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Marília Marz (SP)

Formada em arquitetura, trabalha com expografia e design gráfico. É também ilustradora e quadrinista independente, com um particular interesse por trabalhos e narrativas que apresentem e discutam o protagonismo negro e tratem da relação entre indivíduo e cidade.

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Pra onde vamos, pai?

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Tiro da saudade e do passado a força para encarar o presente e almejar o futuro, para resistir a mais esse atraso, esse isolamento, esse resguardo involuntário. Aliada a saudade, tenho também uma arma muito poderosa – minhas memórias; minhas lembranças queridas e à prova de quarentena.

Demorei muitos anos para perceber, mas meu pai é a pessoa mais otimista que conheço. “Bola pra frente”, ele sempre diz, nos momentos mais fáceis e nos mais difíceis também. Isolada, percebo como essas palavras me moldaram e, hoje, tomam conta de mim.

Apesar de ter sido executado por mim, esse é um trabalho de quatro mãos, resultado de inúmeras conversas e reflexões via WhatsApp com meu pai, sobre temas e vivências que nos unem como pai e filha negros. Aqui, tentei deixar meu perfeccionismo, vícios e regras de quadrinista e ilustradora de lado, sem me preocupar demais com estilo, materiais, cores e enquadramentos, pois para mim esse é um trabalho construído por memórias e sensações, e essas coisas não funcionam muito na base da regra.

Pra onde vamos, pai? é sobre memória, afeto, negritude e resiliência. É sobre um passado recente que se mistura e supera o presente, enquanto este insiste em complicar nossas vidas. Já faz oito meses que guardo comigo um saquinho de supermercado com os rastros e restos de tudo o que vivemos nesse lugar onde nunca imaginei que realmente estaríamos juntos um dia, Nova Iorque. A sensação de que por pouco não perdemos essa viagem me apavorou e me aliviou diversas vezes durante o isolamento, e é por isso que resolvi abrir esse saquinho e construir, através de colagens manuais e digitais, uma narrativa que nos lembre que tudo isso vai passar, pois temos muito o que viver ainda.

Hoje eu sei pra onde vamos pai, apesar de qualquer distância física ou emocional que já existiu ou que possa existir entre a gente, vamos em direção um ao outro, como sempre fizemos. Bola pra frente.

Publicado em 25/8/2020

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