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Contraste

Exposição Entre nós: 10 anos da Bolsa ZUM/IMS

Aline Motta (Niterói, RJ, 1974)

A água é uma máquina do tempo (Jogo da memória). Boneco de livro, 2020.

A água é uma máquina do tempo. São Paulo: Círculo de Poemas, 2022.

A água é uma máquina do tempo, 2018-2023
Audiovisual, 1’
Coleção da artista

Originalmente intitulado Jogo da memória, este boneco de livro deu origem ao livro comercial A água é uma máquina do tempo, lançado em 2022. Nele, a artista multimídia trabalha entre arquivo e fabulação para criar um caleidoscópio que trata de sua linhagem familiar, permeada pelo luto por sua mãe, enquanto atravessa a história da violência colonial brasileira.

Entendido com uma única e complexa pesquisa, o projeto desdobra-se em escrita, fotografia, vídeo e performance. Utilizando a água como metáfora e elemento primordial de transmissão de memórias e ensinamentos, Motta entrelaça as diferentes linguagens, fazendo do tempo uma condição espiralar: a filha é ancestral da mãe, o passado impõe-se diante do futuro, alterando-o e também sendo por ele modificado.

A artista molda materialmente a memória com a mesma fluidez. O uso da poesia e dos espaços em branco nas páginas jogam com as tradições orais de cantigas e contações de histórias, enquanto as imagens de arquivos públicos e pessoais são compostas por reflexos, transparências, espelhos e sobreposições – distorções físicas que informam sobre um passado coletivo permeado por falhas, lacunas e apagamentos.
(Daniele Queiroz) Bolsa ZUM/IMS 2018

Depoimento

 

Transcrição do depoimento

Olá, meu nome é Aline Motta, sou artista visual. Eu estou apresentando o trabalho A água é uma máquina do tempo nesta exposição dos contemplados da Bolsa ZUM. Eu comecei esse projeto em 2018, que foi o ano em que eu fui contemplada, e nessa época o projeto, ele tinha um outro nome, que era Jogo da memória, e depois de alguns anos trabalhando com os temas desse projeto, ele começou a se chamar A água é uma máquina do tempo. Esse projeto, ele tem um vídeo, um livro que foi lançado, um livro de ficção que foi lançado pela editora Fósforo e a Luna Parque Edições dentro do círculo de poemas. Esse livro está à disposição, em exibição nesta exposição, ele foi lançado em 2022, também tem uma performance: essa performance, na verdade, é uma leitura performativa de trechos do livro e, atrás de mim, normalmente eu faço um vídeo mapping e existe um vídeo que acompanha essa minha leitura, e é um vídeo diferente do vídeo desse projeto. Então já são muitos anos fazendo essa pesquisa, é uma pesquisa, também como outros projetos meus, que tem muito a ver com a minha família, principalmente as mulheres da minha família. Eu já estou pesquisando esse assunto há muitos anos, e nesse trabalho eu estou focando na Ambrosina, minha tataravó, que era baiana e que veio nessa leva de baianos pro Rio de Janeiro no final do século 19. Eu encontrei documentos sobre ela, o seu atestado de óbito, anúncios fúnebres no jornal, e a partir dessa documentação eu fui juntando vários pontos sobre a sua história. Também esse trabalho faz referência ao conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, por uma série de coincidências que ligam a história da Ambrosina à história desse conto, e também fala sobre o falecimento da minha mãe, que foi em 2011, fala um pouco da nossa relação como mãe e filha, fala das minhas experiências com 5 anos de idade e fazendo parte de um... sendo fruto de um casamento inter-racial e as consequências disso para minha infância e como isso me afetou. Então realmente são muitos fragmentos, e eu estou apresentando nesta exposição um desses fragmentos. No caso, é um retroprojetor, eu comprei um retroprojetor, eu imagino que deve ter sido em 2019, e eu comecei a fazer várias experiências com ele. Então faz parte do livro, desse livro inicial que se chamava Jogo da memória, que foi entregue como o trabalho da Bolsa ZUM, que também está exposto na exposição, tem várias fotografias, experiências usando esse retroprojetor. Então ele se conecta com o trabalho que eu acabei de fazer, agora em 2023, especialmente pra esta exposição, que é essa projeção na mesa de vidro do retroprojetor e o reflexo invertido da parede. Essas fotografias que aparecem são todas fotografias 3 x 4 da minha mãe, e eu estou tentando organizá-las de alguma forma com as minhas mãos, e eu estou com esses punhos de renda, que é um figurino também que eu criei e que faz parte do vídeo, faz parte da performance, faz parte do livro, e eu estou tentando reorganizar essas imagens e reorganizar essas memórias.

A carioca Aline Motta une audiovisual, fotografia e texto em um livro de artista para tratar de relações familiares e, ao mesmo tempo, coletivas. A artista apresenta seu projeto de longa duração A água é uma máquina do tempo, que contou com o apoio da Bolsa ZUM/IMS, para tratar dos apagamentos e memórias que acompanham as travessias atlânticas de pessoas e famílias negras.