Rebeca Carapiá (BA)

É aqui sim, eu sei. Tenho visto do alto uma poeira fina
Correndo atrás de alguns pés lá embaixo.

Lembra daquele barulho que vinha do telhado?
Aquela goteira que pingava em cima do saco plástico enrolado nos pés?
Ela me visitou num sonho hoje, disse para eu não sentir saudade
Ela mesma já não está mais lá,
e mesmo que eu volte não nos encontraremos mais.

Dias atrás encontrei pessoalmente o silêncio
escondido atrás da porta, ficou.
Baixou o volume dos dias barulhentos.

Duas águas escorrem perto de mim, uma nos pés e outra na cabeça
a dos canos que ficam presos no teto
é uma água suja, dejetos dos bichos falocentrados de sempre.
A de minha chegada é água de ladeira, dá pra ver ela descendo quando chove
Será que a minha gota de cabeça escorre por lá?

Encontrei ela na rua outro dia,
Na primeira palavra que tentou fazer a curva
já apontou um grito desarticulando a sequência de palavras.
Em uma frase com 48 letras, disse:
Quem vai dar emprego a uma mulher de 50 anos, minha filha? Acorde!

Eu ainda dormindo,
vi que a paisagem da vista tinha mais céu do que telhado
que a ferrugem também andava por outros lugares.
Sem ácido e sem motivo, descansa na brisa do salitre.
Sem deixar de ser morte.

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