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Roger Cipó (SP)

Roger Cipó nasceu na periferia de Diadema e é fotógrafo, tendo como foco de trabalho o cotidiano e as celebrações das comunidades negras. Criou nas redes sociais a plataforma Olhar de um Cipó, em que documenta as religiões de matriz africana. Participou do FOTORio em 2016 com a exposição individual AFÉTO.

(Foto de Munique Costa)

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Um Eldorado para Duda e Júlia

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Um dia desses, enquanto eu explorava as luzes de sol que cortam a laje da nossa casa, Júlia se aproximou e perguntou por quantos dias mais teríamos que ficar em quarentena e o que poderemos fazer, ao final disso, para ter mais tempo para aproveitar melhor o tempo que temos juntos. No outro dia, Duda, me pegou pelas mãos, e em direção à laje, queria me mostrar o horizonte azul que segue por trás dos sobrados de tijolos alaranjados, que forma o morro do Eldorado, onde moramos na periferia de Diadema/SP.

Júlia (08) e Duda (03) são minhas sobrinhas. Com a quarentena, as aulas foram suspensas e meu trabalho em home office se intensificou. Daqui, tenho aprendido a visitar, com mais calma, o lugar que moro e, ainda que pareça clichê, observar mais beleza no silêncio e nas luzes que compõem vidas como as nossas, aqui e em tantas outras comunidades do país. As aulas que essas crianças me dão são sobre realinhamento e possibilidades de reescrever cada imagem. Em olhos frescos e cheios de vida, elas observam beleza e vida, em tudo, e eu como observador, conduzi essa série a partir das orientações e olhares compartilhados com elas, também retratadas.

Assim, nasce "Um eldorado para Duda e Júlia", uma série fotográfica sobre a sensibilidade observada do alto de uma laje, de onde eu recrio, como na mitologia, um "el dorado" para minhas crianças, em meio a uma quarentena que parece não findar. São detalhes da nossa reclusão e das luzes que sonhamos. Um respiro para transbordar outros sentimentos de levezas e sutilezas, ainda que no contraste do cinza cimento que, todos os dias, me alerta a consciência pela urgência de tudo aquilo que temos que mudar.
Talvez, o momento de reclusão esteja para me ensinar, justamente sobre como insistir nas mudanças que precisamos fazer na sociedade, sem perder de vista a delicadeza dos afetos, ao redor. Júlia e Duda são essas expressões.

 

O presente trabalho se apresenta como série fotográfica em preto e branco, produzidas entre 16 e 26 de abril de 2020, durante a quarentena e reclusão voluntária do fotógrafo Roger Cipó.
Todas as imagens foram capturadas com lente 40mm

Publicado em 6/5/20

Projeto realizado a convite da área de Fotografia e acompanhado por Sérgio Burgi, da equipe do IMS

Mais sobre o Programa Convida
Artistas e coletivos convidados pelo IMS desenvolvem projetos durante a quarentena. Conheça os participantes:

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