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Milena Manfredini (RJ)

Cineasta, antropóloga e curadora independente. Dirigiu e roteirizou os filmes Eu Preciso Destas Palavras Escrita (2017); Camelôs (2018); Guardião dos Caminhos (2019); Cais e Mãe Celina de Xangô (ambos em processo de finalização). É idealizadora e curadora da Mostra de Cinema Narrativas Negras. Projeto voltado à pesquisa e visibilização das filmografias negras. Também exerce as funções de pesquisadora, professora e consultora no campo audiovisual.

CINEMA OFERENDA: IMAGENS EM TEMPOS DE CHEIA

Nessa gira esvaziada de presenças físicas, mas povoada de materializações outras, investigo a mim mesma e reinvento mundos possíveis sem sair do lugar. Eu, que de tanto vento y terra sou feita, tenho sentido imensa sede de mar. Logo ele que mais aguça a sede do que sacia. É ao mar que peço licença para arriar essa oferenda fílmica ao cinema – divindade a quem sou devota –; às intelectuais negras que me me antecederam e ainda hoje me ensinam; à minha Yalorixá Mãe Celina de Xangô que junto aos meus Orixás é responsável por colocar minha cabeça
em cima do pescoço; ao Cais do Valongo – meu terreiro urbano –; e a uma das minhas referências no cinema – para quem esse bilhete marítimo é destinado –, o cineasta Christopher Harris.

Os fios que compõem esse trabalho são costurados numa tríade que parte da palavra escrita para a palavra filmada e que se ancora e escoa na colagem. Este trabalho se configura na retroalimentação que compreende a inteireza de cada linguagem. “De um lado do Atlântico” é um filme água. Um filme de contato. Um filme em tempos de cheia que tem nas colagens – prática iniciada na minha adolescência – seu ponto de partida e chegada. E que ressona um mantra recém aprendido em sonho: “de muitas águas somos compostos, logo de mar também”.


Maré Cheia (2020)


Milena chamando (2020)


Yá, minha mãe (2020)


Dançando com e para (2020)


Mar de dentro (2020)

CONSIDERAÇÕES FINAIS Y ASTRAIS

Esse projeto foi gestado a partir de mergulhos no meu material de arquivo pessoal filmado no segundo semestre de 2019. Num mundo no qual que era possível abraçar e ser abraçada. A trilha sonora que acompanhou a gestação deste trabalho foram os álbuns Luar (1981) y Um Banda Um (1982) do Orixá, Mestre e meu eterno Ministro da Cultura Gilberto Gil. Responsável pela minha chegada e permanência no cinema. Se quiserem e puderem, ouçam as ressonâncias desse canto.

Para que essa oferenda fosse lançada ao mar contei com a generosa parceria dos queridos Antoine d’Artemare – diretor de fotografia y amigo que a vida e o cinema me deu –; Saulo Martins – montador y amigo desde os tempos de quando eu sonhava com o cinema na Baixada Fluminense – e Ricardo Mansur – desenhista de som y amigo-equalizador de emoções e frequências.

Mesmo na distância, vocês se fazem presentes. Gratidão IMENSA por segurarem minhas mãos mais uma vez. Espero abraçá-los demoradamente em breve.

 

“Para ressurgir das próprias cinzas uma fênix deve primeiro queimar”
Octavia Butler

DE UM LADO DO ATLÂNTICO, 2020.
Direção e roteiro: Milena Manfredini
Direção de Fotografia: Antoine d’Artemare
Montagem: Saulo Martins
Desenho de som: Ricardo Mansur
Presenças: Mãe Celina de Xangô e Companhia Tambor de Cumba
Vozes presenças: Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Grada Kilomba

Publicado em 13/7/20

Projeto realizado a convite da área de Cinema e acompanhado por Kleber Mendonça, da equipe do IMS

Mais sobre o Programa Convida
Artistas e coletivos convidados pelo IMS desenvolvem projetos durante a quarentena. Conheça os participantes:

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