colômbia, Argentina, Uruguai, Japão, Venezuela, Chile, Itália, França, mostrando assim, a importância desse empreendimento inovador.

Pensar e empreender um plano de desenvolvimento local pressupunha criar circulação e fluidez com a cidade e outros centros e formas de conhecimentos impulsionando e enriquecendo ações locais. Deste processo, florescem artistas, coletivos, ações e iniciativas. Jovens constroem lideranças amadurecidas sempre  fomentando o nascimento e fortalecimento de outras, compondo assim o modo de sobrevivência e a construção de um território educador.

“Um outro mundo é possível e nós estamos fazendo”
(José Soró)

Publicado em 18/11/20

Projeto realizado a convite da área de Música e acompanhado por Bia Paes Leme, Juliano Gentile e Luiz Fernando Resende, da equipe do IMS

Mais sobre o Programa Convida
Artistas e coletivos convidados pelo IMS desenvolvem projetos durante a quarentena. Conheça os participantes:

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