Slam das Minas RJ

Luz Ribeiro

Meta fora

meu texto não cabe em três minutos
minha métrica extrapola as margens

era pra ser bela
vim fera, selvagem

hei
como ser dez falando daqui da borda?
como ser dez nascendo a esquerda
game over
alguém me ouve?

apelo para o movimento corpo
catástrofe
querem metáfora?

desculpa, minha meta tá fora
do que você procura
não vou embelezar a dor
não vou embelezar a dor
não vou

me engula seca
indigesta

meu lirismo esvai
a cada beco escuro que percorro
foge por cada palmo de roupa
a mais que visto
escapa por cada não que escuto

quer poesia?
visite a academia
seus livros enfeites de instantes
eu estante
persisto

há quem duvide
mas minha palavra falada
carrega meus cortes
sem cortes, só cortes

até ontem, açoite
em diante revide

minha poesia soul eu
por isso, respeite meu tempo
respeite meu não tempo
as mãos tremulando
o falt_ _ do ar

as notas deviam ser dada só após o meu sentar

eu protelo o decorar disto
por que insisto em coagular

levei tanto
tempo
soco
_oco
_oco
_oco
para despedir

e você vem me pedir:
lirismo, feminismo, devagarismo, periguismo
sobre ismo: sou só, abismo

caio sempre
se quiser
nem sempre de pé
levanto-me quando der

daqui da borda mais funda pergunto?
como ser dez ponta de adaga?
como ser tez sem metáfora
como ser _ sem lirismo

não espere muito de mim
mas espere
até eu preciso me reinventar
para acreditar em mim